Obama reacende esperança de comunidade negra – Por Susan Saulny e Ramin Rahimian


O reverendo Greggory L. Brown, 59, um pastor veterano de uma pequena igreja luterana, se comprometeu com o ministério e com uma vida de busca por justiça social desde 4 de abril de 1968 -o dia em que o reverendo Martin Luther King Jr. foi assassinado.

Quatro anos atrás, como tantos afro-americanos por todo o país, ele viu a ascensão de Barack Obama à presidência como uma validação chocante da visão de King de uma união mais perfeita, onde o conteúdo do caráter fala mais alto do que a cor da pele.

"Eu fiquei empolgado demais quando ele fez seu discurso de posse", disse Brown, de Oakland, Califórnia. "Eu podia senti-lo nos meus ossos."

Na última segunda-feira (21), quando Obama colocou sua mão na Bíblia pessoal de King para fazer seu segundo juramento de posse, ele ficou ligado simbolicamente ao herói dos direitos civis. Mas Brown, juntamente com outros negros entrevistados, disse que a empolgação deles está misturada com uma nova expectativa, de que Obama consiga dar prioridade em sua agenda às questões defendidas por King: direitos civis e igualdade racial e econômica.

Em entrevistas com especialistas e líderes negros, alguns, como Brown, se disseram decepcionados com o ritmo lento da mudança para os afro-americanos, cujos filhos, por exemplo, ainda apresentam maior probabilidade de viver na pobreza do que os de outras raças.

"A esperança na presidência de Obama era de que haveria mais ajuda para lugares como Oakland e outras áreas urbanas que precisam de apoio, segurança e empregos", disse Brown. "Ele fez as pessoas sentirem que tudo é possível."

Os afro-americanos mantêm seu apoio ao presidente, como ficou evidente com o comparecimento em massa deles para votar na eleição, nas festividades da posse e na celebração do feriado do nascimento de Martin Luther King Jr.. Milhares de negros americanos de todo o país foram para Washington para as muitas festas, comemorações e visitas ao memorial de King.

Eles desenvolveram uma posição protetora em relação a Obama, reconhecendo os limites de seu poder e a voracidade de seus críticos. Muitos citam o poder da representação, a mensagem visual de uma família negra próspera e coesa difundida pelo país e pelo mundo, e as inúmeras aspirações que essa visão inspira.

Mas os afro-americanos rejeitam a noção de que a eleição de Obama minimizou a tensão racial ou conduziu a nação a uma nova realidade pós-racial.

"Eu acho que a grande massa de negros tem exibido tremenda paciência, disciplina e entendimento, reconhecendo o dilema que ele enfrenta", disse Randall L. Kennedy, um professor da Escola de Direito de Harvard e autor de: "The Persistence of the Color Line: Racial Politics and the Obama Presidency".

Ainda assim, Kennedy disse que Obama tem se mostrado "um pouco tímido" a respeito de questões que teriam significado especial para os afro-americanos, como o número desproporcional de negros na prisão, ou a pobreza urbana. Ele acrescentou que os negros entendem que a hesitação percebida "provavelmente foi uma exigência virtual" para que ele pudesse ser eleito.

"Todo mundo concorda que desejava que mais tivesse sido feito no primeiro mandato", disse Debra Lee, presidente-executiva da Black Entertainment Television. "Mas você olha para a política e percebe que o presidente não pode acenar uma vara de condão e fazer com que as coisas aconteçam."

"Essa é uma das coisas que aprendemos no primeiro mandato", ela acrescentou, referindo-se à presidência. "Isso é importante e simbólico, mas não a meta final."

Por mais que muitas pessoas torcessem pelo declínio com o tempo do impacto da raça, uma das maiores pesquisas sobre o assunto feita pela agência de notícias "The Associated Press" e divulgada em outubro, mostrou que as posturas raciais não melhoraram nos quatro anos desde que Obama tomou posse.

Ela também sugere que o preconceito aumentou ligeiramente. Em uma pesquisa pelo Centro Pew, realizada em abril, a maioria dos americanos, cerca de 61%, discordou da declaração "a discriminação contra os negros é rara atualmente".

Charlene Flynn, uma assistente odontológica em Denver, disse que não notou nenhuma mudança significativa nas relações raciais em sua vida, mas sentiu que há um entendimento comum dentro da comunidade negra de que Obama enfrentou racismo no cargo. Ela disse acreditar fortemente que o Congresso tem se mostrado desafiador em relação ao presidente em grande parte por ele ser negro. "Eu realmente acho que tem muito a ver com sua raça, para dizer a verdade", disse Flynn, 51.

Brown, o pastor em Oakland, concordou. Toda semana, ele reza em voz alta pelo presidente. "Eu acredito que ele deseja fazer a diferença", ele disse, "mas toda vez que ele tenta, as pessoas levantam um grande muro de pedra".

Outros não são tão compreensivos, achando Obama cauteloso demais no tema da raça. O ativista e acadêmico Cornel West se diz ultrajado por Obama usar a Bíblia pessoal de King na posse, sem endossar "a luta pela liberdade negra" de King.

"Martin foi para a cadeia falando sobre os bombardeios no Vietnã e tentando organizar os pobres, lutando pelas liberdades civis", disse West. O presidente, ele disse, "tem um tipo de temperamento de fazer concessões".

Mas outros no movimento de direitos civis dizem que o presidente tem um papel mais amplo.

"Eu disse desde cedo ao presidente que chefiaria a NAACP e ele poderia ser o chefe do país", disse Benjamin Todd Jealous, o presidente da Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor. Ele e outros dão crédito ao temperamento frio de Obama.

"Obama usa de modo muito eficaz mensagens positivas para unir grupos raciais e étnicos, não dividi-los", disse William Julius Wilson, o sociólogo de Harvard e autor de: "More Than Just Race: Being Black and Poor in the Inner City".

"Em termos de raça e relações étnicas", disse Wilson, "ele é o presidente certo para esses tempos econômicos difíceis, porque as tensões sociais estão altas".

Ele afirmou ainda que basta olhar para a morte de Trayvon Martin, o adolescente negro desarmado morto a tiros por um vigia de bairro voluntário em Sanford, Flórida, no ano passado, para ver a volatilidade potencial de qualquer declaração presidencial sobre raça, mesmo aquela em que presidente pediu por uma "autoanálise".

Quando Obama lamentou "se eu tivesse um filho, ele se pareceria com Trayvon", ele foi atacado pelos críticos, como o apresentador de rádio conservador Rush Limbaugh, pelo uso da morte do adolescente como "oportunismo político".

Blaine Sergew, 43, uma imigrante da Etiópia que vive em Atlanta, disse que ficou decepcionada pelas "poucas coisas" que o presidente disse terem sido distorcidas fora de proporção.

"Foi uma declaração verdadeira, mas a imaturidade da conversa sobre raça neste país não permite que ela seja vista como uma declaração simples, verdadeira", ela disse.

Tão valioso quanto uma declaração presidencial, acrescentou Sergew, foi o efeito de sua eleição em 2008. Embalando seu filho bebê naquela eleição, "me lembrei distintamente de segurá-lo e apenas chorar com a possibilidade de meu filho crescer pensando naquilo como sendo normal", ela disse. 

"Ver imagens de uma família afro-americana tão dedicada aos seus membros e tão cheia de amor e respeito é muito importante para muitas famílias negras. É como se fosse uma Camelot Negra."

Ainda assim, aspirações são uma coisa. No segundo mandato de Obama, mais afro-americanos esperarão por ação.

"Há muita alegria e orgulho por Barack Obama ter sido reeleito, mas todas as comunidades esperam por mais", disse Roslyn M. Brock, a presidente do conselho da NAACP. 

"Espero e rezo para que em seu segundo mandato, ele consiga tratar dos problemas sociais que continuam nos atormentando, deixando seu legado, sua marca, neles."

* Malia Wollan, em Oakland, Califórnia; Dan Frosch, em Denver; Kim Severson e Robbie Brown, em Atlanta; Ian Lovett, em Los Angeles; e Karen Ann Culotta, em Chicago, contribuíram com reportagem.




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