Um imenso Portugal - Por Carlos Haag
Como um pequeno país com menos de
90 mil quilômetros quadrados marcou sua presença em cinco continentes, em
regiões como África, Japão, China, Índia e Brasil? Nenhum império europeu
colonial moderno foi tão duradouro e amplo.
Portugal foi o primeiro
construtor de um império global (embora os portugueses se denominassem reino, e
não império, como os espanhóis), que sobreviveu em grande parte até meados dos
anos 1970, tendo Macau retornado à China apenas em 1999.
“O sucesso deve-se a inovações
que fogem a qualquer modelo. A relação pioneira entre centro e periferia foi
marcada pela flexibilização do poder pelas elites locais, sem que Lisboa
deixasse de ser o polo irradiador da autoridade. Bastante inovador foi também o
uso da religião para a criação da unidade imperial”, explica a historiadora
Laura de Mello e Souza, da Universidade de São Paulo (USP), coordenadora do
Projeto Temático “Dimensões do Império Português”, financiado pela FAPESP.
O objetivo da pesquisa, que já
rendeu livros como: O governo dos povos (Alameda), Contextos missionários:
religião e política no Império Português (Hucitec) e O império por escrito
(Alameda), era rediscutir o conceito de antigo sistema colonial e ver se ainda
tinha operacionalidade ante as novidades que a pesquisa histórica tinha
trazido.
O estudo gerou cerca de 30
trabalhos acadêmicos, entre dissertações de mestrado e teses de doutorado, e
foi dividido em núcleos de pesquisadores para melhor analisar as dimensões
políticas, econômicas, culturais e religiosas do Império Português, revelando
um quadro complexo e pleno de diversidades em que, diz Mello e Souza, “se
percebe o múltiplo no uno”.
“Visões consagradas de uma
administração colonial caótica, máquina burocrática monstruosa, emperrada e
ineficiente, com um centro autoritário e colônias submissas, não dão conta da
capacidade de manutenção longeva do imenso império. Houve, sim, um uso
inteligente do poder por Lisboa, superando os limites da separação oceânica
entre a metrópole e suas colônias”, explicou Mello e Souza.
A cronologia adotada pelo
projeto, entre os séculos 15 e 19, se explica por ser o período da expansão
lusitana, já que, depois de 1822, não justifica a leitura em conjunto de formações
tão independentes como os impérios brasileiro e português.
O projeto atualiza um debate
surgido ao final da década de 1970 sobre como interpretar a economia e a
sociedade da América portuguesa, reavaliando tanto a ideia de "sentido da
colonização", de Caio Prado, como o conceito de "antigo sistema
colonial", definido por Fernando Novais.
O resultado, de acordo com Mello
e Souza, é um jogo dialético entre as partes e o todo, eliminando a oposição
mecânica entre metrópole e colônia, muito além da relação Brasil-Portugal.
“Nessa releitura, o Império Português aparece como pouco homogêneo e com
centros políticos relativamente autônomos. É preciso questionar a ideia de uma
ideologia imperial unitária”, disse.
Leia a reportagem completa em
http://revistapesquisa.fapesp.br/2012/11/12/um-imenso-portugal
Fonte: http://agencia.fapesp.br
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