Entenda como funciona a terapia pela imposição das mãos

Teria a espiritualidade alguma influência no tratamento das doenças do coração? Até agora, a medicina nada comprovou. Por isso, o Instituto do Coração, em São Paulo, resolveu investigar esse mistério.

Sinal dos tempos. A consulta não é mais a mesma no maior hospital público do coração no Brasil. Uma novidade impensável até pouco tempo atrás.

"A senhora sente a presença de Deus?”, perguntou o repórter. “Sinto. E acredito muito. Isso pra mim é uma verdade", respondeu dona Dináh. Dona Dináh é uma paciente de fé. Reza diariamente e pratica o pensamento positivo. Resultado? A pressão está boa. 

Seu Osvaldo tem 73 anos, hipertensão, vista fraca, problemas no pulmão e no coração. Mas quem diz que ele desanima? "Eu acredito porque tenho fé em Deus", disse seu Osvaldo. 

A fé do cardiologista não vem somente do fato de ser um católico praticante. É que no consultório já viu o suficiente para não ter dúvidas: o que ele quer agora é a comprovação científica.

"As pessoas que têm espiritualidade, são mais aderentes ao tratamento. Tomam remédio com mais regularidade, fazem a sua dieta de uma forma mais regular, quer dizer, respeitam mais o seu corpo. Isso independente de religião. Quando eu falo espiritualidade, eu defino como a busca do sentido da vida, independe de religião. Religião é uma coisa individual, e não pode ser abordada numa pesquisa científica”, afirmou o cardiologista Roque Savioli, que é coordenador da pesquisa do INCOR/SP.

Teria a espiritualidade alguma influência no tratamento das doenças do coração? Aqui no Brasil, até agora, a medicina nada comprovou. Há quem diga que sim, há quem diga que não. Por isso, o Incor, o Instituto do Coração em São Paulo, resolveu investigar esse mistério. Um desafio que uma equipe de cardiologistas começa a enfrentar.

O grupo começou a se reunir este ano e ainda não tem um prazo para concluir o trabalho. O assunto, por mais abstrato que pareça, já não encontra resistência dentro do Incor.

"É um estudo piloto, inicial, nessa instituição e vai estudar nos pacientes idosos a influência do otimismo, da fé, no tratamento e no acompanhamento de várias doenças cardíacas. Eu acredito plenamente nesses benefícios", contou Roberto Kalil, chefe da Cardiologia do INCOR/SP.

Aos 73 anos, dona Ivone tem uma saúde de ferro e a vida bem resolvida há mais de uma década, depois da aposentadoria. Mas a estabilidade não livrou ela do stress da vida moderna. Uma insônia severa acabou com o sossego dela.

"Eu tinha assim uma necessidade de paz interior que eu não sabia o que era. Eu achei a paz, nas sessões de reiki", revelou Ivone Mori, professora aposentada.

O reiki é usado como terapia alternativa desde o surgimento no Japão, há quase um século. Através da imposição das mãos, acredita-se que é possível canalizar e transmitir a energia que está à disposição no Universo para promover o bem-estar. Quem já experimentou, diz que é tiro-e-queda.

"Eu estou mais equilibrada, com mais paciência. A ansiedade foi embora. Nem quero que ela chegue perto de mim, se ela chegar, vou procurar o reiki", contou dona Ivone.

A ansiedade era uma inimiga que a advogada Marizilda combatia com remédios de uso controlado. Um veneno. Mas era o mal necessário depois de uma crise aguda de ansiedade, com dois apagões.

"Os processos não andam, protocolos que foram feitos há 30, 40 dias, continuam inalterados, e no final do dia, depois de correr dois ou três fóruns, voltar par ao escritório e ter que passar pro cliente que não andou, não por culpa nossa, por culpa de um sistema que está parado totalmente, então, isso fica difícil", afirmou Marizilda Fábio, advogada.

Assim como dona Ivone, a advogada reencontrou a saúde através do reiki. Elas foram voluntárias em uma pesquisa da Unifesp, a Universidade Federal de São Paulo. Esta terapia foi testada no combate ao stress em pessoas com mais de 50 anos.

"Muitas vezes no término da sessão de reiki eu ainda sinto a sensação, como se a mão ainda estivesse imposta nessa região, ou muitas vezes no joelho. Tem momentos que essa energia é fria, tem momentos que essa energia é mais quente, mas sempre reparadora", disse Marizilda.

Dona Marizilda melhorou tanto que segue a terapia até hoje. "Fico agitada, fico no corre-corre dessa cidade grande que eu vivo, e da minha profissão que eu exerço, porém o equilíbrio se mantém. Eu consigo chegar em casa, dormir tranquila, sem uso nenhum de medicação", contou.

Durante a pesquisa, as sessões de reiki foram monitoradas pelo eletrofisiógrafo. É um aparelho capaz de acompanhar a evolução do relaxamento do paciente. E isso é feito com eletrodos que medem a tensão muscular, a corrente elétrica e a temperatura corporal.

"Nós temos três dados, que juntamente com outros dados, principalmente psicológicos e de investigação de qualidade de vida, que apontam que o reiki atua de maneira integral sobre a vida da pessoa", disse o fisiopatologista da Unifesp, Ricardo Monezi.

O terapeuta que trabalha com reiki há 15 anos, no hospital da Unifesp é um voluntário ajudando os médicos a pesquisar o assunto.

“Sinto essa energia em minhas mãos. Como se fosse um formigamento. Essa energia está aqui. Eu só recebo e distribuo”, contou Luis de Almeida, terapeuta.

"O que chama a atenção da Ciência é a capacidade que o corpo do ser humano tem de canalizar esse tipo de energia e transmitir a uma outra pessoa, ou seja, é como se o ser humano fosse uma usina de energia, que fosse capaz de passar alguma coisa de boa, que energisasse, alguma coisa que trouxesse um benefício não apenas ao corpo, mas sobretudo ao ser humano de uma maneira integral", ressaltou doutor Ricardo.

Ao final da pesquisa, não foi só a qualidade de vida dos voluntários que melhorou. Cresceu também a confiança no mundo espiritual: 10%, comparando as respostas antes e depois.

"Então, a espiritualidade sai do subjetivo, ela sai de alguma aura muito pessoal, pra uma coisa que nós podemos determinar com números e validar através de procedimentos científicos", disse doutor Ricardo.

A técnica da imposição de mãos também é usada como prática de fé na igreja messiânica, e o johrei é muito parecido com o reiki. A diferença é que os praticantes do johrei acreditam canalizar a luz divina, mas o objetivo é o mesmo: promover a cura do corpo e da alma.

"Nós temos muitos casos de cura, mas a cura por dentro. Do homem se elevar, de ser melhor, de ser uma pessoa melhor", afirmou Dieny Deysa, terapeuta.

Sylvio não perde uma oportunidade de agradecer à luz divina uma cura que foge dos manuais de medicina.

"Eu obtive uma paz muito grande e uma tranquilidade, e durante todo esse tempo, em razão do johrei que eu recebi, eu nunca senti absolutamente nada. Eu sempre tive uma qualidade de vida normal. Como se não tivesse doença nenhuma", destacou Sylvio Moreira, policial aposentado. E a doença era grave: um câncer de próstata com metástase óssea.

"Eu tinha focos na coluna, no fêmur, no tórax, ou seja, nos ossos todos, era generalizado. Hoje eu não tenho mais nada, graças a Deus”, disse Sylvio.

Sylvio ainda vai uma vez por mês ao hospital para as consultas de manutenção. Toma remédios para fortalecer os ossos. Mas o que faz todos os dias, religiosamente, é cultivar a fé e a vontade de viver.

"Eu acreditava que ia ser curado, embora os médicos dissessem que não havia perspectiva de cura", afirmou Sylvio.

Quem acredita no johrei diz que o ser humano é resultado das ações de todos os seus antepassados. As doenças seriam, portanto, um sinal de sofrimento de algum parente que já morreu e que ainda precisa purificar o espírito.

"O tratamento oncológico era uma vez por mês e o tratamento espiritual era diário, eu ia todos os dias à Igreja. Recebia em torno de 10 sessões por dia", contou Sylvio.

Sylvio também caprichou praticando o Sonen, a prece sagrada dos messiânicos para encaminhar o problema ao plano superior. Calcula que em 2008 chegou a fazer 30 mil orações. Rezava de manhã, à tarde e à noite. E nunca teve sintomas ou se queixou de dores. No começo deste ano, ao refazer os exames, deixou os médicos sem palavras.

"Os níveis de PSA que ele tinha em 2009 eram bastante elevados, esses níveis estão controlados hoje com o bloqueio hormonal, e é normal que a cintilografia óssea tenha uma melhora. O que é diferente é que essa cintilografia teve uma melhora muito acima do esperado. A questão é: o que o Sylvio fez em prol dele que tenha feito chegar a essa situação? Será que foi sorte? Será que a doença dele tem alguma coisa ali dentro que faz com que ela tenha sido tão bem tratada, que o tratamento tenha dado tão certo? Ou será que o Sylvio fez alguma coisa por ele, pela cabeça dele, pelo corpo dele, que tenha feito com que essa doença se tornasse mais fácil de ser tratada?", indagou o oncologista do INCA/RJ, Daniel Herchenhorn.

A espiritualidade não faz "milagre" sozinha e essa é uma certeza que não precisa de comprovação científica. O que falta descobrir é o quanto a fé contribui para o bom resultado dos tratamentos de saúde.


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