Estudante mariliense pesquisa sobre a religião Jedi
O jediismo congrega pessoas adeptas do “modo de vida Jedi” do filme Star Wars
Você pode até não gostar de cinema e nunca ter assistido a algum filme da série “Guerra nas Estrelas” (Star Wars). Mas imagine um campo de energia chamado “Força” que cerca, envolve e penetra tudo, unindo o nosso mundo. Existem dois lados dessa energia. Um deles é o lado luminoso ou bom, que gera a paz, a serenidade e o conhecimento, enquanto que o lado sombrio irradia a agressão, a raiva e o medo. Essa idéia lhe parece familiar?... Isso ocorre porque suas estruturas mentais já estão acostumadas com a dicotomia “bem e mal”, “luz e escuridão”, “paz e guerra”, “amor e ódio”, “serenidade e raiva”. Tais oposições estão presentes em quase todas as grandes religiões, desde o judaísmo, cristianismo, passando pelo Islã até o budismo e os cultos hindus. Também fazem parte de um novíssimo movimento religioso que está sendo estudado pelo mariliense Mauro Thiago da Silva Giovanetti, 26, aluno da Unesp/Marília (Universidade Estadual Paulista): o jediismo.
Culto à ficção
O jediismo ou jedaísmo, apesar da escrita e da pronúncia parecidas com judaísmo, nada tem a ver com a crença dos judeus. Giovanetti explica que seu objeto de estudo nasceu a partir de uma obra de ficção do final dos anos 70: o filme Star Wars, do cineasta norte-americano George Lucas. O filme destaca a atuação dos cavaleiros Jedi, guardiões da paz e da justiça em uma galáxia fictícia e distante. De acordo com o roteiro do filme, tornar-se um Jedi requeria o mais profundo comprometimento e mente astuta. A vida de um Jedi era feita de sacrifícios. Aqueles que mostrassem aptidão para a “Força” eram levados tempos depois do nascimento para treinar no Templo Jedi em Coruscant, onde a ordem tinha seu quartel-general. Sua vida fora dos treinos era de simplicidade, aderindo ao Código Jedi que proibia materialismos ou apegos emocionais. Esse treinamento foi inicialmente feito por Jedi experientes e veneráveis até que o indivíduo tivesse proficiência suficiente para começar a jornada como Jedi.
George Lucas: o profeta
A monografia do aluno Giovanetti tem como título: “Jediismo: uma religião muito, muito verdadeira” e é orientada pela professora-doutora Claude Lepine, do Departamento de Sociologia e Antropologia da Unesp/Marília. A expressão “muito, muito” refere-se à abertura do filme Star Wars, quando uma grande legenda móvel percorre a tela com a mensagem “Há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante”. O estudante afirmou que o último censo feito no Reino Unido contabilizou mais de 390 mil adeptos da religião Jedi, o que faz do jediismo a 4ª religião da Inglaterra. Na Austrália, 70 mil pessoas se declaram jediistas, enquanto que 20 mil “converteram-se” no Canadá. “Aqui no Brasil, temos jediistas apenas nos grandes centros, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro”, disse Giovanetti, informando que não tem conhecimento de nenhum adepto em Marília. Para embasar suas pesquisas, fez contato com alguns na capital. Ele acredita que isto ocorre pelo caráter cosmopolita dos grandes centros urbanos, o que não quer dizer que não possa existir seguidores em cidades menores.
O pesquisador contou que ficou sabendo da existência do movimento religioso em 1998. “Os jediistas ingleses enxergam o cineasta George Lucas como um ‘profeta’ e a série Star Wars como uma espécie de ‘revelação’”, enfatizou. Fenômeno cultural gerou modo de vida. A obra de George Lucas causou uma revolução - a fita elevou os efeitos especiais a um padrão até então impensável de excelência, inaugurou a era dos megalançamentos nos cinemas e inventou o merchandising em larga escala de produtos associados a filmes (só com isso, movimentou nada menos do que 5 bilhões de dólares até os dias atuais). Mas não se trata apenas da série mais bem-sucedida de todos os tempos: Star Wars é, sobretudo, um fenômeno cultural que redundou em um estilo de vida, um modo de pensar e de ler o mundo. Daí à criação de uma religião, foi um curto passo.
Frase emblemática tornou-se oração
O universo de Star Wars faz com que fãs mais exaltados promovam convenções em que se fantasiam como o Mestre Yoda e a princesa Leia, entre outros personagens. Além disso, debatem cada detalhe da trama como se fosse um versículo das Escrituras. Giovanetti explicou que usa o termo “movimento religioso” ao invés de “religião” para não confundir com as grandes religiões como o cristianismo e o islamismo. “Os adeptos do jediismo buscam nos cultos uma espécie de energização, motivação e paz. Imprimem os ensinamentos retirados do filme e as palavras de personagens como o Mestre Yoda ou Obi-Wan Kenobi, por exemplo, para orientarem sua conduta”. Assim, a frase emblemática de Star Wars “Que a Força esteja com você” tornou-se uma oração para os seguidores da religião Jedi. Giovanetti pretende concluir sua monografia no final de 2009.
Fonte: http://www.diariodemarilia.com.br
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