O CINEMA E O SABER HISTÓRICO NA SALA DE AULA: O FILME “NARRADORES DE JAVÉ” COMO RECURSO DIDÁTICO - Por Gilberto Abreu de Oliveira
A diversidade temática existente na historiografia atinge não só as universidades, como também as escolas de educação básica. É na escola o lugar da privilegiado de disseminação do saber, que o profissional da História tem a função social que vai além da pesquisa e da compreensão do passado, é ele ainda o responsável pela formação de muitos cidadãos. Para tal façanha, cabe docente, elaborar os planejamentos, onde deverão
“[...] levar os alunos a compreender, interpretar e analisar os fatos, movimentos ou revoluções, para que melhor se situem ou ganhem consciência em relação ao que passou, no suposto freqüente de que o passado explica o presente[...]” (SILVA & ANTONACCI, 1989, p. 16),
para aprofundar as relações entre passado e presente os docentes devem-se valer de determinados recursos didáticos, além dos tradicionais livros didáticos. Cabe ao professor a partir de seus planejamentos fazer com que os alunos compreendam determinados conceitos históricos, possibilitando aos mesmos a consciência crítica diante da realidade, e com isso alguns filmes tornam-se porta de entrada ao conhecimento em História. Para este trabalho foi escolhido Narradores de Javé (2004), com direção de Eliane Caffé, que busca realizar um diálogo com questões pertinentes ao oficio do Historiador.
De início, podemos utilizar este documento em sala de aula, para elucidar as questões referentes à historiografia, que de forma instigante e cômica, nos apresenta uma versão de como se escreve a História e como se procede o Oficio do Historiador, sendo que este filme, nas palavras de Heloísa Cardoso (2008, p.2):
“[...] tem se mostrado um recurso didático importante para as discussões sobre os sentidos da história e os caminhos da construção do conhecimento histórico [...]”. Assim, para realizar um trabalho com documentos fílmicos, os profissionais da História deverão compreender determinados métodos e Técnicas específicas e ainda: “[...] aplicar esses métodos a cada substância do filme (imagens, imagens sonoras, imagens não sonorizadas), às relações entre os componentes dessas substancias; analisar no filme principalmente a narrativa, o cenário, o texto, as relações do filme com o que não é filme: o autor, a produção, o publico, a critica, o regime. [...]” (FERRO, 1975, p. 6)
Tal premissa colabora em nossa proposta, pois a relação entre Cinema e História é fundamental tanto na docência quanto na pesquisa, na função de compreender as representações nele contidas. O professor se utilizará do cinema não como meio de entretenimento, mas o fato de trazer para sala novas tecnologias demonstra a versatilidade do docente diante da utilização de tais recursos pedagógicos, mostrando aos alunos que também é possível realizar diálogos entre os filmes e o saber da sala de aula, pois é sempre necessário: “[...] Sair da rotina; organizar novas formas de interação; produzir material didático-pedagógico diferenciado; trazendo novas informações para a sala de aula e lidar com os avanços tecnológicos são apenas alguns elementos que permeiam o universo dos professores preocupados com as diferentes abordagens no ensino [...]” (CARVALHO & XAVIER, 2008, p.42)
Assim, a utilização do filme Narradores de Javé em sala de aula mostra-se de importância capital para a discussão de questões de um tempo presente, onde “[...]observa-se conflito e negociação entre interesses dos agentes sociais na construção da memória e, conseqüentemente, na conformação de identidades. Selecionar o que lembrar e o que esquecer revela o confronto das memórias[...]” (FERREIRA, 2008, p. 9), fazendo com que os alunos venham a pensar no papel da Memória enquanto construção Coletiva e refletir sobre os aspectos para a elaboração de um discurso histórico que represente uma maioria.
A figura carismática de Antônio Biá, como Escrivão de Prosa, apresenta-se como uma possível saída para uma cidade marcada pelo jogo entre lembrar e esquecer. Várias são as vozes de memória que permeiam o filme, o professor ao utilizá-lo, deverá percebê-lo não como mero atrativo, mas compreende-lo historicamente, e levar seus alunos a pensarem na importância da preservação da memória na sociedade e o papel que a História dita ‘cientifica’ exerce na consolidação e construção de uma identidade coletiva, aproximando assim os alunos com a realidade a qual estão inseridos, uma vez que, a figura da Usina Hidrelétrica que representa a chegada de um progresso, pode ser vista não só no Vale do Javé, mas por esse país a fora, colocando uma questão em pauta: seria necessário “sacrificar uns tantos pra beneficiar a maioria?”
Com isso, percebemos que a utilização de recursos audiovisuais tanto na pesquisa em História como nas aulas deve servir ao historiador/professor, como documento histórico que possui seu valor e sua historicidade. Caberá ao professor intermediar o debate e as discussões, pois ao assistir Narradores de Javé, o expectador é levado por meio das cenas cômicas e dos improvisos a parar por alguns instantes e refletir nas questões apresentadas, deixando evidentes as intenções da direção e da produção, refletindo sobre o lugar da oralidade e de suas patranhas duvidosas na sociedade contemporânea.
Tendo em vista tais apontamentos, fica aqui uma breve proposta para aqueles que têm gosto pela História, as aulas podem ser sim mais atrativas, basta planejar e pensar a priori nas questões colocadas pelos filmes escolhidos e levantar pontos de discussão com os alunos, buscando assim mostrar a eles que História não é apenas uma mera disciplina decorativa, mas pode ir além disso, exercer na sala de aula, por meio dos recursos áudios-visuais aquilo que é inerente à Clio por excelência: o estudo do homem no tempo. (Bloch, 2002)
REFERÊNCIAS
CARDOSO, Heloisa Helena Pacheco. Narradores de Javé: Histórias Imagens, Percepções. In. Fênix Revista de História e Estudos Culturais. Vol. 5 Ano. V nº. 2 Uberlândia, 2008.
CARVALHO, Jacques Elias & XAVIER, André Luiz. Cinema: Entre a Técnica e a Representação. In. ARAÚJO, Sandra Rodart; CARDOSO, Maria Abadia; CARVALHO, Jacques Elias de. (Orgs.) Oficinas de Linguagens: Experiências da Prática Docente. Uberlândia: Composer/Dionysios, 2008.
FERREIRA, Rodrigo de Almeida. Cinema-Memória: reflexões sobre a memória coletiva e o saber histórico. In. Revista Olho da História, n. 11, 2009.
FERRO, M. O Filme – uma contra-análise da sociedade? In.: NORA, P. (org). História: Novos Objetos. RJ: Francisco Alves, 1975.
SILVA, M.A. da & ANTONACCI, M. A. Vivências da Contramão – Produção de Saber Histórico e Processo de Trabalho na Escola de 1º e 2º graus. Revista Brasileira de História: São Paulo, ANPUH/Marco Zero, nº 19, p.09-28, set. 1989/fev 1990.
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