Aumenta a crença em milagres, mesmo sem a intervenção divina - Por Jarbas Aragão
A televisão pode estar levando
mais espiritualidade às pessoas que as igrejas.
Embora os índices mostrem que
cada vez mais pessoas estejam se afastando da religião organizada, um novo
estudo descobriu que cresce o número daqueles que creem em milagres.
Uma pesquisa recente, publicada
nos EUA, mostra que a crença em milagres aumentou 22% nas últimas duas décadas.
Atualmente, 55% dos americanos dizem estar certo que esses “fenômenos
sobrenaturais” ocorrem.
No geral, cerca de quatro em cada
cinco entrevistados acreditam que milagres “provavelmente” ou “certamente” irão
ocorrer, relatou o pesquisador Robert Martin, da Universidade Estadual da
Pensilvânia numa recente reunião da Associação Americana de Sociologia, em
Denver.
Ela deu bastante espaço à questão
espiritualidade nos últimos, levando o assunto para a casa de milhões de
espectadores que raramente vão à igreja. Por exemplo, ela veio ano passado ao
Brasil entrevistar o médium João de Deus, em Goiânia, e dedicou a suas
“cirurgias espirituais” um programa inteiro.
A crescente crença em milagres
parece ir contra uma cultura que experimenta rápidas mudanças tecnológicas,
onde a ciência é cada vez mais presente na vida cotidiana. Ao mesmo tempo, as
tendências acadêmicas, como o crescimento do liberalismo teológico, tendem a
lançar dúvidas sobre muitos dos relatos de milagres da Bíblia.
O pastor e teólogo Mark J. Larson
publicou um artigo recente na conceituada revista teológica Bibliotheca Sacra,
intitulado “Três Séculos de Objeções aos milagres bíblicos”, onde analisa os
argumentos contrários a uma ação divina usados pelos filósofos. Larson destaca
algumas dessas percepções ao longo dos anos.
Voltaire disse que um “milagre
seria uma violação das eternas leis imutáveis e matemáticas”. David Hume chamou
a crença em milagres de “uma ilusão supersticiosa.”
O artigo conclui que, nos
últimos 300 anos, “Os ventos intelectuais… têm soprado em direção contrária à
crença em milagres”.
O relatório de 2010 do renomado
Instituto de Pesquisas Pew revelou que 79% dos norte-americanos, acreditam em
milagres, incluindo as pessoas na faixa etária entre 18 e 29 anos.
Robert Martin analisou os dados
da pesquisa Social Survey de 1991 a 2008. Ele demonstra como a crença em
milagres cresceu nos últimos anos. Em 1991, quase 73% dos adultos diziam
acreditar que os milagres “provavelmente” existiam, em comparação com 78%, em
2008. A percentagem dos que “certamente” acreditavam em milagres subiu de 45%
(em 1991) para 55% (em 2008).
Uma descoberta surpreendente,
segundo o pesquisador, foi que, ao longo das últimas duas décadas aumentou
consideravelmente o índice entre as pessoas que não frequentam uma igreja
assiduamente. Entre os entrevistados sem nenhuma filiação religiosa, o
percentual dos que acreditam em milagres aumentou de 32% em 1991 para 42% em
2008. Para Martin, trata-se de uma “grande mudança cultural”.
O que mudou para que as pessoas
estejam experimentando esse “despertar” para a questão dos milagres, sejam eles
atribuídos a Deus ou não? Uma das possíveis respostas levantadas pela pesquisa
seria o sucesso de uma série de programas populares de televisão com temáticas
espirituais, incluindo anjos, e livros de sucesso como a série “Deixados para Trás”.
O sociólogo Kevin Dougherty da
conceituada Baylor University faz uma análise dos dados de uma pesquisa feita
pela universidade onde ele trabalha. “Ainda há um profundo interesse nas coisas
espirituais… por este ser ou força cósmica que mantém sua relevância na vida
dos indivíduos.”
Na Pesquisa Sobre Religião da
Baylor (2007), 23% dos entrevistados disseram já ter testemunhado uma cura
física milagrosa e 16% disseram que receberam uma cura milagrosa.
Nessa pesquisa, três quartos dos
entrevistados disseram ter orado a Deus para receber a cura pessoalmente, quase
90% orou para que outra pessoa fosse curada. Dougherty acredita que, embora a
sociedade pareça estar em uma “marcha uniforme para o secularismo”, alguns
aspectos religiosos não são facilmente abandonados.
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