Independente da religião, crença ajuda na mudança de vida - Por Juliana Dias Ferreira
“O firme fundamento das coisas
que se esperam e prova das coisas que não se veem”. A definição dada ao termo
fé pela Bíblia, livro mais lido do mundo, segundo pesquisa que considera
vendas e impressões nos últimos 50 anos, está na ponta da língua de milhares
de brasileiros que tiveram suas vidas mudadas pela religião.
Para tentar
entender o motivo de tanta devoção, O FLU Revista reuniu algumas histórias que
a ciência, por si só, talvez não seja capaz de explicar.
Uma delas é contada por Maria da
Penha Pereira, 72. Católica desde pequena, ela passou a se dedicar com mais
afinco à igreja, em 1998, por insistência da filha. Hoje, se orgulha do
compromisso como ministra extraordinária da Eucaristia, pessoa que auxilia o
padre a distribuir a hóstia aos fiéis.
Ela também revela que o
envolvimento com a fé a livrou da depressão, que antes a fazia se sentir fraca
e com medo de sair de casa sozinha.
“Gosto de participar de
diferentes grupos dentro da minha religião porque fazemos amizades e recebemos
carinho. Todas as minhas dores, inclusive as físicas, vão embora”, garante.
“Acho que ainda seria uma dessas velhinhas
tristes e inibidas se não tivesse voltado à igreja. Agora, vou a todos os
lugares, mesmo sem companhia, e lido bem com as pessoas”, afirma.
Recuperação
Um caso de fé que ganhou atenção
da mídia nos últimos meses é o da americana Renee Elliott Murdoch, que foi
agredida por um mendigo na orla da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, em
outubro. Pastora junto com o seu marido,
Philip Murdoch, há 12 anos no Brasil, na Igreja Evangélica Luz às Nações, ela
sofreu traumatismo craniano e chegou ao hospital com apenas 10% de chances de
sobreviver.
“O prognóstico era o pior
possível: 90% de possibilidade de morte, estado vegetativo e outras sequelas
graves que a impediriam de fazer qualquer atividade sem auxílio. Para isso tudo
dar certo, só com a ajuda de Deus”, reconhece Philip.
Renee passou por três cirurgias e
teve uma recuperação surpreendente, segundo os próprios médicos.
“No início, eu não entendi a
gravidade da situação, até que perguntei se ela poderia voltar a dirigir e o
médico me respondeu que eles estavam lutando para simplesmente mantê-la viva”,
frisa o marido, ressaltando que os milagres foram conseguidos dia após dia:
“Nós oramos muito para que ela pudesse receber alta no dia de ação de graças,
que é tão importante quanto o Natal, para nós, americanos. Ninguém achava que
isso seria possível, mas conseguimos”, comemora.
Tão inesperada quanto o rápido
restabelecimento de Renee é a história do nascimento do jovem umbandista Sérgio
Zuglles. O rapaz, de 23 anos, conta que sua mãe, infeliz por não poder ter
filhos, decidiu pedir a intervenção do caboclo Pena Branca. Depois de tomar
alguns chás recomendados pela entidade, engravidar e finalmente dar à luz, ela
levou-o para ser batizado, conforme as tradições seguidas pelo espiritismo.
“Quando ela me entregou ao
caboclo, ele disse que aquela não era a criança que ele tinha ajudado a nascer.
Então, 15 dias depois, um enfermeiro do hospital ligou para a minha casa e
disse que havia ocorrido um caso de troca de bebês”, conta.
Hoje, o rapaz continua firme em
sua religiosidade e enfatiza que, desde os 8 anos, recebe o caboclo nas seções
das quais participa na Tenda Espírita do Boiadeiro, no bairro da Engenhoca, em
Niterói.
Diante de histórias como essas, o teólogo Luís
Corrêa Lima, professor do curso de teologia da PUC-Rio, avalia que a fé dá um
sentido global à existência humana, o que outra racionalidade não consegue.
“A fé dá sentido à vida, dá
coragem para viver e cria um ambiente favorável à resolução de problemas tanto
físicos quanto psíquicos. Crer, responde ainda a perguntas como ‘Quem somos?’,
‘De onde viemos?’, ‘Para onde vamos?’”, acentua.
No entanto, o teólogo, que
leciona desde 2006, chama a atenção para certas promessas insustentáveis que se
faz em nome de Deus e afirma que não se deve procurar respostas fáceis para
problemas que são complexos, e nem criar expectativas exageradas nas pessoas,
como a cura de doenças, por exemplo.
Segundo Luís, no mundo da fé
existem as coisas extraordinárias, mas é preciso saber lidar com o mundo
ordinário, com o que é habitual, e completa: “Deus não é só o Deus do
impossível”.
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