Laboratório do IP analisa religiosidade e ateísmo do ponto de vista psicológico
Como entender os fenômenos
religiosos Qual a ação da religião na psique das pessoas
Estudos do Instituto
de Psicologia (IP) da USP buscam responder questões como essas,
utilizando as abordagens da psicologia.
Desde 2000, por iniciativa do professor
Geraldo José de Paiva, o Laboratório de Psicologia Social da Religião concentra
essas pesquisas.
O grupo é formado por 12 pessoas,
todos doutores e doutorandos. Não apenas da USP. Instituições de ensino como a
PUC e o Mackenzie trabalham em pareceria para desenvolver pesquisas
concretas sobre o fenômeno religioso.
Alguns dos colaboradores do Laboratório
têm ainda formação diversa, como pós-graduação em Ciência da Religião, e
em Semiótica, que é o estudo dos sistemas de significação.
Ateus
A mais recente pesquisa do
Laboratório analisa diferenças entre religiosos e ateus. Os pontos estudados
dizem respeito aos processos de enfrentamento das dificuldades, o bem-estar
psicológico e fatores de personalidade.
O grupo busca verificar se o
enfrentamento dos problemas é influenciado pela opção religiosa; se há
correlações entre fatores de personalidade e as opções religiosas feitas por
cada indivíduo; e se o bem-estar é afetado por estas opções.
O primeiro ponto é a investigação
dos modos de enfrentamento dos problemas. Existem modos seculares e modos
religiosos de enfrentamento, mas eles não são incompatíveis. Se um religioso
está doente, ele pode ir ao médico e também ir rezar na igreja.
Da mesma
forma que um ateu, além de procurar o médico, em um momento de desespero, pode realizar
uma oração, explica. O Laboratório pretende definir quais recursos mais
utilizados e em que circunstâncias são invocados os enfrentamentos laicos e
religiosos.
Com relação à personalidade, o
Laboratório pretende verificar se há uma prevalência de facetas de
personalidade em pessoas que se dizem religiosas e em quem afirma ser ateu. O
segundo passo, segundo ele, é descobrir como isso se relaciona com a tendência
a recorrer a tendências religiosas ou seculares e como isso influi na qualidade
de vida das pessoas.
O censo mostra um aumento muito
significativo no número de pessoas que se declaram ateias e isso deve despertar interesse e ser estudado pela psicologia. Acerca da questão do bem estar o
professor explica que o assunto já foi estudado até mesmo dentro da USP.
A
pesquisa apontou que pessoas religiosas têm um maior bem estar em contraponto a
pessoas ateias, expõe o professor. Ele, porém, ressalva. O grupo de executivos
estudado na pesquisa foi bem limitado, então nós buscamos repeti-la com um
grupo mais representativo.
Segundo o professor, o ponto de partida
deste novo estudo foi a busca por uma melhor compreensão do fenômeno do
ateísmo, área pouco estudada sob o ponto de vista psicológico no Brasil. O
censo mostra um aumento muito significativo no número de pessoas que se
declaram ateias e isso deve despertar interesse e ser estudado pela psicologia,
prevê.
Crenças paranormais
Paiva conta que o Laboratório
surgiu a partir da percepção de que se tornava necessário criar um centro de
referência para estudos ligados ao tema em território nacional, já que no
Brasil, o estudo da psicologia da religião é fraco, mas existe.
O grupo realiza, além de
pesquisas inéditas, estudos baseados em pesquisas sediadas em universidades na
Europa e nos Estados Unidos, trazendo-as para a realidade brasileira. Nós as
utilizamos para verificar se os resultados obtidos em outros locais seriam os
mesmos aqui no Brasil, explica.
Um exemplo deste desenvolvimento
diz respeito a crenças paranormais espíritos, conhecimentos extra-sensoriais em
contraponto a crenças religiosas clássicas.
Tendo por base um estudo
previamente desenvolvido na Bélgica, o grupo busou examinar se em território
nacional havia uma maior união entre crenças paranormais e crenças religiosas
clássicas. O resultado pegou os pesquisadores de surpresa, como conta o
docente:
Nós achávamos que no Brasil, em
virtude da mistura entre referências religiosas de diversas origens, haveria
uma frequência muito maior com relação à junção das crenças, e isso não é
verdade.
Os que detém essa junção são
pessoas mais esotéricas. As que seguem religiões mais clássicas não realizam
essa junção, explica.
Outro trabalho realizado pelo
grupo foi um levantamento teórico-crítico de toda a produção de psicologia da
religião em periódicos científicos no Brasil de 1950 à 2000. Os trabalhos na
área eram muito esparsos, então foi uma pesquisa extensa, levamos dois anos
para conseguir terminá-lo e publicá-lo, declara Geraldo. Este trabalho é hoje
uma referência para quem quiser saber sobre as pesquisas realizadas na área no
Brasil, conclui.
Fonte: USP e
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