A religião tem futuro? – Por Hélio Schwartsman
Agora que a fumaça em torno do
conclave que elegeu o papa Francisco se dissipou, arrisco perguntar se a
religião tem futuro?
No nível mais fundamental, a
resposta é "sim". Depois de uma breve utopia iluminista, na qual a
intelectualidade chegou a prognosticar a morte de Deus, o consenso científico
parece caminhar para a classificação da religiosidade como um estilo cognitivo
que dá mais ênfase às intuições geradas nos lobos temporais do que aos
raciocínios lógicos produzidos no córtex pré-frontal. Isso significa que,
enquanto contarmos com uma boa variedade de seres humanos, alguns deles deverão
permanecer obstinadamente crentes.
Daí não decorre, porém, que os
clérigos estejam com a vida ganha. Há uma correlação negativa forte entre
desenvolvimento social e religiosidade, da qual a Europa dá testemunho. Nos
últimos 30 anos, a tendência geral no continente tem sido de forte queda da fé,
como mostram pesquisas que questionam não apenas as crenças dos entrevistados
mas também o peso que cada um deles atribuía à religião em sua vida.
Um caso emblemático é o da
Suécia. Como mostra Phil Zuckerman, menos de 20% dos suecos acreditam em um
Deus pessoal. E este país nórdico, não custa lembrar, é um dos melhores lugares
do mundo para viver, com uma democracia sólida, muita riqueza e bem
distribuída, um amplo sistema de seguridade social, baixíssimas taxas de
criminalidade, ótima educação, etc.
No outro extremo, países mais
pobres tendem a ser os mais carolas. Pesquisa Gallup de 2009 classificou 114
nações pelo valor que suas populações atribuíam à fé. No topo, com 99% ou mais
afirmando que a religião é importante em suas vidas, temos Bangladesh, Níger e
Iêmen.
Correlação, como se sabe, não é
sinônimo de causa, mas a prioridade que o papa Francisco quer dar aos pobres
pode ser, mais do que uma opção, uma questão de sobrevivência.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br
Comentários