Missão, espiritualidade e midiatização da religião em ambientes digitais
Em palestra conclusiva no
Seminário:
“Novas tecnologias, novas relações na vida consagrada: desafios
culturais e perspectivas”
o jornalista, mestre e doutorando em Ciências da
Comunicação, Moisés Sbardelotto, discorreu a temática da missão,
espiritualidade e a midiatização da religião nos ambientes digitais como possibilidade
de provocação e de fomentação do diálogo para a missão.
Segundo Moisés, vivemos uma
mudança de era, entramos em uma extraordinária era da comunicação a partir de
um dispositivo revolucionário. Esse instrumento individual, portátil, se
tornará ubíquo e, segundo alguns, seus partidários, irá aproximar as pessoas
permitindo o intercâmbio e a difusão da cultura, do conhecimento científico,
permitindo o exercício da razão e da imaginação.
Mas para outros, segundo o
pesquisador, que têm mais reservas, irá encerrar as pessoas em uma bolha da
informação, irá criar exclusões entre os que sabem e os que não sabem usá-la.
Irá criar exclusões entre os que podem e os que não podem comprá-la. E, além
disso, a maior parte das informações que ela transmite são em uma única língua.
Pode ser um veículo de pornografia. Pode ser um veículo para eludir as
instituições. Portanto, é preciso controlá-lo, regulá-lo, provoca Moisés.
Igreja e comunicação
O
pesquisador lembra o posicionamento do papa Pio XII em 1934: “A Igreja ama e
favorece os progressos humanos. É inegável que o progresso técnico vem de Deus,
e portanto pode e deve conduzir a Deus”. E ainda, Bento XVI, 2009: “A técnica
[...] é um dado profundamente humano, ligado à autonomia e à liberdade do
homem. [Na técnica], o ser humano reconhece-se a si mesmo e realiza a própria
humanidade”.
A instrução pastoral,
Vaticano II, Communio et Progressio, en fala: “Cristo manifestou-se como o
perfeito Comunicador”. De acordo com o pesquisador toda a pessoa de Jesus
Cristo é a Comunicação do Pai. Jesus não comunicou apenas uma mensagem.
O palestrante lembra Nelle
Morton que afirma: “No princípio, era o Ouvido. Antes de falar, vem a
disposição de ouvir. É uma inversão completa da sequência habitual na
comunicação, pois o ouvinte, e não o falante, tem o poder de iniciá-la. Essa é
a maneira de Deus ser”.
Realidade
Moisés
Sbardelotto trouxe alguns fragmentos de sua pesquisa acadêmica, uma conversa
entre um fiel e um sacerdote que atua nas mídias:
“Moro longe da igreja 85
quilômetro, assisto a Santa Missa todo domingo pela TV Aparecida, gostaria de
participar da santa Missa todo dia mas é impossível. Então comprei um pacote de
hóstias e um litro de vinho. Coloco 5 hóstias para mim, meus pais e avós e uma
tacinha com um pouquinho de vinho e uma gota de água, oferecendo este
sacrifício junto com o celebrante da TV. Gostaria de saber se o meu sacrifício
é valido e se pela fé a nossa hóstia também se transforma no Santíssimo
Sacramento como a da TV. Nós nos confessamos e temos o maior respeito e carinho
com a nossa celebração em casa, com sanguíneo, corporal e muito respeito e fé”.
O pesquisador apresenta a resposta do
sacerdote: “Caro amigo, comoveu-me seu depoimento. Você simplesmente está
experimentando o que os primeiros cristãos faziam. A Eucaristia, nos primeiros
séculos era mais ou menos como vocês estão fazendo. (…). Só tem uma coisa: é
que o gesto de vocês é realmente apenas uma memória, e a eucaristia celebrada
na comunidade, com o ministro consagrado, sacerdote, é memória e presença. Ou seja, falando claro, vocês
vivem uma representação, na fé, muito bonita e louvável, mas não comungam
sacramentalmente. Comungam sim, espiritualmente, com toda a comunidade dos
cristãos que celebram a eucaristia da tradição apostólica, de Pedro, dos doze,
e dos bispos e sacerdotes consagrados. Mas, estou certo, vocês estão
antecipando a Igreja do futuro. Só Deus sabe… só quem viver vai ver”.
E o sacerdote continua sua
fala ao fiel que o acompanha pela mídia: “Misteriosamente a nossa Igreja dá
passos seguros e lentos para estas coisas. Mas poderia acompanhar melhor o
‘sinal dos tempos’. Hoje em dia até operações delicadas são feitas através da TV…
da Internet… Enquanto não tivermos a
humildade de aceitar as mediações da técnica, estaremos sempre a reboque da
história. E a história hoje progride cinquenta anos em um ano. Gostaria de
continuar este papo, pois acho que vocês realmente estão abrindo uma esperança
de sacramentalidade diferente nos estilos mas igualzinho na essência”.
Experiência religiosa
online – Moisés traz a questão das midiamorfoses da fé:
- Novas temporalidades
- Novas espacialidades
- Novas materialidades
- Novas discursividades
- Novas ritualidades
- Novas temporalidades
- Lógica da velocidade
- Expectativa de onitemporalidade e de imediaticidade (comodidade e praticidade…)
- Microinstantes, “átomos temporais”
- “Emergência das pessoas”
- Novas espacialidades
- Lógica da condensação
- Telepresença x antipresença (bilocação?)
- Templo – “recinto reservado” aos iniciados, “centro do mundo”
- “Ao alcance de um clique”
- Novas materialidades
- Lógica da complexificação
- Códigos fluidos, suaves – bits e pixels
- Reintermediações
- Transparência da técnica
- Corpo como “coprocessador” – sensorium
- “Se Deus é bit, então o bit é Deus” (e o bit é oco…)
- ‘Multirrelacionalidade da informação”
- Novas materialidades
- Lógica da complexificação
- Códigos fluidos, suaves – bits e pixels
- Reintermediações
- Transparência da técnica
- Corpo como “coprocessador” – sensorium
- “Se Deus é bit, então o bit é Deus” (e o bit é oco…)
- ‘Multirrelacionalidade da informação”
- Novas ritualidades
- Lógica da seleção
- “Liturgia digital”
- Religiosidade algorítmica
- Autonomia regulada
- Nova sacramentalidade (avançao da negação da disciplina dos sacramentos)
- “Beco dialético sem saída”
- Bit
- Redução por excelência
- “Nada pode ser menor”
- Sagrado
- Superação por excelência
“Nada pode ser maior”
Segundo o pesquisador, o
sagrado, em sua “encarnação em bits”, ganha sentido e se complexifica nas
interações com o fiel, que são totalmente livres, íntimas, misteriosas – algo
ocorre, é algo sagrado. Na mediação do
sistema, há possibilidades e impossibilidades, facetas do sagrado (de religiosidade,
de religião, de Igreja…) que mais se manifestam, e outras que se manifestam
menos, experiências religiosas que são fomentadas, e outras que não o são: por
limitações impostas ao sistema pelas escolhas do programador.
Moíses Sbardelotto, lembra
a afirmação de Mary Hubt que ressalta ser a linguagem sobre Deus uma das mais
difíceis e perigosas com que trabalhar, porque pode resultar em estruturas
opressivas ou ser um trampolim para a libertação. […] As pessoas que usam a
linguagem de Deus vão moldar o mundo com ela. O pesquisador traz à discussão,
também, a fala de Jean-Louis Schlegel
que ressalta ser bom escutar a
Palavra de Deus e anunciá-la da melhor forma possível [...]; mas é ainda mais
importante tentar colocá-la em prática. Nesse aspecto, não mudou o status da
verdade – a relação entre um dizer e um fazer.
Fonte: http://crbnacional.org.br
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