Mercado da fé movimenta mais de R$ 12 bilhões por ano no Brasil
O mercado da fé é um dos setores
que mais cresce no Brasil. Segundo pesquisa feita na Escola Superior de
Propaganda e Marketing (ESPM), em 2012 a fé movimentou aproximadamente R$ 12
bilhões no país.
A dinâmica desse mercado e os
destaques dele são assuntos abordados na quarta reportagem da Série ‘FÉ’
exibida nesta quinta-feira (3) pela TV Tem, emissora afiliada da Rede Globo no
interior de São Paulo.
De acordo com o professor de
Ciências do Consumo, Mário René, responsável pela pesquisa, o crescimento do mercado
duplicou em relação à última década. A Câmara Brasileira do Livro comprova o
crescimento apontado no estudo. Somente no mercado editorial, em 2012, o
segmento de livros evangélicos teve aumento de aproximadamente 14% em relação
ao ano anterior. As publicações faturaram R$ 479 milhões.
Outra pesquisa, ‘Retrato da
Leitura no Brasil’, apontou que os evangélicos são os que mais leem. O estudo
ainda mostrou que os cristãos leem o dobro em relação a população em geral. O
livro mais lido pelos brasileiros é a Bíblia. Por ano, são produzidos em média
8,5 milhões exemplares, o que corresponde uma Bíblia a cada três segundos. O
Brasil ainda é responsável pela exportação delas para 105 países.
Ainda no mercado editorial, um
dos livros recorde de vendas no mercado da fé é ‘Ágape’, escrito pelo padre
Marcelo Rossi. A obra já teve mais de 8 milhões de exemplares comercializados e
está na lista dos mais lidos em todo o país. Para o autor do livro, o fenômeno
ocorre porque as pessoas ficam curiosas.
“Primeiro pelo título: o que é Ágape?
A palavra vem do grego, que é este amor incondicional, este amor divino. Depois
da leitura, as pessoas passam a compreender que Deus as ama, que Deus nos ama e
que este amor leva a fé”, diz Rossi.
O padre afirma que se surpreende
com as vendas. Em dias de autógrafo já arrastou milhares de pessoas para as
livrarias. “Com o ‘Ágape’ e o ‘Agapinho', a versão infantil de 'Ágape', foram
70 cidades visitadas. Um dia que marcou correu em Brasília (DF) quando passaram
pela loja 23.583 pessoas. Eu tenho certeza do número porque era uma livraria
que registrava o número de pessoas quando elas saiam com o livro. Eu não
consegui dedicar, autografar todos os livros. Chegou uma hora em que eu
abençoava e tirava a foto. Foram horas de atendimento ao leitores. Era para ter
saído da biblioteca às 20h, mas só fui sair na madrugada, quase à1h”, relembra.
Outro religioso que se lançou
nesse mercado em ascensão é o padre Adriano Zandoná. Ele já foi capa de uma
importante revista brasileira por despontar nesse mercado. No livro
‘Construindo a felicidade’, busca se comunicar com o jovem por meio de uma
linguagem simples.
“Eu percebo que o jovem é movido por desafio. O jovem tem
sede de ir além, de transcender, e a fé, o imperativo de crer no nosso mundo,
na nossa atual sociedade, é um desafio. O jovem se lança em busca da fé. Ele
vive essa vida de desafio, essa vida de desbravar a si mesmo através de Deus,
de seguir a Deus e expor essa mensagem de esperança a tantas pessoas que
precisam. Eu acho que isso completa o jovem, a sua sede existencial”, comenta.
Outras obras que também fizeram
sucesso foram os livros de Chico Xavier. O médium mineiro não se reconhecia
autor as obras. Dizia que os textos foram ditados por espíritos que o acompanhavam.
Ele psicografou 426 livros. Toda a renda das vendas, doou para instituições de
caridade.
De acordo com o filho adotivo do
espiritualista, Eurípedes Higino, Chico Xavier era uma pessoa muito fácil de
conviver, mas se dedicava a escrever o que recebia. "Ele escrevia até as
3h todos os dias”, comenta.
As obras espíritas também viraram
sucesso de bilheteria no cinema. Em 2008, foi lançado o filme ‘Bezerra de
Menezes. Dois anos depois vieram ‘Chico Xavier e nosso lar’, que ficou entre os
dez mais vistos em 2010, e no seguinte o filme baseado no livro dos espíritos,
de Alan Kardec.
Uma das produções que mais
fizeram sucesso foi ‘As mães de Chico Xavier'. Mais de 500 mil pessoas foram aos
cinemas assistir à história que foi destaque no festival de Los Angeles, que
divulga o cinema brasileiro.
Música
A música cristã também tem um boa
fatia desse bolo econômico. Na velocidade do som está a procura por CDs
religiosos. Nunca o setor fonográfico viu um crescimento como este. Dos 20 CDs
mais vendidos em 2011, sete são de cantores que em suas letras falam de fé.
Isso significa muito se comparado aos anos anteriores. Segundo o produtor
musical, Flávio Reis de Camargo, a procura é muito alta. “Tem crescido bastante
e pelo jeito não vai parar de crescer não”, comenta.
E esse crescimento tem um fator
especial. De acordo com Camargo, quem compra produtos religiosos raramente se
rende à pirataria.
“O público gospel, os fãs de gospel, são fãs fiéis. Eles
querem justamente comprar o disco para ajudar o artista, para incentivar a
palavra de Deus nas pessoas. As grandes gravadoras acabam olhando e vendo uma
oportunidade boa porque acabam vendendo muitos discos, sem pirataria. As
pessoas não baixam as músicas, elas compram o CD. Isso, para as gravadoras,
para nós que trabalhamos com produção, é excelente”, ressalta.
Um dos recordes de público é a
cantora Ana Paula Valadão. Ela está entre os cantores que mais fazem sucesso no
mundo gospel. À frente da banda ‘Diante do Trono’, gravou 15 CDs e DVDs.
“Pessoas dizem muito para mim que as nossas músicas expressam exatamente o que
elas queriam dizer para Deus. Que as nossas músicas são a trilha sonora da vida
delas, que acompanham no dia a dia nos momentos de alegria e nos momentos de
dificuldade. Elas se identificam”, diz.
Por onde passa, a cantora, que
também é pastora, atrai muitos seguidores. Nos shows, a música potencializa a
fé. O som contagia o público e não tem como não se envolver. E se a fé é
acreditar naquilo que não se vê, durante as apresentações as pessoas afirmam
que sentem a presença de Deus.
“Não precisar ser evangélico para gostar. Essa
moça é ungida pelo Espírito Santo. Ela passa uma energia positiva para todo
mundo”, diz a estudante Juliana Alves da Silva, fá de Ana Paula Valadão.
A cantora também é a inspiração
de novos cantores, talentos revelados dentro de igrejas. A cantora Julia Regina
de Castro Fabri Rodrigues e o cantor Otávio Leal Júnior se preparam para gravar
o primeiro CD com músicas religiosas. Rodrigues conta que os dois cantavam
juntos há aproximadamente seis anos dentro de uma igreja. No fim de 2012, ambos
decidiram gravar um trabalho. “Decidimos colocar para fora toda essa bagagem e
no começo de 2013 ainda, iremos gravar o nosso primeiro CD, se Deus quiser”,
comenta a cantora.
Leal Júnior está otimista com a
nova fase. “Tenho muita fé na minha carreira. Acredito que através da música,
que Deus me deu, vou alcançar muitas pessoas, com certeza”, afirma.
Aparecida
No maior santuário católico da
América Latina, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP), os
dias não são só de orações, mas também de compras. O mês de outubro, quando é
comemorado o dia de Nossa Senhora, padroeira do Brasil, é o mais importante
para o movimento da cidade. Entre os dias 11 e 13 de outubro, cerca de 300 mil
pessoas circulam pelo santuário.
Mas a peregrinação também se dá
em outras épocas do ano e assim, a cidade que nasceu depois que a imagem da
santa foi encontrada, tem a economia voltada para a fé. De acordo com o
comerciante Renato Chad, toda a cidade vive exclusivamente desse mercado.
“Não
temos outra articulação que possa gerar renda. Não temos agropecuária,
agronegócio ou indústrias. Não temos nada dessa parte que poderia avançar.
Somente a fé”, diz.
As lojas em Aparecida estão
sempre cheias. São pessoas de várias partes do Brasil em busca de bíblias,
terços e imagens. Lembranças que falem de fé. A professora Verúsia Maira Silva
dos Santos afirma que consegue encontrar presente para toda a família.
“Tem
presente para todos os gostos e bolsos. Tem imagens caríssimas, presentes caros
e também de R$ 1. Pode-se levar um imã de geladeira ou qualquer outra coisa.
Tudo isso é válido de lembrança”, diz.
Fonte: http://g1.globo.com
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