Sete dias em outro mundo – Por Mônica Tarantino
Livro de neurocirurgião americano
sobre o que viu e sentiu durante a semana em que esteve em coma reacende
interesse pela chamada experiência de quase morte.
Quando recuperam a consciência
depois de sobreviver a traumas graves, algumas pessoas relatam o que teriam
vivenciado, como visitas a lugares desconhecidos. Chamadas de experiências de
quase morte (EQM), essas situações são estudadas por cientistas interessados
nas relações entre o cérebro e a espiritualidade e na compreensão da
consciência. É um campo polêmico, no qual há poucas certezas e muitas
hipóteses.
Na última semana, chegou às livrarias americanas um relato único
sobre o tema, escrito na primeira pessoa pelo neurocirurgião Eben Alexander
III, do Brigham & Women Hospital e da Harvard Medical School, em Boston,
nos Estados Unidos. O livro se chama: “Proof of Heaven: A Neurosurgeon’s Journey
into the Afterlife” (Prova do paraíso: a jornada de um neurocirurgião à vida
após a morte, em tradução livre). É a história de um médico que por mais de 25
anos manteve o ceticismo frente aos testemunhos de EQM de seus pacientes.
Há
quatro anos, porém, o próprio Alexander passou por uma experiência desse tipo,
o que abalou seriamente as suas convicções sobre a natureza dessas vivências.
“Não acreditava nesse fenômeno. Para mim, sempre houve boas explicações
científicas para essas viagens fora do corpo descritas por pessoas que haviam
escapado da morte”, diz o médico.
Na obra, que o médico considera
também uma resposta à descrença polida dos colegas que ouviram sua história,
Alexander detalha a odisseia transcendental que experimentou durante a semana
em que esteve em coma profundo por causa de uma forma rara de meningite
bacteriana. Em estado vegetativo e com poucas chances de se recuperar, ele
abriu os olhos no sétimo dia.
Nesse período, conta que viu e sentiu coisas
estranhas. “Enquanto meu corpo estava em coma, minha consciência viajou para
outra dimensão do universo que eu nunca sonhei que existisse”, diz. “É um novo
mundo onde somos muito mais do que nossos cérebros e corpos e a morte não é o
fim da consciência”, afirma.
Perplexo diante do que viveu, ele se questiona:
“Os principais argumentos contra as EQM sugerem que elas são resultado do mau
funcionamento do córtex (região do cérebro). No meu caso, ele não estava
funcionando. Isso está documentado por exames neurológicos.” Disponível também
em versão eletrônica, o livro de Alexander será lançado no Brasil em abril de
2013 pela Editora Sextante.
Como outras pessoas que tiveram
uma EQM, Alexander levou meses para começar a entender o que lhe sucedera. Foi
assim também com o advogado Solon Michalski, 65 anos, de Petrópolis, no Rio de
Janeiro. Aos 21 anos, ele ficou em coma por dez dias após um acidente de carro.
“Eu via meu corpo na cama do hospital e ouvia as pessoas chorando. Sentia uma
sensação de alívio crescente do desconforto que era estar preso a um corpo
machucado”, conta.
“Revi também as mancadas que dei na vida e fiquei muito
envergonhado antes de recuperar a consciência e abrir os olhos”, conta ele, que
teve depois outra EQM. “Foi durante uma cirurgia na perna. Eu via luzes da sala
de operação de um ângulo que me deu a impressão de estar colado no teto e percebi
que os médicos estavam tentando me acordar”, relata. Por mais de quatro
décadas, ele meditou sobre essas sensações, que acabaram mudando sua vida.
“Sou
uma pessoa melhor. Li muito e entendi que somos parte de um tecido universal
que está sempre se ajustando”, diz Michalski.
No Brasil, as EQM serão em breve
investigadas com critérios científicos. Um grupo de professores da Universidade
Federal de Juiz de Fora, ligado às redes internacionais de estudo sobre o tema,
está prestes a dar início a um estudo para mapear casos de quase morte em
pacientes que tiveram parada cardíaca nos hospitais da cidade.
“Serão colocadas
prateleiras acima dos leitos das UTIs e, em cima delas, figuras impressas de
fácil identificação. Tais imagens ficam a 30 centímetros do teto, onde só podem
ser vistas por alguém que esteja flutuando”, explica o psiquiatra Alexander
Moreira-Almeida, coordenador do Núcleo de Espiritualidade e Saúde da
universidade e autor de livros e artigos sobre espiritualidade e saúde. Os
pacientes serão também submetidos a testes para descartar doenças neurológicas
ou transtornos psiquiátricos.
Fonte: http://www.istoe.com.br
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