Escolhido em ritual antigo, novo papa copta enfrenta desafios modernos – Por Jon Leyne
Foi uma cerimônia excepcional. A
antiga liturgia do serviço religioso na Catedral de São Marcos, no Cairo, foi
cenário de um ritual ainda mais extraordinário. Um menino foi escolhido, levado
ao altar, e vendado. Ele então pegou um entre três pedaços de papel colocados
em um recipiente.
O papel foi mostrado à
congregação. Nele estava o nome do bispo Tawadros, que assim se converteu no
novo papa da Igreja Ortodoxa Copta do Egito. A congregação explodiu em aplausos
espontâneos.
Pode parecer uma maneira estranha
de escolher o novo líder dos quase 10 milhões de cristãos coptas do Egito – e
muitos mais espalhados pelo mundo. Mas a Igreja Copta acredita que
desta maneira se revela a mão de Deus. Esta também é a visão de Youssef Sidhom,
editor do periódico copta Watani.
"Nós mostramos três ao céu e
pedimos que escolha um deles", diz.
Mudança e tradição
O novo papa é um bispo de 60
anos. Ele estudou na Grã-Bretanha e trabalhou no Egito e em outros países. Ele
até mesmo comandou uma fábrica de medicamentos, e é um homem de ampla
experiência e um administrador reconhecido.
Apesar disso, ninguém acredita
que ele trará mudanças radicais a essa Igreja profundamente conservadora.
Um analista me disse que a única
mudança introduzida na Igreja nos últimos anos foi a aceitação do uso de
cadeiras, um ato de misericórdia, já que os cultos religiosos podem se estender
por quatro ou cinco horas.
A antiga liturgia ainda é
realizada no idioma copta, pouco compreendido pela maioria dos egípcios. Na saída de uma celebração
religiosa em uma igreja do Cairo nesta semana, os membros da congregação se
uniam na oposição a qualquer ideia de mudança.
"Esta é uma Igreja
tradicional", disse Nader.
"Nós gostamos do jeito que
está, nós realmente gostamos desta maneira", afirmou Miriam.
Transformação
No entanto, o novo papa terá de
lidar com um Egito em rápida transformação e uma comunidade ansiosa sobre seu
próprio papel nessas mudanças.
O papa Shenouda 3°, morto em março
deste ano, era um papa muito político. Teve problemas com o presidente Anwar
al-Sadat, sendo forçado a um auto-exílio internamente durante muitos anos.
Depois, formou uma forte aliança
com o então presidente Hosni Mubarak, acreditando que esta era a melhor maneira
de proteger os cristãos do Egito.
Muitos líderes coptas acreditam
que agora o novo papa deveria desempenhar um papel menos político. Ativistas
como Michael Munir esperam que os coptas possam ter suas vozes ouvidas ao
ganhar mais assentos no Parlamento agora eleito democraticamente.
O novo papa, porém, talvez deva
deixar claro imediatamente seu ponto de vista sobre o tamanho do papel que a
lei islâmica, a Sharia, deve desempenhar na nova Constituição atualmente em
negociação.
Também terá de abrandar os
temores de que os coptas podem ser deixados de lado nos empregos do governo e
mesmo de que novos confrontos sectários possam eclodir.
Problemas
Após a euforia com a revolução
que tirou Mubarak do poder no ano passado, os coptas estão nervosos. Como todos
os egípcios, estão sofrendo com a situação econômica difícil. Viram a Irmandade Muçulmana
chegar ao poder e políticos islâmicos linha-dura pressionarem por medidas
radicais.
Esta também é uma época de
oportunidades para o Egito. O país tem um vasto potencial a ser explorado – se
a economia e a educação começarem a ser reformadas.
E até agora os piores temores dos
cristãos coptas do Egito não se materializaram. Eles esperam agora que um novo
papa possa liderá-los rumo a um futuro de segurança neste país que está sendo
reconstruído e transformado.
Fonte: http://www.bbc.co.uk
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