Corte europeia discute expressão religiosa no trabalho - Por Aline Pinheiro
A Corte Europeia de Direitos
Humanos começa a julgar, na próxima terça-feira (4/9), se a crença religiosa de
funcionários justifica que eles descumpram regras do local onde trabalham.
O
tribunal também analisa se a religião autoriza até mesmo o descumprimento de
leis que confrontam com a fé de cada um. Os juízes europeus vão ouvir o
depoimento de quatro trabalhadores que alegam ter sido discriminados no Reino
Unido.
Os trabalhadores Nadia Eweida,
Shirley Chaplin, Lilian Ladele e Gary McFarlane não têm a mesma profissão e não
trabalham no mesmo lugar. Em comum, eles dividem a religião — o catolicismo — e
uma batalha judicial para comprovar terem sido vítimas de descriminação
religiosa no ambiente de trabalho. Na Justiça britânica, todos os quatro saíram
fracassados. Eles tentam agora convencer os juízes europeus, cada um com sua
história.
A primeira história é contada por
Nadia Eweida. Ela começou a trabalhar na companhia aérea britânica, a British
Airways, em 1999. Ficava no balcão de check in da companhia em determinado
aeroporto, atendendo os clientes que iam viajar. Tinha que usar o uniforme da
empresa: uma camisa de gola alta e gravata. Como regra, não podia exibir nenhum
outro acessório, como colares.
O traje de trabalho funcionou bem
para Nadia até 2006, quando ela decidiu exibir por cima do uniforme uma
corrente de prata com um crucifixo para poder expressar sua fé. A funcionária
rejeitou os pedidos da empresa para esconder o crucifixo por baixo da camisa e
também recusou a oferta de mudar de setor e deixar de atender clientes.
O
imbróglio lhe rendeu cinco meses de licença não remunerada, até que, em
fevereiro de 2007, a British Airways mudou suas regras e passou autorizar que
funcionários exibissem símbolos religiosos, como crucifixo. Nadia, então,
voltou ao trabalho.
A enfermeira Shirley Chaplin
também era obrigada a trabalhar de uniforme num hospital público da Inglaterra.
Ela era funcionária do lugar já há 18 anos quando houve uma mudança na
vestimenta: as blusas, que até então eram fechadas até o pescoço, foram
trocadas por outras com gola em V, deixando o crucifixo que Shirley carregava
no pescoço à mostra. Foi aí que começou o conflito.
A regra nos hospitais públicos
proíbe enfermeiras de usarem qualquer joia ou bijuteria por motivos de
segurança. O objetivo é evitar que o acessório enganche em algum paciente ou
mesmo seja puxado e machuque enfermeira e doente. Shirley recusou retirar o
crucifixo do pescoço e acabou transferida de posição para não lidar mais com os
pacientes.
Pecado da luxúria
A história de Lilian Ladele e
Gary McFarlane, que também será contada na terça-feira (4/9) para a Corte
Europeia de Direitos Humanos, é semelhante. Como católicos, os dois condenam o
homossexualismo e se recusaram a cumprir regras do trabalho e da própria lei
britânica que garantem o direito dos gays.
Lilian era escrivã de um cartório
quando entrou em vigor nova legislação britânica autorizando união civil para
pessoas do mesmo sexo. Ela se recusou a registrar uniões entre homossexuais e,
depois de responder a procedimento administrativo, recebeu o ultimato: ou
cumpria a lei e garantia o direito dos gays ou estava demitida. Acabou cedendo.
Já no caso de Gary a ameaça foi
cumprida. Ele trabalhava como psicólogo especializado em orientar casais com
problemas sexuais, mas se negava a atender pessoas que mantinham
relacionamentos gays. Depois de uma investigação administrativa, que concluiu a
interferência da religião na função de Gary, ele foi demitido.
Os quatro católicos querem que a
corte europeia reconheça que dois artigos da Convenção Europeia de Direitos
Humanos foram violados: o 9, que trata da liberdade de religião, e o 14, que
proíbe a discriminação. Os juízes europeus vão decidir, primeiro, se cabe a
eles analisarem as quatro reclamações. Ainda não há data definida para o
julgamento.
No Reino Unido, a Suprema Corte
tem em suas mãos caso semelhante aos levados à Justiça europeia. Os donos de
uma pousada querem que seja reconhecido o direito deles de impedir que gays
dividam a mesma cama dentro do estabelecimento.
Os dois são cristãos e alegam
que a crença deles só autoriza o sexo entre duas pessoas casadas. Recentemente,
eles foram condenados a pagar indenização de 3,6 mil libras (R$ 11 mil) para
dois homossexuais que foram impedidos de se hospedar num quarto com uma cama de
casal, conforme haviam pedido.
Fonte: http://www.conjur.com.br
Comentários