Para ministra, agressões a religiões de matriz africana chegou a nível insuportável – Por Daniel Mello
A ministra da Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Luiza Bairros, disse ontem (21) que os ataques às religiões de matriz africana chegaram a um nível
insuportável.
“O pior não é apenas o grande número, mas a gravidade dos casos
que têm acontecido. São agressões físicas, ameaças de depredação de casas e
comunidades. Nós consideramos que isso chegou em um ponto insuportável e que
não se trata apenas de uma disputa religiosa, mas, evidentemente, uma disputa
por valores civilizatórios”, disse ao chegar ao ato lembrando o Dia Nacional de
Combate à Intolerância Religiosa no Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo.
O número denúncias de
intolerância religiosa recebidas pelo Disque 100 da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência cresceu mais de sete vezes em 2012, quando comparada com
a estatística de 2011, saindo de 15 para 109 casos registrados.
Para a ministra, os ataques são
motivados principalmente por alguns grupos evangélicos. “Alguns setores,
especialmente evangélicos pentecostais, gostariam que essas manifestações
africanas desaparecessem totalmente da sociedade brasileira, o que certamente
não ocorrerá”, disse Luíza, que acrescentou que esta semana deverá ser
anunciado um plano de apoio às
comunidades de matriz africana. “Nós queremos fazer com que essas
comunidades também sejam beneficiadas pelas políticas públicas”, completou.
No ato promovido pela prefeitura
paulistana foi lançada a Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial.
Segundo o prefeito, Fernando Haddad, a celebração é uma forma de fazer com que
as pessoas que ainda têm preconceito contra as religiões afrobrasileiras
reflitam sobre a importância da tolerância.
“Eu penso que a expressiva maioria
dos moradores de São Paulo abraça essa causa de convivência pacífica,
tranquila, com respeito e a tolerância devida ao semelhante. Agora, existe uma
pequena minoria para qual o recado aqui é dado: que há uma grande maioria que
quer viver tranquilamente”, disse.
O recado da tolerância também
está sendo promovido pelo grupo multirreligioso Paulistanos pela Paz, que há 8
anos atua para conscientizar principalmente a juventude.
“Nós estamos
coordenando visitas a escolas, faculdades para dar palestras, seminários, para
trazer esse questionamento à tona. Porque a intolerância brota da incapacidade
de conviver com o diferente”, disse o Reverendo Mahesh, coordenador do grupo e
representante do Hinduísmo Hare Krishna.
Membro do Centro Cultural
Ilê-Ifa, o maestro Roberto Casemiro, também defendeu a atuação com a juventude
como forma de combater o preconceito. Na opinião de Casemiro, para muitos
jovens, em especial os envolvidos em grupos que promovem o ódio, como os
skinheads, falta conhecimento e falta cultura. “E quem não tem nem conhecimento,
nem cultura, não tem respeito”.
Evangélico de confissão luterana,
o pastor Carlos Mussukopf, acredita que a melhor maneira de evitar o
preconceito é unindo as diferentes religiões entorno de objetivos e ideias
comuns. “Devemos procurar o que nos une, o que nos unifique, o que nós temos em
comum. E que a gente também saia da teoria, dos encontros de diálogo e passe
para a prática. Existem tantos desafios na sociedade que nós vivemos que exigem
uma ação unificada também das religiões. Vamos ver questão da população de rua, da natureza”,
disse.
Comentários