Tratamento com religião divide especialistas - Com a colaboração de Fernanda Kalena
Ninguém sabe ao certo quantas
comunidades terapêuticas existem no país e qual o tipo de trabalho que cada uma
delas executa.
O número mais aproximado vem de
um censo do Ministério da Justiça e da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, em que as próprias entidades se cadastram. Estão listadas 1.830
comunidades, 407 em SP.
Estima-se que a maioria seja
mantida por alguma entidade religiosa e tenha a "espiritualização"
como foco -em algumas, rezar é o único tratamento oferecido.
Por isso, alguns especialistas
colocam em dúvida a eficácia do tratamento. "Não há evidências científicas
de que funciona", afirma o professor da Faculdade de Ciências Médicas da
Unicamp, Luís Fernando Tófoli.
Na Conquista, a presença nos
encontros espirituais, que ocorrem três vezes na semana, é obrigatória, mesmo
que o paciente prefira ficar sentado, sem participar.
Antes de todas as refeições
reza-se e, às vezes, há uma "chamada oral" de salmos, o nome de um
dos pacientes é chamado e pede-se para que ele recite um. Também não é permitido tocar
músicas "do mundo" (que não sejam religiosas). A questão gera polêmica entre os
especialistas.
Para Elisaldo Carlini, membro do
comitê de peritos sobre drogas e álcool da OMS (Organização Mundial da Saúde),
ela pode ajudar.
"O grande diferencial das
comunidades terapêuticas é, justamente, a ênfase colocada na espiritualidade. O
objetivo é que por meio da religião o indivíduo encontre a si próprio e
encontre forças para superar o vício."
Para Tófoli, a religião é
aceitável quando o tratamento não leva verba pública. "Quando a gente envolve o
dinheiro público no tratamento é complicado ter um modelo onde o indivíduo tem
que celebrar rituais".
Ronaldo Laranjeira, coordenador
do Programa Recomeço, diz que comunidades que fizerem o convênio com o Estado
não poderão obrigar que os internos participem de atividades do tipo.
"Não vamos financiar
conversão religiosa", diz. Ele reconhece, entretanto, que a maioria delas
estabelece atividades espirituais. "Elas praticam a
reabilitação: parar de usar drogas e restabelecer valores básicos de vida. Por
isso elas podem transmitir valores universais de espiritualidade".
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br
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