Valores da religião e da cultura mantém essência do Natal – Por Laynna Feitoza


 Especialistas dizem que manifestações populares não excluem o real sentido do Natal e confirmam que a pluralidade entre cultura e religião, nesta época, não anula a essência do período.

De um lado, presentes, Papai Noel, ceia, festa e socialização. De outro, nascimento, Jesus Cristo, igreja e celebração da vida. Eis os tradicionais quesitos do Natal comemorado na sociedade atual. Ainda que caminhem por uma estrada relativamente estreita ano após ano, muitos são os questionamentos que abrangem o período natalino. Afinal, será que a real essência do Natal tem se perdido, com o passar o tempo? Ou será que tudo, de alguma forma, se complementa?

Para o padre e sacerdote Isaías Júnior de Andrade, que tem formação em Filosofia e Teologia pela Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), o Natal é constituído da "presença de Deus", da "encarnação do Verbo", que é Jesus Cristo. "O Natal entrou na história como um momento de recordar dessa celebração da encarnação. Recorda o momento histórico em que Deus entra na sociedade por meio do Salvador, onde Ele encarna e age", explicou o padre.

O que ocorre, de acordo com o teólogo, é que as manifestações populares do período, às vezes, acabam retardando o real sentido de celebração do Natal. "O que acontece é que o Natal, em algumas vezes, deixa de ser o 'Deus conosco', a encarnação do Verbo, para ser um espaço somente do consumismo, do comércio, sobretudo da exploração do marketing, do comercial", disse o sacerdote.

O fanatismo de alguns religiosos, porém, acaba ceifando a cultura que permeia o Natal. Mas, para o padre, a cultura popular precisa ser respeitada. "A troca de presentes simboliza essa gratuidade. Pois Deus é gratuito, e nós queremos, com essa troca, simbolizar esse amor gratuito de Deus. O Natal verdadeiro tem esse sentido da solidariedade, da partilha, da preocupação com o outro", afirmou o padre Isaías.

O desvirtuamento do que é Natal existe quando o foco centra-se no comércio, segundo o padre Andrade. "À vezes enchemos o Natal de muitos adornos, o que faz com que a data perca a sua essência, que é quando as pessoas permitem que as simbologias populares tirem o foco do nascimento de Jesus Cristo. Quando se passa o Natal centrado na comida, na festa, sem a lembrança do nascimento do Salvador, se passa um Natal voltado para o comercial. Com isso, o interior esvazia-se e perde o sentido do período natalino", confirmou o sacerdote.

Ao contrário do que muitos pensam, a religião olha com muito carinho para a questão da cultura popular, conforme o teólogo. "Quando se fala em Papai Noel e em outras figuras, pensamos na alegria das crianças, e no que mais essa situação pode trazer. Tudo aquilo que pode nos proporcionar alegria é sagrado, é de Deus. Se as famílias têm mais vida, se as crianças têm mais vida, isso é Natal. Só não podemos perder, deixar os sinais e a essência do Sagrado se perder no meio do popular e do vazio. A gente tem que aproveitar aquilo que a sociedade colocou como valor para que possamos prosseguir com os valores cristãos. Mas o Natal celebrado no sentido da família é muito significativo", pontuou o padre.

A religião e a cultura, nesta época do ano, são regidas por símbolos importantes. Além do nascimento de Cristo, as manifestações populares também configuram pilares importantes da sociedade. Para a cientista social e jornalista Izabelly Costa, Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), a forma com que o ser humano interage e organiza a própria vida é regulada por esses sistemas de símbolos.

"A sociedade, de um modo geral, é regulada por sistemas de símbolos, isto é, tudo o que fazemos, a forma como interagimos, como organizamos a nossa vida, tudo está subordinado ao modo como o ser humano internaliza tais sistemas - que podemos chamar de cultura. A simbologia do Natal é apenas mais um desses sistemas que foram apreendidos pela sociedade historicamente. Tais símbolos fazem parte do mecanismo de manutenção dos seus valores e até mesmo de reinvenção deles", assegurou a socióloga.

A festa, a ceia, os presentes e o Papai Noel são fundamentais para a convivência humana, pois muitos deles representam os motivos pelos quais as pessoas interagem nesta época, de acordo com a cientista social. "Os homens sem símbolos e cultura ficariam sem norte e portanto, a noção que temos de coisas e do mundo, de um modo geral, ficaria abalada. A ideia de um possível espírito de solidariedade inerente ao natal é uma forma de coesão social", destacou Costa.

Presentes

A apropriação pela sociedade de símbolos religiosos ou do imaginário popular é outro aspecto a ser destacado, segundo Izabelly. "Na perspectiva bíblica, por exemplo, os reis magos levaram presentes até o menino Jesus. É possível fazer uma associação com a cultura da troca de presentes existentes nessa época", lembrou a Mestre em Sociologia.

Tais elementos provenientes do período natalino auxiliam em diversos sistemas que compõem o ser humano, e a cientista social destaca quais. "Podemos ter sistemas de linguagem que auxiliam na comunicação; sistemas de tecnologia que facilitam o domínio do meio ambiente por meio do conhecimento; sistemas de valores que ensinam preceitos do certo ou errado, bom ou mau; sistemas de crenças que unificam pessoas conforme os espaços e ideias; sistemas normativos que regulam comportamentos; dentre outros. Nesse sentido, Papai Noel e todo o imaginário natalino são parte da cultura", explicou Costa.

A cultura e religião remetem a impressão de divergência entre si por conta da discordância de valores e perspectiva, conforme a socióloga, que são naturais em sociedade. Mas a pluralidade entre a celebração da vida por meio do nascimento de Cristo e a confraternização por meio da alegria concebida entre os homens através dos signos culturais natalinos são cruciais para a concepção de sociedade e indivíduos saudáveis.

"Podemos falar, por exemplo, em etnocentrismo como um resultado inevitável das diferenças culturais. Como o ser humano tende a desqualificar os símbolos culturais distintos dos seus, esse etnocentrismo gera preconceitos que se tornam latentes nos conflitos declarados como este. A cultura sofre variações entre as diferentes sociedades e até mesmo dentro delas, sendo que essas variações geram tensões que podem começar no campo simbólico, e por aí parar, ou não. Acredito que a compreensão da temática cristã é quase universal, mas a internalização dos valores e vivência disso é específico de cada indivíduo", concluiu a cientista social.

De um lado, presentes, Papai Noel, ceia, festa e socialização. De outro, nascimento, Jesus Cristo, igreja e celebração da vida. Eis os tradicionais quesitos do Natal comemorado na sociedade atual. Ainda que caminhem por uma estrada relativamente estreita ano após ano, muitos são os questionamentos que abrangem o período natalino. Afinal, será que a real essência do Natal tem se perdido, com o passar o tempo? Ou será que tudo, de alguma forma, se complementa?

Para o padre e sacerdote Isaías Júnior de Andrade, que tem formação em Filosofia e Teologia pela Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), o Natal é constituído da "presença de Deus", da "encarnação do Verbo", que é Jesus Cristo. "O Natal entrou na história como um momento de recordar dessa celebração da encarnação. Recorda o momento histórico em que Deus entra na sociedade por meio do Salvador, onde Ele encarna e age", explicou o padre.

O que ocorre, de acordo com o teólogo, é que as manifestações populares do período, às vezes, acabam retardando o real sentido de celebração do Natal. "O que acontece é que o Natal, em algumas vezes, deixa de ser o 'Deus conosco', a encarnação do Verbo, para ser um espaço somente do consumismo, do comércio, sobretudo da exploração do marketing, do comercial", disse o sacerdote.

O fanatismo de alguns religiosos, porém, acaba ceifando a cultura que permeia o Natal. Mas, para o padre, a cultura popular precisa ser respeitada. "A troca de presentes simboliza essa gratuidade. Pois Deus é gratuito, e nós queremos, com essa troca, simbolizar esse amor gratuito de Deus. O Natal verdadeiro tem esse sentido da solidariedade, da partilha, da preocupação com o outro", afirmou o padre Isaías.

O desvirtuamento do que é Natal existe quando o foco centra-se no comércio, segundo o padre Andrade. "À vezes enchemos o Natal de muitos adornos, o que faz com que a data perca a sua essência, que é quando as pessoas permitem que as simbologias populares tirem o foco do nascimento de Jesus Cristo. Quando se passa o Natal centrado na comida, na festa, sem a lembrança do nascimento do Salvador, se passa um Natal voltado para o comercial. Com isso, o interior esvazia-se e perde o sentido do período natalino", confirmou o sacerdote.

Ao contrário do que muitos pensam, a religião olha com muito carinho para a questão da cultura popular, conforme o teólogo. "Quando se fala em Papai Noel e em outras figuras, pensamos na alegria das crianças, e no que mais essa situação pode trazer. Tudo aquilo que pode nos proporcionar alegria é sagrado, é de Deus. Se as famílias têm mais vida, se as crianças têm mais vida, isso é Natal. Só não podemos perder, deixar os sinais e a essência do Sagrado se perder no meio do popular e do vazio. A gente tem que aproveitar aquilo que a sociedade colocou como valor para que possamos prosseguir com os valores cristãos. Mas o Natal celebrado no sentido da família é muito significativo", pontuou o padre.

Cultura inerente ao Natal é uma forma de coesão social, diz socióloga

A religião e a cultura, nesta época do ano, são regidas por símbolos importantes. Além do nascimento de Cristo, as manifestações populares também configuram pilares importantes da sociedade. Para a cientista social e jornalista Izabelly Costa, Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), a forma com que o ser humano interage e organiza a própria vida é regulada por esses sistemas de símbolos.

"A sociedade, de um modo geral, é regulada por sistemas de símbolos, isto é, tudo o que fazemos, a forma como interagimos, como organizamos a nossa vida, tudo está subordinado ao modo como o ser humano internaliza tais sistemas - que podemos chamar de cultura. A simbologia do Natal é apenas mais um desses sistemas que foram apreendidos pela sociedade historicamente. Tais símbolos fazem parte do mecanismo de manutenção dos seus valores e até mesmo de reinvenção deles", assegurou a socióloga.

A festa, a ceia, os presentes e o Papai Noel são fundamentais para a convivência humana, pois muitos deles representam os motivos pelos quais as pessoas interagem nesta época, de acordo com a cientista social. "Os homens sem símbolos e cultura ficariam sem norte e portanto, a noção que temos de coisas e do mundo, de um modo geral, ficaria abalada. A ideia de um possível espírito de solidariedade inerente ao natal é uma forma de coesão social", destacou Costa.

Presentes

A apropriação pela sociedade de símbolos religiosos ou do imaginário popular é outro aspecto a ser destacado, segundo Izabelly. "Na perspectiva bíblica, por exemplo, os reis magos levaram presentes até o menino Jesus. É possível fazer uma associação com a cultura da troca de presentes existentes nessa época", lembrou a Mestre em Sociologia.

Tais elementos provenientes do período natalino auxiliam em diversos sistemas que compõem o ser humano, e a cientista social destaca quais. "Podemos ter sistemas de linguagem que auxiliam na comunicação; sistemas de tecnologia que facilitam o domínio do meio ambiente por meio do conhecimento; sistemas de valores que ensinam preceitos do certo ou errado, bom ou mau; sistemas de crenças que unificam pessoas conforme os espaços e ideias; sistemas normativos que regulam comportamentos; dentre outros. Nesse sentido, Papai Noel e todo o imaginário natalino são parte da cultura", explicou Costa.

A cultura e religião remetem a impressão de divergência entre si por conta da discordância de valores e perspectiva, conforme a socióloga, que são naturais em sociedade. Mas a pluralidade entre a celebração da vida por meio do nascimento de Cristo e a confraternização por meio da alegria concebida entre os homens através dos signos culturais natalinos são cruciais para a concepção de sociedade e indivíduos saudáveis.

"Podemos falar, por exemplo, em etnocentrismo como um resultado inevitável das diferenças culturais. Como o ser humano tende a desqualificar os símbolos culturais distintos dos seus, esse etnocentrismo gera preconceitos que se tornam latentes nos conflitos declarados como este. A cultura sofre variações entre as diferentes sociedades e até mesmo dentro delas, sendo que essas variações geram tensões que podem começar no campo simbólico, e por aí parar, ou não. Acredito que a compreensão da temática cristã é quase universal, mas a internalização dos valores e vivência disso é específico de cada indivíduo", concluiu a cientista social.




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