Grandes organizações muçulmanas não participam de Conferência Islâmica em Berlim - Por Klaus Dahmann
A Conferência Islâmica começa em Berlim após longas e ferrenhas discussões sobre participação no grêmio coordenado pelo governo alemão. Duas grandes congregações muçulmanas ficam de fora.
Hoje, segunda-feira (17/05), começa a segunda etapa da Conferência Alemã Islâmica, diálogo entre representantes do Estado alemão e de organizações muçulmanas no país. Depois de quatro anos sob a coordenação do ex-ministro do Interior, Wolfgang Schäuble, o atual titular da pasta, Thomas de Maizière, tem a tarefa agora de concretizar propostas. Trata-se da formação de imãs em universidades alemãs, aulas de religião islâmica nas escolas do país, além da rejeição oficial a tendências anti-islâmicas e à islamofobia na sociedade. De um lado, participam do grêmio representantes dos governos federal, estadual e de algumas prefeituras alemãs. Do outro, associações que congregam aproximadamente 20% dos muçulmanos na Alemanha, bem como indivíduos não ligados a organizações específicas, mas que contribuem para representar a gama de opiniões dos muçulmanos que vivem no país.
Polêmica nacional
De Maizière foi responsável por ferrenhas discussões no início do ano, quando quis proibir que o Conselho Islâmico, uma das maiores congregações de muçulmanos no país, participasse da Conferência. O ministro justificou seu intuito de excluir o Conselho, permitindo apenas uma "presença silenciosa" do órgão na conferência, ao citar investigações oficiais contra uma de suas suborganizações intitulada Milli Görüs. Na última semana, Thomas de Maizière acentuou novamente sua decisão de não permitir que esta organização participe da conferência, "enquanto não estiverem encerradas as investigações da Promotoria Pública – não somente contra membros da organização – mas também sobre acusações de uso da associação para fins criminosos, como lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e outros atos ilícitos graves. Confirmo esta decisão", concluiu o ministro.
Dois grandes ausentes
O Conselho Islâmico anunciou que não aceitaria a "presença silenciosa" sugerida por De Maizière, mantendo-se completamente ausente da Conferência. Outra grande congregação, o Conselho Central dos Muçulmanos, decidiu-se também, há poucos dias, pela não participação na conferência. A decisão foi motivada pela postura do Ministério alemão do Interior de não criar um fórum extraordinário dentro da conferência, no qual representantes do governo pudessem debater somente com as organizações muçulmanas. "Isso seria abolir a base da Conferência Alemã Islâmica, por isso rejeitei também a proposta. Lamento, mas o grêmio vai se reunir sem o Conselho Central dos Muçulmanos", defendeu De Maizière.
Postura rígida
Caso a postura do governo continue assim tão rígida, será preciso que o diálogo com os muçulmanos no país passe a ocorrer fora da conferência oficial, respondeu o Conselho Central dos Muçulmanos. Aiman A. Mazyek, secretário-geral da organização, critica também o fato de De Maizière categorizar o diálogo com os muçulmanos sob o verbete "política para estrangeiros", enquanto no país vivem hoje quatro milhões de cidadãos alemães de religião muçulmana. "É claro que não fechamos a porta, mas apenas dissemos: em algum momento tem que haver um limite, não podemos continuar assim, simplesmente participando em silêncio, isso para nós é muito pouco. Queremos discutir o Islã sobre as bases da nossa Constituição, não no sentido de uma política para estrangeiros ou de integração. O Islã não deve ser categorizado dessa forma, por isso vimos nossa participação como um desperdício de tempo", analisa Mazyek.
Pouco útil
Bülent Ucar, pesquisador de OsnabrückBülent Ücar, pesquisador do Islã na cidade de Osnabrück, embora demonstre compreensão frente aos argumentos do ministro alemão do Interior, acredita que uma conferência sem as maiores congregações de muçulmanos do país poderá ter pouca utilidade. "Eu gostaria que o Conselho Islâmico e o Conselho Central dos Muçulmanos participassem. Especialmente em relação ao Conselho Islâmico há certas reservas do Departamento de Proteção à Constituição, logo, em minha opinião, faz sentido envolver essa organização. Pois é exatamente através de uma cultura da discussão e da força da palavra que se pode tentar integrar esse grupo", diz o pesquisador. Segundo desejo do ministro De Maizière, as lacunas deixadas pela ausência das duas grandes congregações foram preenchidas por representantes de muçulmanos bósnios e marroquinos.
Fonte: http://www.dw-world.de
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