Universidades americanas fazem 'ofensiva' por alunos no Brasil
O Brasil receberá no fim deste
mês a maior missão de universidades americanas de todos os tempos, o mais
expressivo cortejo dessas instituições para atrair alunos brasileiros para seus
corpos discentes.
Entre 30 de agosto e 5 de
setembro, 66 universidades dos Estados Unidos participarão de feiras estudantis
em Brasília, São Paulo e Rio, dez a mais que o grupo que viajou recentemente
para a Indonésia e o Vietnã, até então a missão mais numerosa.
Recentemente alçado à posição de
6ª maior economia do planeta, com uma população de poder aquisitivo crescente,
precisando investir em qualificação da mão-de-obra e inovação, e com dinheiro
em caixa para tal objetivo, o Brasil já virou alvo da estratégia de atração de
talentos de instituições de ensino estrangeiras.
Em maio, o país recebeu uma missão de universidades canadenses, e nesta semana a prestigiosa Universidade de Oxford, na Inglaterra, enviou seu alto escalão a São Paulo para anunciar a concessão de uma nova linha de bolsas integrais financiadas com dinheiro do governo federal brasileiro.
Em maio, o país recebeu uma missão de universidades canadenses, e nesta semana a prestigiosa Universidade de Oxford, na Inglaterra, enviou seu alto escalão a São Paulo para anunciar a concessão de uma nova linha de bolsas integrais financiadas com dinheiro do governo federal brasileiro.
"Vivemos num mundo cada vez
mais interconectado e as universidades estão reconhecendo que precisam estar
engajadas internacionalmente. Quando você pensa nos países com os quais é
preciso construir um relacionamento, o Brasil entra na lista de todo
mundo", disse à BBC Brasil o subsecretário americano de Comércio dos
Estados Unidos, Francisco Sánchez, que vai liderar a missão americana.
A visita está sendo encabeçada pela agência de promoção de exportações americana porque, do ponto de vista americano, cada estudante brasileiro está comprando um serviço exportado pelos Estados Unidos.
A visita está sendo encabeçada pela agência de promoção de exportações americana porque, do ponto de vista americano, cada estudante brasileiro está comprando um serviço exportado pelos Estados Unidos.
Mas neste caso, lembra a
secretária brasileira de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, as ligações
"incorporam parcerias dos dois lados".
"Há uma convergência com o
interesse brasileiro de manter contato com sistemas educacionais competitivos
em termos de tecnologia e inovação, nosso interesse em estabelecer parcerias em
áreas prioritárias e nosso interesse em que pesquisadores brasileiros possam
ter treinamento especializado no exterior", disse a secretária à BBC
Brasil.
Abocanhando espaço
A área educacional foi a que mais
recebeu atenção durante a visita da presidente Dilma Rousseff aos Estados
Unidos em abril.
A presidente enfatizou o programa
Ciência Sem Fronteiras, cuja meta é custear 100 mil bolsas de estudo nas áreas
científicas até 2015, a maioria para estudantes e pesquisadores brasileiros no
exterior. Os Estados Unidos querem receber entre um quinto e metade desses
bolsistas.
No período letivo que começou no
outono de 2010 e terminou no verão de 2011, as universidades americanas tinham
cerca de 8,7 mil brasileiros matriculados. O número representa um aumento de
23% em relação ao número de cinco anos antes, mas tem permanecido quase
inalterado nos últimos três.
Em comparação, o número de
chineses não parou de subir: aumentou 89% em cinco anos, saltando de menos de
68 mil estudantes para quase 128 mil. Já os indianos, que um dia já
tiveram a maior presença nas universidades americanas, tiveram um aumento de
25%, para 104 mil matriculados.
"Uma razão que explica o
maior número de chineses e indianos nas nossas universidades é a questão
demográfica. Mas os programas de bolsas de estudo têm muita influência",
disse à BBC Brasil o diretor do setor internacional da Universidade do Norte do
Texas (UNT), Pieter Vermeulen.
Desde 2009, Estados Unidos e
China mantêm uma iniciativa bilateral chamada 100.000 Strong (algo como
"Fortes como 100 mil", em tradução livre), cujo objetivo é levar 100
mil alunos americanos a estudar no país asiático.
Em maio de 2011, o presidente
Barack Obama anunciou a mesma parceria para as Américas, com o objetivo de ter
100 mil alunos americanos estudando nos países latino-americanos, e mesmo
número de estudantes viajando no sentido contrário.
"Estamos nos focando no
Brasil porque esperamos que o Ciência Sem Fronteiras possibilite que mais
estudantes, que antes não podiam vir estudar nos Estados Unidos, agora
venham", disse Vermeulen.
Valor agregado
A intensa agenda educacional
responde diretamente aos esforços, no norte e no sul do continente, para
agregar valor à relação bilateral das duas principais economias hemisféricas.
As trocas entre Brasil e Estados
Unidos somaram US$ 60 bilhões em 2011 e corresponderam a cerca de 12% do total
de intercâmbios do Brasil com o mundo. Foi um valor menor que o trocado com a
China (US$ 77 bilhões).
Entretanto, por trás destes
números estão agendas comerciais bem diferentes. Enquanto a relação comercial
do Brasil com a China se baseia principalmente no comércio de commodities, com
os Estados Unidos é mais forte a presença de produtos agregados, uma tendência
que o governo brasileiro pretende estimular.
Tatiana Prazeres diz que considera os Estados Unidos como "o grande destaque da balança comercial do Brasil em 2012".
Tatiana Prazeres diz que considera os Estados Unidos como "o grande destaque da balança comercial do Brasil em 2012".
No acumulado de janeiro a julho,
as exportações do Brasil para o vizinho do norte cresceram 16%. Já somam quase
US$ 35 bilhões. Ao mesmo tempo, as exportações totais do país para o resto do
mundo registraram uma pequena queda de 1,7%.
"Em um ano marcado por uma
crise internacional aguda, em que o comércio mundial cresce num ritmo bastante
lento, esse crescimento das exportações do Brasil para os Estados Unidos é
bastante expressivo", diz a secretária de Comércio Exterior.
Mesmo excluindo-se o petróleo,
item de commodity que teve alta no mercado internacional, as demais exportações
subiram 13%.
Durante o mesmo período, o
déficit comercial do Brasil se reduziu de US$ 4,6 bilhões para US$ 2,5 bilhões,
mostrando que as exportações brasileiras, entre as quais estão manufaturados
como motores para gerar energia eólica, mantiveram seu valor.
"As exportações de produtos
de maior valor agregado para os Estados Unidos crescem e contribuem para o
resultado positivo do nosso comércio", observa.
Abrindo portas
A expectativa é de que o maior
volume de intercâmbios educacionais reforce esta dinâmica. No curto prazo, as iniciativas
reforçariam a "conta" americana de educação e treinamento, que já
estão na lista dos dez principais produtos de exportação dos Estados Unidos.
Há mais de 690 mil estudantes
estrangeiros matriculados nas universidades americanas, que contribuem com um
valor estimado em US$ 21 bilhões para a economia, entre gastos com mensalidades
e custeio de vida. Estima-se que os brasileiros contribuam com US$ 257 milhões
deste total.
Entretanto, no longo prazo os
intercâmbios têm efeitos "que vão além da questão educacional",
aponta Tatiana Prazeres.
"São parcerias científico-tecnológicas, parcerias
de negócios que se abrem, oportunidades de investimentos que surgem, enfim, é um estreitamento de vínculos e um
adensamento da relação entre os dois países."
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