Roda de tereré em igreja acolhe a todos e tenta apagar cicatrizes das religiões – Por Thailla Torres
Pela primeira vez no
oratório da Capela da Inclusão, que integra a Missão da Igreja Episcopal
Anglicana do Brasil em Campo Grande, uma Roda de Tereré da Inclusividade é
aberta para falar de sexualidade.
O termo chegou para identificar a comunidade
religiosa que acolhe e aceita a todos. Na roda, são colocados em discussões
assuntos do cotidiano e um debate com proposito de acolher e ajudar aqueles que
em algum momento da vida tiveram cicatrizes por conta das imposições
religiosas.
A congregação, que mostra
publicamente o apoio aos homossexuais, também deixa claro que recebe qualquer
pessoa, independente de denominação religiosa. A reunião recebeu inclusive
ateus, para dividir o que sofre alguém que vai contra regras das igrejas.
O frei Alexandre Bruno, de 27
anos, explica que é uma iniciativa para as pessoas conhecerem a comunidade e
levantar questões importantes como política, igualdade, gênero e,
principalmente, respeito à sociedade como um todo. A escolha do tereré foi pela
cultura que costuma reunir pessoas e confraternizar.
"A inclusividade de
fato acontece quando todos encontram o seu lugar. E é nessa perspectiva que a
gente fez essa abertura junto com o tereré, a partir de um bate-papo, para de
fato mostrar que a igreja deve aceitar todo mundo", explica.
A Igreja chegou na comunidade em
2016 e há 6 anos está ligada a trabalhos sociais com pessoas em situações de
vulnerabilidade.
"Nosso foco é a família em sua totalidade, não importa o
gênero. A gente sabe que esses debates são muito extensos, mas nós
acolhemos as pessoas justamente para explicar o cristianismo e a sua essência
que é o amor de Jesus. Pois o resto é tudo invenção do homem", diz o frei.
Lesli Lidiane Ledesma, de 31
anos, é assistente social, cristã e decidiu conhecer a comunidade graças a um
grupo de amigos.
"Achei importante para buscar incluir determinados
grupos que não se sentem incluídoscom outras formas de
religiosidade, e isso propõe discussões que estão voltadas a trocas de
experiências, formação e o que as pessoas estão buscando", explica.
Ela acha a proposta da comunidade
positiva por mostrar que inclusão tem a ver com informação. "Aqui a gente
tem a oportunidade de ver todos os lados, de discutir e conversar de todos os
assuntos com mais liberdade", comenta.
O psicológo Arthur Galvão Serra,
de 27 anos, é ateu e faz parte da militância LGBT. No entanto, mesmo sem a
pratica de uma denominação religiosa, ele gosta do debate.
"Uma coisa que
eu até falei para todos em minha apresentação é que a religião ela tem um papel
importante na sociedade. O que me chama atenção é a diversidade de
trajetórias e posicionamentos", comenta.
Ele acredita que a roda é uma
forma de colocar pessoas a pensar em assuntos que muitas vezes são deixados de
lado pelas próprias doutrinas, como por exemplo a política.
"Fico
interessado em estar lado a lado de determinados movimentos e
o questionamento mais interessante é o de política. Algumas religiões se
eximem dessas questões e falar de uma vida melhor para o povo soa
como partidário, mas não é, a ideia é tentar incluir pessoas que estão alheias
a esses assuntos", diz.
O tereré da
"inclusividade" deu certo e a igreja pretende realizar o evento todo
mês, em diversas regiões da cidade, para que a comunidade tenha acesso, sempre
reforçando o respeito a todos.
"Se nós não seguirmos o evangelho, nós não
vamos alcançar a plenitude. Muitas igrejas não seguem, porque se seguissem,
saberiam respeitar as diferenças", finaliza o frei.
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