Pesquisa etnográfica e folclórica nos anos 1930 - Por Noêmia Lopes
No início de
1935, os antropólogos Claude Lévi-Strauss (1908-2009) e Dina Dreyfus
(1911-1989) foram dois dos jovens professores franceses que desembarcaram na
capital paulista para integrar o corpo docente da então chamada Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL/USP), fundada
um ano antes.
Ambos passaram a
transitar entre estudiosos que buscavam o estabelecimento de instituições voltadas
à prática científica das ciências sociais, como o escritor e pesquisador Mário
de Andrade (1893-1945).
O vínculo
construído entre Lévi-Strauss, Dreyfus e Andrade em torno de interesses como
arte, etnografia e folclore é tema de: Um laboratório de antropologia,
escrito pela cientista social Luísa Valentini a partir de sua dissertação de
mestrado em Antropologia Social, que foi defendida na USP e contou com Bolsa da FAPESP e do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O encontro do
trio se deu em especial entre os anos 1935 e 1938, quando Andrade dirigiu o
Departamento de Cultura e Recreação na Prefeitura de São Paulo e criou a
Sociedade de Etnografia e Folclore, da qual Dreyfus e Lévi-Strauss foram
colaboradores de grande importância.
Com base em
documentos variados, como cartas, apostilas, fichas, relatórios e catálogos,
Valentini analisa as investigações empreendidas pelo trio naquele período. São
relatos acerca de cursos de etnografia ministrados por Dreyfus; de textos
escritos por Lévi-Strauss para a Revista do Arquivo Municipal; de
pesquisas de campo sobre folclore e cultura popular realizadas nos subúrbios da
cidade; e de debates sobre antropologia, etnografia, arte e psicologia, temas
sobre os quais os protagonistas não raro divergiam.
A parceria entre
os dois jovens professores franceses e o intelectual brasileiro já foi tema de
outras pesquisas em décadas anteriores e ganhou atenção especial após a
publicação, em 2004, de cartas enviadas por Lévi-Strauss a Andrade, pela
revista Les Temps Modernes e
pelo jornal Folha de S. Paulo.
Contudo, a abordagem
escolhida por Valentini remete não apenas à colaboração muito próxima entre os
três, como à análise dos dispositivos científicos por eles mobilizados.
Para tanto, o
primeiro capítulo faz referência ao que a autora chama de laboratório
imaginado: “Esse que seria o laboratório pensado na colaboração
entre os três personagens aqui considerados se delineia como um grande
mecanismo institucional, centrado na produção de um fichário antropológico que
articularia pesquisa em campo e em arquivo, pesquisadores leigos e
profissionais, coleções, registros e monografias, com vistas à sistematização
dos conhecimentos sobre o povo brasileiro em mapas e obras de referência como
dicionários, vocabulários e bibliografias”, descreve Valentini.
Em seguida, o
segundo capítulo rastreia influências, contatos e mudanças culturais que
preocupavam os três pesquisadores. E, por fim, o terceiro capítulo trata das
realizações da Sociedade de Etnografia e Folclore, como a bem-sucedida produção
de mapas folclóricos e a elaboração do fichário antropológico, que não chegou
de fato a se concretizar.
A cidade de São
Paulo da década de 1930, começando a ganhar contornos metropolitanos,
arranha-céus, universidades e sotaques estrangeiros, serve como pano de fundo
para as empreitadas de Lévi-Strauss, Dreyfus e Andrade.
Autora: Luísa Valentini
Lançamento: 2013
Páginas: 248
Mais informações: www.alamedaeditorial.com.br/um-laboratorio
Fonte: http://agencia.fapesp.br
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