O desespero darwinista - Por Michelson Borges
No embalo da recente polêmica envolvendo o ensino do criacionismo nas escolas, o jornal O Estado de S. Paulo de domingo (29/4) publicou duas matérias relacionadas com o assunto.
Na primeira, “Jovens brasileiros conciliam bem ciência e religião”, é dito que “a maioria dos jovens brasileiros vive em paz com suas crenças religiosas e a ciência da teoria evolutiva. Tem fé em Deus e, ao mesmo tempo, concorda com as premissas estabelecidas por Charles Darwin mais de 150 anos atrás, de que todas as espécies da Terra – incluindo o homem – evoluíram de um ancestral comum por meio da seleção natural”.
A legenda abaixo da imagem que ilustra a matéria evidencia o esforço conciliatório do darwinismo brasileiro (consciente da força da religião em nosso país): “Futuro? Uma interpretação mais elástica das doutrinas religiosas e mais sensível à ciência.”
A reportagem explora os dados obtidos a partir de um questionário sobre religião e ciência respondido por estudantes de escolas públicas e privadas de todas as regiões do país, com média de 15 anos de idade. Se os pesquisadores mal sabem do que trata o criacionismo, o que se pode esperar desses adolescentes geralmente mal informados sobre questões científicas e/ou filosóficas?
“Ainda vamos fracionar e analisar mais profundamente as estatísticas, mas já dá para perceber que os alunos religiosos brasileiros são bem menos fundamentalistas do que se esperava”, avalia Nelio Bizzo, coordenador da pesquisa.
Nessa declaração de Bizzo, fica evidente que cada vez mais o termo pejorativo “fundamentalistas” vai sendo aplicado aos criacionistas que creem no relato literal da criação em Gênesis.
A ideia de darwinistas como Bizzo é convencer esse exército de jovens religiosos de que é possível crer sem, necessariamente, dispensar Darwin. Numa nação majoritariamente católica e de interpretação liberal da Bíblia, isso não é difícil (é bom lembrar que os donos do Estadão também são católicos e que de vez em quando é realizada uma missa nas dependências do jornal).
Uma teoria naturalista ateia
Bizzo diz ainda que “a porcentagem dos que rejeitam completamente a origem biológica do homem é menor que a de evangélicos da amostra, o que é uma surpresa, já que os evangélicos no Brasil costumam ser os mais fundamentalistas na interpretação do relato bíblico. A teoria evolutiva é talvez a coisa mais difícil de ser aceita do ponto de vista moral pelos religiosos. Mesmo assim, os dados mostram que a juventude brasileira é sensível aos produtos da ciência.”
Aqui se destacam duas coisas: (1) muitos evangélicos adotam a teologia liberal e poucos são realmente bíblicos (estes, sim, considerados “fundamentalistas”), o que mostra que cada vez mais um pequeno grupo vai se destacando como verdadeiramente criacionista; e (2) o velho esforço para associar macroevolução (metafísica) com ciência (experimental), o que não é correto.
Depois de explicar alguma coisa da teoria da evolução (e nada de explicar criacionismo nem design inteligente), o Estadão cita o físico e teólogo Eduardo Cruz, professor do Departamento de Ciência da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo:
“O problema é que a maioria dos estudantes – ainda mais com 15 anos – não tem muita clareza sobre o que está envolvido na teoria darwiniana [muito menos sobre o que está envolvido no modelo criacionista]. Com isso há o potencial de surgirem respostas contraditórias.”
Em seguida, o Estadão recorda a pesquisa nacional realizada pelo Datafolha em 2010, com 4.158 pessoas acima de 16 anos, que indicou que 59% dos brasileiros acreditam que o homem é fruto de um processo evolutivo que levou milhões de anos, porém guiado por uma divindade inteligente – ou seja, é o velho jeitinho brasileiro. Só 8% acreditam que o homem evoluiu sem interferência divina, e esses são os mais coerentes, pois entendem que, no fim das contas, o darwinismo é uma teoria naturalista ateia.
“Simples criacionistas fundamentalistas”
A segunda reportagem, “Biólogos querem reforçar ensino da evolução”, informa que, “preocupado com a maneira ‘anticientífica’ com que alguns pesquisadores vêm questionando publicamente a teoria evolutiva, um grupo de cientistas está propondo à Universidade de São Paulo a criação de um Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP) sobre Educação, Divulgação e Epistemologia da Evolução Biológica. O problema, segundo eles, é que os questionamentos não são feitos com base em argumentos científicos, mas em dogmas religiosos ‘disfarçados’ de ciência”.
“Temos assistido a alarmantes manifestações de membros da comunidade científica se posicionando publicamente a favor da perspectiva criacionista, distorcendo fatos para questionar a validade científica da evolução biológica”, justificam os pesquisadores na proposta de criação do NAP, submetida à USP no mês passado. “Tais ações visam a influenciar os currículos escolares brasileiros, por meio de polemistas que ostentam supostas credenciais científicas e utilizam argumentos pretensamente complexos extraídos de diferentes campos.”
A matéria cita o cientista brasileiro Marcos Eberlin, da Unicamp. Se o Dr. Eberlin é tido como polemista descredenciado, o que se pode esperar por parte da mídia em relação aos outros “simples criacionistas fundamentalistas”? Isso é que é exemplo de argumento ad hominem– melhor atacar a pessoa do que discutir as ideias dela.
A história parece se repetir
A matéria menciona a carta enviada à Academia Brasileira de Ciências (ABC) em março, na qual 15 membros manifestam “preocupação com a tentativa de popularização de ideias retrógradas que afrontam o método científico”, por meio da “divulgação de conceitos sem fundamentação científica por pesquisadores de reconhecido saber em outras áreas da ciência”, e admite que o alvo das críticas é o dr. Eberlin:
“O nome que não é citado nos documentos, mas que é o foco da preocupação, é o do bioquímico Marcos Eberlin, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Depois de reconhecer o currículo do cientista, o texto acrescenta um “mas”: “mas defende, no que diz respeito à evolução, uma teoria que a maioria dos cientistas considera ser de natureza puramente religiosa: a do design inteligente, segundo a qual a vida na Terra não evoluiu naturalmente, mas foi projetada e guiada por um criador.”
No meu entender, a pior distorção é esta: “Evangélico, Eberlin é adepto da linha criacionista, que rejeita a evolução biológica [o criacionismo não rejeita todosos aspectos do darwinismo]. Ele crê que todos os seres vivos foram criados por Deus da maneira como existem hoje [quando é que vão entender de uma vez por todasque criacionistas bem informados não são fixistas?]. “Não aceito a evolução porque as evidências químicas que tenho falam contra ela. É uma falácia”, disse Eberlin ao Estado. Mas o Estado não se deu ao trabalho de conhecer essas evidências.
“Estamos há 150 anos defendendo uma coisa que não é verdade”, diz ele. “Do ponto de vista molecular, a teoria simplesmente não fecha as contas. Gostando ou não, a gente tem de admitir isso”, disse Eberlin, na última de suas poucas frases publicadas na matéria. E o texto acrescenta:
“Em suas palestras, Eberlin diz que as evidências científicas corroboram perfeitamente os relatos bíblicos sobre a criação do universo e da vida, mesmo ‘quando dizem que o homem foi feito do barro’. ‘Não temos acesso a Deus, mas temos acesso à sua obra’, diz.” É realmente admirável que um cientista desse quilate tenha coragem de ir contra o mainstream científico.
Postura comparável à dos grandes pais da ciência, como Galileu e Copérnico, que foram contra a igreja oficial e a academia de sua época, ambas, curiosamente, novamente de mãos dadas contra os que seguem a Bíblia e os cientistas que pensam de modo diferente do naturalismo filosófico reinante. A história parece realmente se repetir. Só falta esse poder mancomunado outra vez acender as fogueiras contra os “hereges”.
As estratégias apoiadas pela mídia
Segundo o Estadão, “o que mais preocupa os evolucionistas é o fato de Eberlin apresentar o design inteligente como uma teoria científica válida, dizendo ter ‘provas’ de que a vida foi criada por Deus e de que a evolução biológica não é viável. Uma argumentação que, segundo [o geneticista Francisco] Salzano, dá força a segmentos religiosos que querem tornar o ensino do designinteligente obrigatório nas aulas de ciência ou cercear de alguma forma o ensino da própria evolução”.
Novamente o repórter não se dá ao trabalho de perguntar ao Dr. Eberlin que provas são essas. Mas o mais irônico de tudo é a maneira como os darwinistas e a mídia comprometida com essa visão de mundo acabam virando o jogo. Na verdade, são os darwinistas que querem impedir o ensino do criacionismo mesmo em escolas confessionais, e agora vêm dizer que são os religiosos que querem “cercear” o ensino da evolução?! Não sabem que as escolas adventistas, por exemplo, também ensinam o evolucionismo?
Mario de Pinna, do Museu de Zoologia da USP, também é citado na reportagem (você contou quantos evolucionistas foram entrevistados contra apenas um criacionista?). Para ele, é preciso melhorar muito ainda o ensino da teoria evolutiva no Brasil. “A quantidade de gente que dá aula de Biologia e não entende evolução é infelizmente muito grande”, diz.
“Precisamos de um esforço amplo de educação e divulgação para suprir essa deficiência.” Se é assim para os evolucionistas, o que se poderia dizer quanto ao criacionismo? Quantos professores estariam aptos a tratar das premissas criacionistas com precisão? Por esse e outros motivos, o ensino do criacionismo não pode mesmo ser incentivado em escolas públicas.
A despeito da intenção clara dessas duas reportagens, pelo menos para uma coisa elas servem: mostrar as estratégias darwinistas apoiadas pela mídia:
1. Procurar mostrar que evolução e religião são “compatíveis”.
2. Aprimorar o ensino da evolução nas escolas fundamentais e o preparo/doutrinação dos professores.
3. Descaracterizar as pessoas (cientistas ou não) que ensinam criacionismo e/ou design inteligente.
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