Diálogo aberto e respeitoso marca palestra sobre Neurociência e Religião/RS
No mesmo auditório, o InsCer
reuniu hoje, no fechamento do evento 4 anos em 4 dias, católicos, evangélicos,
agnósticos e ateus, ouvindo atentamente a um neurocientista e a um Padre e
filósofo. Não consegue imaginar essa cena?
Pois ela aconteceu e, durante duas
horas, levantou conversas produtivas e muito respeitosas entre a plateia lotada
e os professores doutores Jaderson Costa da Costa, diretor do InsCer e Érico J.
Hammes, da Escola de Humanidades da PUCRS, durante a palestra sobre
neurociência e religião. A atividade fechou quatro dias intensos de palestras
sobre diversos temas.
A fala inicial foi a de Jaderson,
comentando que o termo religião, nesse contexto, pode ser trocado por
espiritualidade e transcendência e que navega com a neurociência, sem necessariamente
que uma explique a outra. Em relação à transcendência, o pesquisador explicou
aos presentes sobre a condição de ser e existir.
“Estamos falando de transpor
fronteiras a partir do livre arbítrio”. Jaderson citou que ao buscar os termos
juntos em publicações da área médica, poucos resultados são retornados. Segundo
ele, os estudos precisam ser cada vez mais presentes, como o que apresentou à
plateia.
A pesquisa mostra que a prática religiosa ou a espiritualidade,
citando a meditação secular e meditação com orientação espiritual, tem
potencial para reduzir sintomas de ansiedade e depressão.
“Além disso, essa
prática promove o aumento de resiliência e empatia, melhorando o bem-estar”,
completou. Jaderson também apresentou imagens de exames de neuroimagem durante
a meditação, que mostra ativação nos lobos frontais cerebrais.
De acordo com ele, o que ocorre
com a meditação ocorre com a oração: a oração é uma forma especial de
meditação. Para ele, quando falamos em transcendência e espiritualidade,
encontramos essas expressões no cérebro.
“Com isso, não estamos procurando
justificar que o cérebro é religioso, nem encontrando residência de Deus, mas a
ciência está mostrando que ocorrem até modificações estruturais no cérebro
durante os processos de meditação e reflexão”.
Na segunda parte da atividade, o
Padre Érico J. Hammes ressaltou que a religião não é como um implante, que
alguns têm e outros não têm.
“Assim como temos aptidões para matemática,
relações sociais, todo ser humano tem certa aptidão menor ou maior para
determinados aspectos da vida”.
Para ele, o princípio da complexidade é
fundamental no nosso aprendizado como seres humanos. Ele levantou alguns
conceitos sobre teorias a respeito da relação mente e corpo e que sua teoria
aponta para o fato de que dependemos do cérebro, mas a mente dele se distingue.
“Ainda existe algo a mais, algo que não sabemos explicar, algo transcendente”.
Hammes acrescentou que a respeito
da relação com a religião, o cérebro é um órgão social que depende de
influências recebidas e que esses aspectos culturais, em junção com aspectos
biológicos que formam o que é determinada uma biocultura. Além disso, ele ressaltou
que a palavra religião, por si só, é difícil de ser compreendida em sua
totalidade e que em alguns idiomas sequer existe. Por isso, termos como
espiritualidade e transcendência são mais bem aplicados, para explicar e sentir
algo bem maior, como a empatia.
“É capacidade de ultrapassarmos, sair de nós
mesmos e ir para o lugar de outras pessoa”, completou, afirmando que muitas
religiões ou crenças já começam a se fundir, promovendo conexões.
“Religião é
um sistema cultural. Posso chamar de Deus de Alá, Tupã, Adonai, o modo do
desígnio religioso é um fenômeno da cultura”.
Ao responder questões à plateia,
que estava impressionada com o debate aberto, Hammes afirmou que devemos lutar
contra instituições religiosas que doutrinam em detrimento do ser humano.
“Devemos
ser contrários ao fanatismo. Inclusive já li obras que falam sobre
espiritualidade para ateus, o que é muito interessante”.
A esse comentário,
Jaderson lembrou que o cérebro não fez distinção sobre meditação e oração,
portanto, organicamente, não se trata de crença mas do momento de
espiritualidade.
Fonte: http://inscer.pucrs.br
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