Bienal de Veneza destaca obras de brasileiros – Por Guilherme Aquino
Todos os canais de Veneza levam à
55ª Bienal das Artes da cidade italiana, que a partir deste sábado abriga 158
artistas de 37 nações.
A eles somam-se as exposições
nacionais de 88 países, sendo dez estreantes, entre eles o Vaticano. Elas
estão instaladas em pavilhões próprios ou em sedes emprestadas, que vão do
pátio interno de um quartel da Marinha italiana a igrejas, palácios de época e
praças públicas.
O tema da Bienal é "O
palácio enciclopédico", uma utópica construção do ítalo-americano Marino
Auriti (1891-1980). Trata-se de um museu que deveria ter sido criado em 1955,
em 16 quarteirões de Washington. Seu objetivo era concretizar a ideia de abrigar
todo o saber da humanidade em um único local. A maquete original está na
entrada do Arsenal, uma das duas principais áreas da grande mostra.
A Bienal retoma o tema e lança o
desafio de recolher a memória passada e "futura" das belas-artes. O curador Massimiliano Gioni
propôs, através desse exercício de arqueologia artística, investigar o mundo
criativo de quem filma, esculpe, pinta, desenha e representa o imaginário coletivo
e a imaginação pessoal.
"Todos são criadores de
imagens, e não tem diferença entre um artista formado e um autodidata",
diz Gioni.
Mundo dos sonhos
E ele parte da repetição de uma
ideia que "martela" na cabeça de um artista até a realização de uma
obra. Por isso mesmo é um livro, o
Livro Vermelho, do suíço Carl Jung (1875-1961), a obra que abre a Bienal, no
Pavilhão Central. Os desenhos que ilustram o volume original estão reproduzidos
nas paredes laterais. O mundo dos sonhos ganha uma interpretação real.
Numa sala adjacente está a obra
da suíça Emma Kunz (1892- 1923), que acreditava ter poderes paranormais e
realizava pinturas geométricas com o objetivo de analisar o fluxo de energia
entre si e o paciente em cura.
A Bienal também dá grande
destaque às obras do brasileiro Arthur Bispo do Rosário, que expõe 15 tapeçarias
e objetos numa grande sala no Arsenal.
"Estou muito contente que
ele esteja aqui, numa Bienal que parece marcada pela vontade de romper com o
fechamento da arte e por estabelecer o diálogo com o inconsciente, com o
involutário, com a arte popular", disse à BBC Brasil Luís Pérez-Oramas,
curador do pavilhão brasileiro.
Arte política
A bienal também abre espaço para
manifestações políticas. Entre os 47 eventos paralelos, existem aqueles que
usam a arte para denunciar questões de direitos humanos e a sociedade
consumista.
A modelo e atriz Milla Jovovich
participa de leilões imaginários de arte e vestidos, com um tablet nas mãos,
prisioneira de um cubo de vidro.
A "perfomance" foi
realizada nos jardins do palácio histórico Malipiero Barnabò, sob os cuidados
da artista Tara Subkoff. O evento foi uma jogada publicitária de uma marca de
roupas, com uma mensagem nobre. Compre melhor e menos.
Já a obra do artista dissidente
chinês Ai Wei Wei ocupa a igreja de Sant’Antonin com o trabalho
"Sacred".
Ele criou a representação do
cotidiano de sua prisão de 80 dias ocorrida em 2011. Uma pequena "via
crucis", que vai do banheiro ao dormitório ou ao interrogatório, foi
recriada com estátuas de ferro. A mãe e a irmã do artista vieram à Bienal, em
seu lugar.
Entre festas nababescas nos iates
ancorados diante dos Jardins da Bienal e os leilões privados em salas
exclusivas, além de jantares para poucos convidados, a Bienal de Veneza espera
receber meio milhão de visitantes, até 24 de novembro.
Fonte: http://www.bbc.co.uk
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