A Igreja de S. José, em Ponta Delgada, Açores, promove a partir de sábado um projeto inovador, que pretende alertar para problemas sociais graves, como a solidão ou o desemprego, através de obras de arte e manifestações culturais
"O espaço vai ser povoado por arte contemporânea, com artistas residentes.
São as obras de arte a conviver com o culto, a liturgia e a devoção",
afirmou o padre Duarte Melo, pároco de S. José, acrescentando que, "ao
passarem pela igreja para ir ver uma exposição ou uma peça de arte, as pessoas
vão também olhar para o que está no Campo de S. Francisco".
Nesse sentido, o sacerdote frisou que o projeto 'Indigências', promovido pela
Pastoral Cultural da Paróquia de S. José, pretende ser uma forma de
"chamar a atenção" para problemas sociais graves que são visíveis
todos os dias no Campo de S. Francisco, onde se situa a igreja.
"É um projeto muito abrangente, que tem uma cumplicidade no campo das
artes, no campo teológico e no campo social, sobretudo da justiça",
afirmou Duarte Melo, em declarações à Lusa, acrescentando que, durante cerca de
um ano, a Igreja de S. José terá "todos os dias" uma obra de arte
contemporânea em exposição, além de conferências, concertos, espetáculos de
teatro e de expressão corporal, entre outras iniciativas culturais.
O objetivo deste projeto é apelar à "consciência cívica" das pessoas
que se desloquem à igreja, confrontando-as com os problemas sociais que existem
no Campo de S. Francisco.
"As pessoas até poderão interrogar-se sobre a colocação de uma obra de
arte na igreja, mas a ideia principal é que pensem no que está lá fora",
frisou o pároco, referindo-se aos sem-abrigo, toxicodependentes e alcoólicos
que se encontram no Campo de S. Francisco, que considerou estarem
"remetidos para a exclusão numa zona nobre da cidade".
Duarte Melo alertou que a situação no Campo de S. Francisco tem vindo “a
piorar”, salientando que a zona está a transformar-se num "local de
referência para o convívio entre os sem-abrigo, mergulhados numa grande
solidão”.
“Podemos dar mais alguma coisa, que não se limite à distribuição de uma sopa ou
de metadona. A sociedade tem que se sentir indigente para se transformar e isso
poderá passar por uma palavra que pode transformar uma vida”, frisou.
Duarte Melo salientou, por outro lado, que este projeto pretende também
preservar o património cultural da Igreja de S. José, que está a ser
inventariado, além de divulgar a cultura e a arte através da igreja, já que
“muitas pessoas vão às igrejas, mas poucas vão aos museus, às galerias e aos
centros de cultura”.
O projeto 'Indigências' arranca sábado com a inauguração da exposição
'Kenosis', de Urbano, o lançamento do livro 'Retábulos Barrocos Micaelenses',
de Sofia de Medeiros, e um concerto com a organista Isabel Albergaria.
Fonte:Lusa [http://ww1.rtp.pt]
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