Bispos querem «reabrir questão de Deus»
Relação entre ciência e fé no
meio académico dominou encontro em Paris promovido pelo Conselho das
Conferências Episcopais da Europa
Responsáveis do setor da pastoral
universitária católica de toda a Europa concluíram este domingo um encontro de
três dias em Paris, onde debateram soluções para uma maior aproximação entre a
ciência e a fé.
De acordo com o Conselho das
Conferências Episcopais da Europa (CCEE), entidade organizadora do evento,
atualmente aquelas duas áreas “ainda são encaradas como se fizessem parte de
dois blocos irreconciliáveis”, mas esta “separação não corresponde à verdade”.
“O verdadeiro problema reside na distinção
entre fé e razão, entre a fé e a visão que cada pessoa tem da verdade”, pois
“frequentemente atribui-se valor científico a algo que não é ciência”, salienta
o organismo católico, que reuniu na capital francesa cerca de 40 pessoas de 22
países, entre bispos, delegados pastorais e representantes de associações e de
movimentos nacionais.
Sob a coordenação do presidente
da secção do CCEE para a “Catequese, Escola e Universidade”, o bispo polaco
Marek Jedraszewski, e com o apoio de diversos peritos, o grupo de reflexão
chegou à conclusão de que “é necessário promover a aproximação entre as
diversas disciplinas do pensamento humano e a própria religião”.
A universidade deve ser “um local
de confrontação, de troca de opiniões e de reflexão, um lugar que permita
alargar os horizontes e reabrir a questão de Deus”, sustenta o comunicado da
CCEE, que considera essencial mostrar as estudantes “o quanto a crença em Deus
e uma vida de fé pode ser intelectualmente respeitável e entusiasmante”.
“A ciência é um caminho possível
para o encontro pessoal com Deus, e a fé não depende de uma equação, de um
algoritmo ou de uma fórmula científica”, afirma o texto final do encontro, que
critica a tentação de transformar a “pessoa apenas numa soma de elementos
físicos”.
Os responsáveis pela pastoral
universitária do Velho Continente lamentam que “o diálogo na esfera académica”
fique muitas vezes a meio caminho devido a um “ateísmo agressivo”, que
“bloqueia qualquer forma” de abordagem.
Aqueles agentes alertam para a
importância de recusar “extremismos”, tanto por parte dos que reclamam a
primazia da ciência sobre a crença como também pelos que apoiam a “visão
criacionista do mundo”.
“É necessário falar corretamente sobre a
história do relacionamento entre a ciência e a Igreja”, e cortar com uma “visão
simplista e por vezes distorcida” também responsável pela “ideia de uma Igreja
obscura”, sublinha o CCEE.
Segundo os responsáveis pela
pastoral universitária na Europa, enquanto “ao longo da história alguns
governos tentaram alimentar uma perceção do mundo baseada numa visão científica
limitada e específica da realidade, o catolicismo teve sempre como objetivo
conciliar todos os elementos da verdade de modo a revelar a verdade absoluta,
que é Jesus Cristo”.
Neste âmbito, o diretor do Centro
de Ciência e Religião Ian Ramsey, da Universidade de Oxford, de Inglaterra,
frei Pinsent, recordou “o número elevado de cientistas cristãos que ao longo
dos séculos contribuíram para a análise científica da verdade”.
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