O que as religiões explicam sobre a morte – Por Raphaela de C. Mello
As religiões ajudam o homem a
enfrentar inquietações para as quais a ciência não tem respostas ainda ou para
as quais as repostas da ciência não são suficientes. A morte de um ente querido
é uma das piores dores que um ser humano pode sentir.
Vivenciar o luto é
imprescindível para suportar tanto sofrimento e fazer ressurgir um novo viver,
como a terapeuta Adriana Thomaz, especializada no assunto, explica na
entrevista sobre o luto, publicada na revista: Bons Fluidos. Abaixo, uma análise do que dizem as religiões sobre a
morte e como cada uma delas pode ajudar a superar esse momento.
Budismo
Vida e morte são uma unidade, não
se separam. Tudo, a cada instante, está nascendo e morrendo e logo não há
nascimento a ser desejado nem morte a ser rejeitada. Dentro do quadro imenso do
universo, os seres estão em movimento e cada um carrega uma personalidade
perecível.
O budismo nega o eu eterno. Os
seres morrem e renascem abandonando a ideia do que foram. Buda dizia que o
corpo morto é uma carroça quebrada e não se deve arrastar uma carroça quebrada,
ou seja, devemos nos desapegar dessa forma. O budismo japonês não nega nem
afirma categoricamente esse processo.
A vertente tibetana aceita a
volta do espírito em outras vidas. Para os discípulos dessa corrente, depois da
morte do corpo físico a consciência cumpre 49 etapas em 49 dias, a fim de se
reorganizar.
Depois, há o renascimento em
algum nível de realidade, seja humano, animal ou inanimado, determinado pelo
carma vivido. Se fatos e circunstâncias influenciaram a vida da pessoa, depois
da morte continuam a produzir efeitos e consequências na trajetória dela.
Os budistas criam alegorias para
entender o que acontece depois desse plano cada um terá sua própria experiência.
Portanto, cabe aqui uma única recomendação: faça o bem a todos os seres. Afinal,
não há criaturas piores ou melhores. Todos somos interligados, cada espécie com
sua função e necessidade no mundo.
Candomblé
O candomblé compreende diversas
vertentes. Respondo pelo candomblé contemporâneo, que agrega conceitos de
filosofia, psicologia e tradições orientais. Sob tal perspectiva, se o
indivíduo leva uma vida imbuída de verdade, o pós-morte será uma extensão de suas
ações, portanto, uma passagem confortável, sem julgamentos.
Tal passagem pode ser facilitada
também pela influência dos orixás, entidades que representam o vento, o mar, a
mata e assim por diante e que lhe servem de guias espirituais. Acreditamos no
processo evolutivo da reencarnação e na existência de reinos espirituais, para
onde se encaminham os mortos, dedicados a cada tradição religiosa.
Essas comunidades interagem, não
há fronteiras entre elas. Depois da morte, o tempo é relativo e o espírito pode
ser resgatado ou não, tudo dependerá de como usou o livre-arbítrio. Quem
realiza esse resgate nas comunidades espirituais são os espíritos de luz, como
os velhos, os caboclos, os índios, as pombagiras, que recebem quem chega e
também transmitem ensinamentos com vistas à evolução.
Depois de sucessivas
reencarnações, o espírito pode optar por servir aos homens encarnados como um
ser de luz e não mais retornar à Terra. Ainda assim segue trabalhando pelo
próprio aprimoramento.
O fundamento da fé na
ressurreição se encontra no fato de Deus ter ressuscitado seu filho, Jesus.
Morrer e ser ressuscitado significa chegar a uma ampliação plena da cognição,
de tal maneira que, só na morte, a pessoa tenha a possibilidade de conhecer,
com clareza total e absoluta, o significado e as consequências de sua vida
vivida, no nível individual, socioestrutural, histórico e cósmico.
Ela própria, junto com Deus e com
base nos parâmetros dele, julga sua trajetória, percebendo, em que medida,
correspondeu ou não às diretrizes divinas. Tal processo é conhecido por
"juízo final". Na morte, Deus oferece a cada pessoa uma última
oportunidade de conversão, momento chamado de "purgatório".
No entanto, ela pode se negar a
aceitar os critérios superiores por Ele estabelecido. Ao agir assim, criaria
para si uma situação degradante, o "inferno".
Deus quer que todas as pessoas
alcancem a plenitude, o "céu", que significa a comunhão plena e
íntima com Ele. Dessa forma, o ser humano fica para sempre amparado no amor
divino, numa felicidade total, além de viver em comunhão com seus irmãos e
irmãs.
Espiritismo
De acordo com a doutrina
espírita, o espírito, a essência do ser, continua vivo depois da morte, que
só atinge o corpo. O que encontramos do outro lado reflete o que realizamos na
Terra.
É uma consequência justa, baseada
no merecimento. Desencarnação é o processo de libertação do espírito. No
entanto, este pode ficar apegado a dores, paixões, vícios, materialismo,
preocupações.
O desligamento do plano material
consome dias, meses ou até anos. Há, inclusive, aqueles que não sabem que
desencarnaram. Por isso, é importante termos em vida a compreensão de que
haverá continuidade e de que não faremos a travessia sozinhos. O espírito é
acompanhado por amigos espirituais e familiares.
Pela sintonia que estabelece por
meio de pensamentos e sentimentos, será atraído para comunidades de luz ou para
o umbral, espécie de purgatório temporário, onde terá a chance de aprender e se
elevar.
Quando estiver preparado, o
espírito retornará ao plano físico num novo corpo para quitar dívidas e
adquirir créditos. Alguns chegam devendo e voltam ainda mais endividados por
causa de orgulho, desequilíbrios e faltas graves. Reencarnamos quantas vezes
forem necessárias. Seres de luz podem ascender ao mundo superior e não mais
voltar à Terra.
Islamismo
Os muçulmanos acreditam que todos
nascem puros e inocentes, com uma beleza inata e a capacidade de progredir e
adquirir conhecimento. No entanto, possuímos o livre-arbítrio.
Ao mesmo tempo em que temos uma
tendência natural para o bem, somos livres e capazes de crueldade e injustiça.
Sendo assim, quem professa a fé islâmica será responsabilizado por todos os
seus pensamentos e ações no Dia do Juízo, quando o mundo será enrolado como um
pergaminho e todos serão julgados por Deus.
Aqueles que apresentarem bons
atos serão recompensados com o paraíso, os outros irão para o inferno, conceitos puramente metafóricos. A verdadeira natureza do céu e do inferno só é
conhecida por Deus.
A crença no Dia do Juízo
significa que a morte não é o fim da vida, mas um portal para a vida eterna.
Portanto, os muçulmanos percebem o tempo como sendo contínuo, desse mundo para
o próximo; e o tempo passado aqui moldará a natureza do tempo eterno.
Em suma, a salvação, neste mundo
e na vida depois da morte, está em praticar boas obras e promover tudo o que
seja nobre, justo e digno de louvor.
Na Índia, quando uma pessoa
morre, seu corpo é levado pelos parentes para o Rio Ganges. Lá ocorre a
cremação, num ritual repleto de detalhes. Para os indianos, a pessoa não é o
corpo, mas a alma, que parte para outra dimensão.
Por isso, cantam e festejam.
Dependendo do mérito conquistado em vida, o espírito passará um período no loka, uma espécie de céu. Esgotadas as credenciais, tem de retornar à instância
física.
No trajeto, assimila o que necessita
vivenciar na próxima estada, o espírito percorre as dimensões mentais e
emocionais e vai conhecendo os desafios que terá de enfrentar na vida nova.
Nasce, portanto, imbuído da missão que vem cumprir na encarnação atual,
resgatando uma parcela dos erros cometidos no decorrer das vidas anteriores.
E regressa para as famílias
alinhadas a seu mérito (ou demérito) espiritual, mental e emocional. Almas
evoluídas nascem na mais alta casta, a dos brâmanes, representada por
sacerdotes e filósofos. O grupo logo abaixo cai na casta dos xátrias, composta
de guerreiros e políticos.
As almas menos nobres vão para a
casta dos comerciantes, os vaishas, e, por último, para a casta dos
trabalhadores, os shudras. Quando a alma atinge um patamar espiritual elevado e
consegue finalmente se desapegar do mundo material, mental e emocional, passa a
ter um entendimento perfeito das coisas, sem ilusões.
Aí não precisa mais encarnar. A
grande maioria dos indianos aceita essa sina plenamente. Entende que está onde
está por mérito e, se ascender, passando por todas as instâncias no decorrer de
sucessivas encarnações, haverá uma grande ordem social. Do contrário, imperará
a desordem.
Judaísmo
O judaísmo prega que todos os
mortos serão ressuscitados na Era Messiânica (quando o Messias chegar à Terra).
Mas a ideia da reencarnação também está presente nos livros judaicos, embora os
rabinos falem muito pouco sobre ela.
Cabala
Para a cabala, conjunto de
princípios espirituais anterior às grandes religiões monoteístas, a alma é
imortal. Antes de nascer, assinamos uma espécie de contrato por meio do qual
nos comprometemos a enfrentar determinadas situações desafiadoras que podem
trazer tristezas e dificuldades, provações que contribuem para nosso
aperfeiçoamento.
Quando morremos, revisamos o que
fizemos ou não na Terra antes de estar aptos a retornar. Há três níveis de alma
que vão pouco a pouco se alojando no corpo. O mais "baixo", chamado
nefesh, entra primeiro; o intermediário, ruach, aos 12 ou 13 anos; e o mais
elevado, neshama, aos 20 anos.
Quando a pessoa morre, a neshama
leva uma semana para partir, por isso, nesse período, os espelhos da casa são
cobertos. Assim, a alma, ainda confusa em relação a seu estado, não corre o
risco de levar um choque ao visitar o local. O segundo nível demora até 30 dias
para desabitar o corpo.
E o mais baixo até um ano.
Enquanto a alma ou partes dela estiverem ligadas ao corpo, não estará pronta
para reencarnar, o que pode lhe causar sofrimento. A consciência da pessoa em
vida determina seu entendimento na hora da morte. De toda forma, para proteger
o ente querido e ajudar a alma a se elevar, demonstrando amor por quem partiu,
os familiares entoam uma prece em sua memória, chamada "kadish."
Se a vida depois da morte existe
ou não ninguém poderá emitir atestado de garantia. Mas o que com certeza se
conhece muito bem é o avassalador interesse do público pelo tema. Interesse que
é fartamente alimentado pela indústria cinematográfica.
Num país predominantemente
cristão, 3,4 milhões de pessoas foram ao cinema assistir a Chico Xavier, o
Filme, adaptação da biografia do médium e líder espírita mineiro, lançada em
abril de 2010. Cinco meses depois, mais de 4 milhões de espectadores lotaram as
dezenas de salas que exibiram a superprodução Nosso Lar. Na telona, a saga do
espírito do médico André Luiz no além, baseada no best-seller homônimo
psicografado por Chico Xavier.
No embalo desses sucessos, foram
lançados o documentário As Cartas Psicografadas por Chico Xavier e o longa As
Mães de Chico Xavier. Até Hollywood explora o mesmo filão. Em 2009, Um Olhar do
Paraíso retrata a perspectiva de uma garota assassinada. No ano seguinte, o
diretor Clint Eastwood questionou os desdobramentos de uma perda e uma
experiência de quase morte em Além da Vida.
O mercado editorial
espiritualista apresenta a mesma efervescência dos estúdios de cinema. "A
obra Nosso Lar vendeu 400 mil exemplares só na época do lançamento do filme. A vendagem total chega a quase
2,5 milhões", diz Geraldo Campetti, diretor da Federação Espírita
Brasileira, a maior editora do gênero no Brasil.
"A literatura espírita
movimenta de 15 a 20 milhões de exemplares anuais, o que representa um
faturamento de 50 a 60 milhões de reais por ano", afirma Jetter Jacomini
Filho, vice-presidente de comunicação da Associação de Editoras, Distribuidoras
e Divulgadores do Livro Espírita (Adeler).
Zibia Gasparetto, de 84 anos,
responde por uma bela fatia desse fenômeno. "Entre 2009 e 2010, tivemos um
crescimento de 30% nas vendas", afirma Marcelo Cezar, coordenador
editorial do selo Vida Consciência, fundado por Zibia.
Autora de 35 títulos, entre
romances psicografados, crônicas e estudos de fenômenos paranormais, ela foi a
"mediadora" do best-seller Ninguém É de Ninguém, que narra o drama
vivido por um casal às voltas com o ciúme, numa crise que remete a vidas
passadas.
Com 1 milhão de exemplares
vendido, o livro está em vias de se tornar filme. "Zibia não gosta de ser
comparada a Chico Xavier, apesar de terem sido amigos e de ela ter por ele o
maior respeito", diz Marcelo, e explica: "Chico psicografava livros,
sim, mas também encabeçava sessões mediúnicas abertas ao público. Ela está mais
focada na psicografia e na editora. Faz sucesso simplesmente porque segue e
divulga princípios e valores espiritualistas".
Afinal, será que atravessamos
tempos tão incertos, haja vista a onda de catástrofes naturais, além dos
surtos de violência e de intolerância, a ponto de buscarmos conforto não na
vida em si, mas em sua continuidade em esferas superiores?
Será por isso que sentimos uma
urgência em compreender o incompreensível, ou seja, o mistério da finitude?
Ainda não somos capazes de tolerar a única certeza que nos é dada: nossa
mortalidade?
Por que, de tempos em tempos, a morte vira tema?
Na visão de Daniel Sottomaior, presidente da Associação Brasileira de Ateus e
Agnósticos (Atea), a vida depois da morte é um tema de interesse cíclico.
Aparece na mídia de tempos em tempos, causando alvoroço no público e, claro,
motivando a indústria do entretenimento a produzir obras com o tema.
"Foi assim na época do
blockbuster O Sexto Sentido. Filmes e livros pautam uns aos outros. Se há um
primeiro projeto que vai bem, o resto vai atrás", afirma Sottomaior.
Geraldo Campetti faz outro
diagnóstico. Segundo ele, nos dias de hoje, pautados pelo materialismo e pelo
hedonismo, as pessoas estão perseguindo respostas mais satisfatórias.
"As buscas guiadas pelo
prazer imediato se esgotam rapidamente, deixando um vazio, como se não
estivéssemos satisfazendo uma necessidade que vai muito além das questões
superficiais", afirma Campetti.
A necessidade de encontrar
sentido para os eventos da vida acaba vencendo a alienação. "Quem sou eu?
O que estou fazendo aqui? Para onde vou depois da morte?".
Ante indagações tão complexas,
diz Geraldo, simplificações como a dicotomia céu-inferno não dão conta de
saciar nossa sede de entendimento: "As pessoas querem explicações mais
racionais para a vida e isso instiga questionamentos existenciais muito mais
amplos e profundos".
Em meio a tantas incertezas, de
terremotos e tsunamis a doenças de cura desconhecida, mesmo com tanta oferta de
tecnologia, a continuidade da vida em planos superiores soa como o refrigério
de que necessitamos para nos mantermos em pé.
"Essa certeza é um consolo
incrível. Apegados a ela, não precisamos depositar todas as esperanças apenas
na vida física", diz o diretor da Federação Espírita Brasileira.
Por outro lado, a imortalidade do
espírito nos responsabiliza pelos sentimentos, pensamentos e ações praticados
aqui, no plano terrestre. Carregaremos para a vida depois da morte os créditos
e os débitos angariados no dia a dia. "Se acredito que a morte é passagem,
transformação, eu vivo a vida de forma mais consciente e coerente", afirma
Geraldo.
Assim, não corremos o risco de
ser abatidos pela desmotivação, manifesta em questionamentos como estes:
"Para que me esforçar para ser um ser humano melhor, se tudo vai acabar um
dia?", "Se existe um Deus justo, por que pessoas inocentes são alvo
de tantas calamidades?".
Como lidamos com o temor e a incerteza
Enquanto estamos ocupados com a
rotina, executando tarefas, parece que mantemos o sensor espiritual desligado e
a temática da morte e seus desdobramentos passam longe. Mas, quando as
fatalidades atravessam nosso caminho, cresce o interesse pelo assunto. Essa é a
teoria de Marcelo Cezar.
"Quando a enfermidade, a
perda de entes queridos ou mesmo as grandes catástrofes nos afligem, levamos um
solavanco e percebemos que as coisas podem acabar de repente", diz ele. E
que vida não sofre a interferência do imponderável?
Nessas horas, lamentamos os
infortúnios e paramos por aí, ou levantamos hipóteses que expliquem as
contrariedades que nos vitimaram. Em geral, a segunda alternativa prevalece.
"Lidar com eventos
incongruentes que perpassam a vida é angustiante. A maioria das pessoas precisa
se agarrar a alguma explicação", diz Daniel, e emenda uma crítica:
"Para Freud, a figura de Deus como pai e protetor, aquele que decide as
coisas por nós, é uma grande infantilização. Precisamos virar adultos e parar
de achar que alguém vai cuidar de nós".
Jetter discorda. Para ele, o
desalento ou a sensação de desamparo ante os mistérios da existência não são
suficientes para justificar a crença em esferas mais elevadas, onde o espírito
seguiria sua trajetória: "Os materialistas rotulam o crente como alguém
desgostoso com a realidade. Trata-se de uma visão equivocada".
O conceito de morte e
renascimento, ou seja, de reencarnação, segundo ele, se insere num contexto bem
mais amplo: "Trata-se de um processo biológico e evolutivo. Não é algo
religioso e, sim, uma lei universal da natureza".
Segundo Geraldo, "a sucessão
de vidas regidas pela lei de causa e efeito nos dá a oportunidade de ampliar a
consciência. Esse entendimento tornará a sociedade mais ajustada".
Será? É a pergunta dos ateus.
Para eles, a expectativa em relação ao destino da alma desencarnada produz
inquietações nada amigáveis: "As pesquisas mostram que boa parte das
pessoas fica ansiosa ou deprimida com a possibilidade do que vem depois da
morte, preocupadas se vão se dar bem ou mal".
A incerteza se soma à culpa pelas
falhas cometidas e à apreensão quanto ao preço cobrado por elas, uma vez que
somos responsáveis pelos acontecimentos de nossa biografia. Já os céticos
dispensam esse fardo. "Somos livres da culpa, um sentimento impingido
pelas religiões. Vivemos ao acaso, regidos por leis naturais e abertos à
influência de toda gente, sejam nossos iguais, sejam diferentes", diz
Daniel.
Quais são as contribuições da ciência?
Esse debate ganha a cada dia
maior intensidade, tentando elucidar questões ligadas à saga humana e isso
inclui a partida desse plano. Na busca por respostas, a concepção de
religiosidade, cada vez mais multifacetada, leva as pessoas a agregar novos pontos
de vista a suas crenças.
"A religião como instituição
está caminhando para o fim. E a noção de espiritualidade, ligada à força
interior de cada um, está se disseminando", diz Marcelo. "A
religiosidade está dentro de cada um. São os valores morais e éticos praticados
aqui e levados para o mundo espiritual", afirma Geraldo.
A ciência, quem diria, tem
contribuído, ainda que de forma tímida, para a aceitação de temas taxados de
sobrenaturais. O legado do psiquiatra canadense Ian Stevenson (1918-2007)
norteia a ala de pesquisadores que, assim como ele fizera no passado, se dedica
à investigação de fenômenos considerados paranormais, tais como a experiência
de quase morte, as visões e as aparições, a sobrevivência do indivíduo em
instâncias invisíveis e a memória de vidas passadas conservada pelas crianças.
"Ian Stevenson publicou
livros fantásticos com a chancela da Universidade da Virgínia. A visão de um
cientista mexe com as pessoas", diz Marcelo. Twenty Cases Suggestive of
Reencarnation (Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação) (Lightning Source) e
Children Who Remember Previous Lives (Crianças que Relembram Vidas Passadas)
(McFarland Co. Inc.) são algumas de suas obras.
A psicoterapeuta americana Sukie
Miller é outra referência nessa área. No livro: Depois da Vida (Summus
Editorial), ela apresenta considerações decorrentes de oito anos de pesquisas
com mais de 30 grupos étnicos, culturais e religiosos, além das vivências
compartilhadas com pacientes terminais.
"Algumas religiões entendem
a jornada de pós-morte de forma simples, outras de maneira complexa. Mas todas
as tradições do planeta acreditam na existência de algum tipo de
travessia", afirma Sukie. "Trata-se de um mistério universal."
As especulações, segundo ela,
nascem das inquietações da alma, do desejo de, um dia, nos unirmos aos entes
queridos no além, da necessidade de nutrirmos a esperança de que a vida não
termina aqui ou até mesmo da ânsia pela redenção.
"A própria noção de viagem
que tem um destino, no pós-morte, carrega em si um sentido de não ruptura com a
realidade, de um caminhar provido de intencionalidade, energia e, quem sabe,
até mesmo de júbilo", diz ela.
Assim, então, só nos resta
indagar como as projeções sobre o que sucede a morte nos ajudam a passar com
mérito pela estada terrena. Sukie tem a resposta: "Aprendemos que em vida
também temos de atravessar períodos de morte emocional, como a morte do
casamento, da juventude, da carreira, da saúde". Sim, vida e morte estão
entrelaçadas.
Fonte: http://exame.abril.com.br
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