Festa do Preto Velho celebra cultura afro em Taboão/SP - Por Edimon Teixeira
No mês em que se comemora 124 anos da assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravidão do Brasil, religião, a culinária, o folclore, dentre outras manifestações culturais afro-brasileiras, fizeram parte da
14ª edição da Festa dos Pretos Velhos de Taboão da Serra
Realizada neste domingo, 20, no Cemur, no centro da cidade. Com o objetivo de homenagear a nação negra, o evento que começou por volta das 11h, reafirmou a união da Umbanda e o Candomblé no município e fortaleceu os laços religiosos da doutrina que cresce a cada ano no País.
“Todo ano é a realização de um sonho pessoal”, disse Mãe Nena D´Ogun, responsável pela organização do evento.
Os Pretos Velhos são entidades cultuadas pelas religiões afro-brasileiras, em especial a Umbanda. Sua forma idosa representa a sabedoria, o conhecimento, a fé. A sua característica de ex-escravo passa a simplicidade, humildade, a benevolência e a crença no “poder maior”, no Divino. O branco típico do Candomblé tomou conta do Cemur.
O altar fora improvisado na base do palco do auditório, e, além das imagens dos lendários Preto Velhos, oferendas, ervas, adereços diversos, dentre outros objetos típicos da cultura africana enfeitavam o templo improvisado. Uma das mais conhecidas heranças gastronômicas do povo africano, a feijoada, pôde ser degustada a preço acessível.
Elevado a Patrimônio Nacional, o “Ofício da baiana do acarajé”, seguiu por todo o evento. A iguaria à base da massa de feijão fradinho, cebola e sal, frita no azeite-de-dendê tinha vários recheios à disposição e foi a comida típica mais procurada, segundo dona Ana, que ajuda “de boa vontade” na preparação dos pratos desde a 1ª edição da festa.
Para Leila Dias, coordenadora da Coordenadoria da Igualdade Racial em Taboão da Serra, o evento foi um sucesso. “Apesar das dificuldades para sua realização, conseguimos levar adiante de modo a celebrar a cultura africana no município”, disse a militante que afirmou encontrar resistência na defesa dos princípios da etnia na cidade.
“A população e as autoridades precisam olhar com mais sensibilidade a causa negra em Taboão da Serra”, alerta a coordenadora que diz lutar neste momento pela inclusão do Dia dos Pretos Velhos no Calendário Cultural Oficial de Taboão da Serra. “Se a Mãe África é o berço da civilização, então somos todos afro-descendentes”, completa.
Apesar do governo de Taboão defender o sincretismo religioso, poucas autoridades políticas prestigiaram a festa. A vice-prefeita Márcia Regina esteve no evento, assim como o pré-candidato a vereador, Wanderely Bressan. Em clima de muito axé (palavra Yorubá que significa paz, harmonia, alegria, força), o evento findou por volta das 19h.
Diferença histórica
De acordo com os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), se comparada às cidades de Itapecerica da Serra de Embu das Artes, Taboão ocupa lugar de destaque dentre os municípios com maior população negra e lidera o ranking com 22.587 pessoas que se declararam negras no último levantamento.
Dados no município refletem a média nacional do Censo 2010, quando revelou a maioria da população ter se declarado como preta ou parda (50,7%), 6% a mais que em 2000. Apesar do crescimento da identidade negra no País, estigmas resultantes da história colonial do Brasil reafirmam o abismo social entre brancos e negros no Brasil.
Segundo os dados, a taxa de analfabetismo entre pessoas pretas ou pardas de 15 ou mais anos de idade era de 14,4% e 13,0%, respectivamente, contra 5,9% dos brancos. Essa diferença se acentua em municípios de menor porte. O analfabetismo na população preta de 15 anos ou mais chega a 27,1% nos municípios com até 5.000 habitantes.
Para o IBGE isso está ligado às diferenças de condições de vida, acesso a cuidados de saúde, à participação desigual na distribuição de rendimentos. Os rendimentos médios mensais dos brancos (R$ 1.538) e amarelos (R$ 1.574) se aproximam do dobro do valor relativo aos grupos de pretos (R$ 834), pardos (R$ 845) ou indígenas (R$ 735).
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