O ateísmo pode ser considerado uma religião?
Com o crescente declínio da
igreja e o aumento de pessoas que pregam a ausência de religião, será que o
ateísmo está substituindo as crenças religiosas?
Na Grã-Bretanha, onde a Igreja da
Inglaterra vem se tornando motivo de chacota, a porcentagem dos britânicos que
professam a ausência de religião quase dobrou na última década, o que explica a
criação, este mês, da primeira igreja ateísta do país.
Recentemente a jornalista e
escritora americana Susan Jacoby escreveu no New York Times que os momentos de
sofrimento, sejam eles individuais ou coletivos (ela citava, particularmente, o
recente massacre de crianças em uma escola de Newton, Connecticut) podem ser um
lembrete “do que o ateísmo tem para oferecer”.
“Nós queremos que as pessoas
respeitem a nossa profunda convicção de que a ausência de uma vida após a morte
confere uma importância maior, e não menor, à moralidade das nossas ações na
Terra”, escreveu Jacoby.
Já o filósofo Gary Gutting
ressaltou que os ateus, um grupo que ainda prefere ficar longe dos holofotes,
deveriam vir a público expressar as razões para as suas crenças (ou a falta
dela), como fazem as pessoas religiosas. Mas, será que o ateísmo pode ser considerado
uma crença ou, até mesmo, substituir uma religião?
“Não há religião sem mistério”
Para Phyllis Tickle, editora que
fundou a seção de religião da revista Publishers Weekly, apesar de oferecer o
espírito de comunidade e um código moral, o ateísmo, definitivamente, não pode
ser considerado uma religião.
“Falta ao ateísmo a prerrogativa
do mistério, necessária a uma religião. Além disso, não podemos encontrar no
ateísmo as narrativas e a beleza transcendental, marcas de uma religião.
Portanto, apesar de ser uma boa alternativa para quem busca o conforto de uma
causa em comum, o ateísmo não substitui a religião”, acredita Phyllis.
Já Jason Torpy, presidente
da Associação Militar de Ateístas,
afirma que não importa o fato do ateísmo ser ou não uma religião. O que importa
é que a humanidade, com sua mistura de crenças, deve acolher e aceitar os ateus
como parte desta diversidade.
“A realidade é que o ateísmo, ou,
mais especificamente, crenças não-teístas e naturalistas, substituíram a
religião baseada na existência de Deus como a principal fonte de valores
fundamentais, ética, família, comunidade e refúgio em tempos de estresse”, diz.
Segundo Torpy, nos Estados Unidos
é comum as pessoas seguirem a religião dos pais. Porém, mesmo as pessoas que se
consideram religiosas adotam um comportamento ateu, trocando a palavra das
escrituras por valores científicos, éticos e racionais.
Para os fundadores da primeira
igreja ateísta da Grã-Bretanha, Pippa Evans e Sanderson Jones, o ateísmo não é
uma religião e não deve substituí-las (“isso não é nosso objetivo, mas também
não é nossa preocupação”), mas ateus também podem tirar vantagem de “rituais”
normalmente associado às igrejas:
“Fundamos a Sunday Assembly
(Assembleia de Domingo, como é chamada a “igreja” ateísta) porque a ideia de
nos reunirmos uma vez por mês para cantar músicas, ouvir grandes oradores e
celebrar o incrível dom da vida parece divertido e útil”, escreveram.
Fontes: The New York Times e http://opiniaoenoticia.com.br
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