Como a Igreja Católica vê o islã europeu? – Por Patricia Navas González


A Igreja Católica se aproxima dos muçulmanos que vivem na Europa, 44 milhões em 2010, segundo a Anistia Internacional, incluindo os da Turquia.

Tal aproximação se dá com confiança crítica, segundo Andrea Pacini, coordenador da rede de bispos e delegados para as relações com os muçulmanos na Europa, que realizou seu terceiro encontro em Londres, de 1º a 3 de maio.

"Confiança porque se considera que há possibilidades para um diálogo juntos; mas também confiança crítica, porque se constata, ao mesmo tempo, que existe um grande leque de perfis, com relação aos quais é preciso fazer propostas firmes", afirmou.

A presença de pessoas de fé islâmica na Europa varia muito, segundo os países: Espanha, 2,3%; Bélgica, 6%; Reino Unido, 4,6%; França, 7,5%. Pacini explica que a Igreja tem duas propostas: acolhimento (estabelecendo relações fraternas, para que as religiões, juntas, possam contribuir para o bem comum) e distanciar-se de toda forma de violência, de toda interpretação contrária ao respeito pela dignidade humana.

Pacini se referiu a alguns "valores a acolher, mas também a exportar aos países muçulmanos", citando, em concreto, a igualdade entre homem e mulher, a liberdade religiosa para todos e a distinção entre as esferas política e religiosa.

O encontro de Londres centrou sua atenção na educação e nos jovens. Os participantes, delegados de 20 conferências episcopais, acompanhados pelo presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso, cardeal Jean-Louis Tauran, e por diversos especialistas, constataram a necessidade de que as pessoas e comunidades estejam arraigadas em sua fé, mas a partir de uma perspectiva de diálogo. Só assim poderá haver diálogo inter-religioso.

Pacini fez uma distinguiu três perfis de jovens muçulmanos, filhos nascidos e educados na Europa, de pais islâmicos: os que vivem sua fé muçulmana sem expressá-la publicamente (a maioria), os que querem integrar sua cidadania europeia a uma pertença religiosa que se expressa no âmbito público, e os que constroem sua identidade de maneira antagônica à Europa, com expressões e formas de islamismo fundamentalistas e radicais (uma minoria).

O desafio da internet

Uma das especialistas que interveio no encontro, Brigitte Maréchal, do Instituto de pesquisa sobre religiões da Universidade Católica de Lovain, destacou que, para eles, o ponto de referência já não é a mesquita, mas a internet, com os pregadores presentes na rede.

Para ela, há uma necessidade de educar os jovens muçulmanos não só na língua árabe ou no Corão, mas para que interpretem o islã em relação ao contexto europeu, democrático e pluralista.

Com relação os jovens cristãos, os especialistas constataram certa fragilidade, sobretudo nos países do norte da Europa. Há casos de jovens católicos de bairros populares de grandes cidades francesas que se tornam muçulmanos, por exemplo.

Neste sentido, o cardeal Tauran destacou que "a grande crise europeia, da qual se fala tanto hoje, é sobretudo uma crise de cultura, ou melhor, uma crise na transmissão cultural"; recordou que, "para entrar em diálogo, primeiro é preciso saber quem sou eu e em que eu acredito".

Identidade, alteridade e pluralismo

"Não se pode dialogar sobre a ambiguidade", disse, acrescentando que o diálogo inter-religioso requer primeiro uma amizade, para que o outro se sinta acolhido, escutado e compreendido.

Para o cardeal Tauran, emergem três desafios: o da identidade (aprofundar na própria fé), o da alteridade (ver o outro não como um inimigo, mas como um companheiro no caminho da fé, rumo à verdade) e o do pluralismo (aceitar que Deus age em cada um).

Os representantes das relações da Igreja Católica com os muçulmanos na Europa coincidiram em destacar que é preciso evangelizar para dialogar, e só na medida em que consiga uma evangelização significativa entre os jovens europeus católicos, será possível promover o diálogo da vida, o diálogo espiritual.




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