Equívocos de redação prejudicam trabalhos científicos brasileiros - Por Elton Alisson
Os pesquisadores brasileiros têm
se esforçado para melhorar suas habilidades em redação, mas ainda cometem erros
ao escrever uma tese ou artigo, segundo Gilson Volpato, especialista em redação
e publicação científica.
Para Volpato, professor do
Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da Universidade Estadual
Paulista (Unesp), isso ocorre porque muitos pesquisadores não dominam ainda
conceitos básicos da redação científica.
“Temos boas pesquisas no Brasil
que, muitas vezes, são poucos citadas porque os resultados são mal
apresentados. Isso se deve a uma série de equívocos sobre conceitos
fundamentais na redação de um texto científico, que precisam ser corrigidos”,
disse Volpato, à Agência FAPESP.
De acordo com o autor, que dá
cursos sobre o tema e já auxiliou pesquisadores a reescreverem mais de 250
artigos em humanas, exatas e biológicas, um dos conceitos relacionados à
estrutura e apresentação dos textos utilizado de maneira equivocada está na
introdução.
É comum, segundo ele, alguns
pesquisadores erroneamente apenas discorrerem nessa parte fundamental de um
texto científico sobre a literatura científica que leram, sem fundamentarem as
bases e os objetivos da pesquisa.
“Esse é um vício observado nas
introduções de algumas teses e dissertações, onde se inclui a chamada ‘revisão
da literatura’, por exemplo, e tenta-se replicar essa mesma estrutura de texto
nos artigos submetidos às revistas científicas. Porém, essa estrutura acaba não
sendo publicada porque os artigos científicos internacionais seguem a lógica
científica que é adotada por todas as boas revistas científicas no mundo e não
se pode querer fazer algo diferente”, disse Volpato.
Outro conceito errado é sobre
artigo de revisão científica. A ideia é que tal trabalho contribua para o
avanço do conhecimento, mas, de acordo com Volpato, muitos artigos do tipo
costumam apenas resumir as pesquisas em suas respectivas áreas.
“Há pesquisadores que coletam uma
série de dados da literatura recente em suas áreas, fazem um resumo de todo o
material coletado e acham que fizeram um artigo de revisão. Mas o artigo de
revisão tem que avançar, tem que trazer novas conclusões”, afirmou.
Reavaliação de conceitos
Volpato, em parceria com mais
cinco pesquisadores, acaba de lançar o Dicionário crítico para redação
científica, com o intuito de contribuir para corrigir e balizar conceitos
utilizados erroneamente por pesquisadores brasileiros.
O livro reúne definições de 750
termos utilizados em várias áreas, relacionados à publicação, redação,
Filosofia da Ciência, Ética, Lógica, Administração, Estatística, Metodologia,
Biblioteconomia e Cientometria, entre outras.
Entre os conceitos definidos
pelos autores estão os de autoria, fator de impacto, método lógico e
metanálise. “O livro reúne conceitos úteis a cientistas de qualquer área, que
são definidos com clareza para nortear a construção de uma ciência que seja de
alto nível e que atenda aos padrões internacionais de publicação”, afirmou
Volpato.
Segundo ele, a publicação leva o
nome de dicionário crítico porque muitas definições atuais utilizadas de forma
corrente precisam ser reavaliadas. “O dicionário apresenta definições mais
ousadas e também faz críticas a alguns conceitos mais tradicionais que já não
fazem mais sentido no universo atual da ciência e da redação científica”,
disse.
De acordo com Volpato, há poucos
exemplos desse tipo de publicação, a maioria voltada para áreas específicas,
como o Critical Dictionary of Sociology e o Critical Dictionary
of Art, Image, Language and Culture.
A ideia é que a publicação
brasileira chegue a ter mais de 5 mil palavras nas próximas edições. Para isso,
já está sendo formada uma equipe com especialistas em diversas áreas, e os
autores estão solicitando sugestões de novos termos para serem inseridos.
“As pessoas podem sugerir termos
ou fazer críticas aos conceitos já definidos, para que possamos revê-los”,
disse Volpato. Os interessados em dar sugestões devem enviar e-mail para: dcrc2013@gmail.com. Os nomes dos autores
das sugestões aceitas serão mencionados nas respectivas edições nas quais suas
contribuições forem publicadas.
Além do novo dicionário, Volpato
também é autor dos livros: Método lógico para a redação científica, Bases
teóricas da redação científica, Publicação científica, Administração
da vida científica, Pérolas da redação científica, Dicas para redação
científica, Ciência: da filosofia à publicação e Estatística sem
dor!.
O professor também divulga seu
trabalho no site: www.gilsonvolpato.com.br,
que oferece artigos, dicas e reflexões sobre redação científica, educação e
ética na ciência. O site dá acesso a aulas on-line do curso: “Bases teóricas
para redação científica”, apresentado por Volpato na Unesp.
Dicionário crítico para redação
científica
Lançamento: 2013
Páginas: 216
Mais informações: www.bestwriting.com.br
Lançamento: 2013
Páginas: 216
Mais informações: www.bestwriting.com.br
Fonte: http://agencia.fapesp.br
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