Criação de igreja é negociada até em anúncio de classificados – Por Jailton de Carvalho
‘Não tem limite. É muita grana.
Dois milhões. Dez milhões’, diz o autor da proposta
Se abrir uma empresa é sonho de
consumo de todo empreendedor, montar sua própria igreja virou sinônimo de um
bom negócio. No último fim de semana, a seção de classificados de um jornal de
Brasília tornou público o desejo de um certo Francisco.
"Procuro 2 pessoas
p/ juntos abrirmos uma igreja", diz a curta mensagem na área destinada a
recados, logo abaixo de outros anúncios em que homens e mulheres procuram
parceiros para relacionamentos sinceros.
A mensagem de Francisco vem
acompanhada do número do celular para contato. Quem se atreve a ligar para o
telefone indicado, rapidamente esclarece qualquer dúvida sobre o motivo do
negócio. Na segunda-feira, o autor do anúncio, que se apresenta como Francisco,
foi direto ao ponto:
“Eu não sei qual é o seu
objetivo. O meu eu sei. É espiritual e financeiro. Sou bastante objetivo nos
meus negócios”, avisa.
Ele diz que prefere ser franco
porque não quer perder tempo com discussões sobre ortodoxia religiosa. Sem
contestação do outro lado da linha, Francisco se sente à vontade para expor
seus planos. Ele quer fundar uma igreja pentecostal como muitas outras que
existem por aí e ganhar muito, muito dinheiro. Basta usar técnicas de hipnose
coletiva, simular milagres e recolher dízimo.
“Não tem limite. É muita grana.
Dois milhões. Dez milhões. Ou até mais. O negócio é um rio correndo para o mar”,
profetiza.
Francisco tem como espelho
pastores de outras igrejas que surgiram no nada e, de repente, se tornaram um
império. Ele diz que não quer exatamente ser uma estrela de TV.
Não é um grande
orador e nem faz questão de demonstrar conhecimento profundo de textos
sagrados. Para o mais novo candidato a pastor, basta uma sala num barraco
qualquer, de preferência numa área bem pobre e algumas cadeiras de plástico.
“As igrejas não estão procurando
pastores. Eles querem um sujeito que tenha noção de hipnose. Que é uma coisa
muito mais rápida. Você vai chegar numa sessão, vai hipnotizar o povo. A pessoa
vai ficar hipnotizada. Vai te dar 10% hoje. Amanhã da mais 10% e conta o
milagre para os outros”, explica.
Segundo ele, as pessoas mais
simples querem milagres e estão dispostas acreditar em qualquer situação que
pareça extraordinária. O futuro pastor diz ainda que os riscos do negócio são mínimos.
O aluguel de uma sala num bairro pobre fica em torno de R$ 500. As cadeiras de
plástico podem ser compradas a medida em que o número de fiéis for aumentando.
Ele até sugere um lugar para começar:
a Vila Estrutural, uma das favelas mais
pobres do Distrito Federal. Não importa se outras igrejas chegaram primeiro. “Quanto mais, melhor”, diz.
Em seguida convida o interlocutor
para uma conversa particular para acertar os detalhes do negócio. No primeiro
contato não pediu investimento inicial dos sócios, nem disse como o negócio
será rateado.
A fé pode render muito. Exemplos
não faltam. E, então, ele começa a citar nomes de outros aventureiros que se
tornaram ricos, muito ricos, vendendo ilusões. Francisco é de uma sinceridade
quase religiosa.
Fonte: http://oglobo.globo.com
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