40 anos de luta por Direitos Humanos, Desenvolvimento e Justiça - Por Eliana Rolemberg
Naquele 13 de junho de 1973,
quando nascia a CESE, conjugavam-se duas forças, dois sentimentos que até hoje
permanecem:
o compromisso com as lutas do povo brasileiro pela cidadania, e o
desejo, sob a inspiração do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), de construir uma
organização ecumênica de serviço.
A CESE, ao ingressar no cenário
nacional, em pleno regime militar, superava três grandes preconceitos: desafiar
as igrejas evangélicas históricas a voltar sua atenção e prioridade para a
região mais pobre do País, o Nordeste, embora distante de suas sedes
institucionais, concentradas no Sul; definir-se por pequenos projetos voltados
para o desenvolvimento comunitário autônomo como peça central de sua política
de apoio; estreitar o diálogo com a Igreja Católica para uma experiência em
comum. Estava então, em curso, uma luta interna no âmbito da cooperação
ecumênica internacional, quanto à melhor forma de promover a justiça e a
solidariedade com países em desenvolvimento, como o Brasil.
A CESE foi criada justamente para
se contrapor a mecanismos superados e não transformadores do status quo com que
se ocupava a cooperação, até então concentrada em grandes projetos.
O projeto institucional ancorado
nos marcos de sua missão foi amadurecendo pacientemente, o que lhe possibilitou
longevidade. O artigo 4º de seus estatutos afirma que a CESE “dá prioridade aos
projetos sociais que assegurem efetiva participação da comunidade beneficiária,
na concepção, no planejamento, na implementação, no acompanhamento e
autoavaliação dos mesmos”, entendendo por projeto social “aquele que, nos
moldes da fé cristã, destina-se a promover o ser humano, em todas as suas
dimensões, sem discriminação social, econômica, religiosa e racial”.
Priorizar pequenos projetos
assumidos com autonomia pelas comunidades de origem foi uma opção assumida pela
CESE, considerando várias questões analisadas, entre as quais:
os pequenos projetos demonstram
considerável poder multiplicador, chamado efeito semente, capaz de ampliar seus
resultados para além da população imediatamente atendida. Essa dimensão
educativa, ademais, reforça nos grupos sua condição de sujeito nos processos de
mudança;
os pequenos projetos representam,
em sua grande maioria, iniciativas locais que têm impedido, concretamente, que
o processo de exclusão social tenha um efeito mais devastador, pois integram
gêneros, etnias, segmentos diversos do campo e da cidade, em função da
satisfação de necessidades coletivas.
A CESE chegou a desenvolver um
Programa de apoio a pequenos projetos, compreendendo que os mesmos estão
inseridos em processos e, para garantia de sua contemporaneidade, faz-se
necessário acompanhar, permanentemente, a dinâmica dos movimentos sociais que
influencia a criação de novos contextos e campos de atuação, indicando atualizações
acerca da concepção e potencialidade dos pequenos projetos.
Atualmente, a Missão da CESE tem
a seguinte formulação:
Fortalecer organizações da
sociedade civil, especialmente as populares, empenhadas nas lutas por
transformações políticas, econômicas e sociais que conduzam a estruturas em que
prevaleça democracia com justiça.
A CESE procura contribuir para o desenvolvimento social e econômico entre os chamados “excluídos” e outros setores populacionais identificados como prioritários.
O propósito é fortalecer a
sociedade civil como fator fundamental na transformação do País, por meio do
apoio a projetos de grupos e organizações populares, associações comunitárias,
movimentos, sindicatos e também ONGs e entidades eclesiais, numa dimensão
ecumênica. Esse apoio estende-se a todo o território nacional.
A CESE tem uma identidade que a
diferencia de outras organizações no Brasil. Ela é organismo ecumênico, pela
própria constituição institucional e não deixa de ter elementos que a
caracterizam como organização não governamental (ONG). Seu papel central é o
serviço, das igrejas que a compõem, para os movimentos populares.
Na maior parte de sua trajetória,
a CESE ocupou um lugar de convergência entre igrejas, agências de cooperação e
movimentos populares. Por isso, afirmava-se que a CESE estava no vértice das
relações. Estar no vértice, até graficamente, significa estar num ponto
privilegiado e simboliza um permanente tensionamento que, no caso, é criativo e
impulsionador. Ela sempre desempenhou um papel facilitador de contatos e
oferece espaços e subsídios para reflexão, diálogo e articulação.
Em quatro décadas de trabalho, a
CESE já apoiou mais de 10 mil projetos de organizações populares em todo o
Brasil, numa média de 400 projetos apoiados por ano. Com isso, a CESE já
contribuiu para melhorar a qualidade de vida de aproximadamente 9,5 milhões de
pessoas.
Falar sobre a CESE é falar de
transformação social. Por isso, a sua história só pode ser contada no plural,
com a participação de quem fez e faz parte da sua trajetória!
O compromisso da CESE com os
Direitos se reforça a cada dia, com o brotar das tantas sementes espalhadas
pelo País.
A cada grupo popular que nasce
nas periferias das cidades e nos campos…
A cada novo movimento popular que
se organiza…
A cada movimento que se reforça…
A cada rede tecida por mulheres e
homens, nas lutas para transformar nossa sociedade, em busca de justiça, de
paz…
Aí está a razão de ser da CESE!
Eliana Rolemberg - Diretora
Executiva da CESE (2000 – 2013) 40 anos de luta por Direitos Humanos,
Desenvolvimento e Justiça
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