Única Basílica da Amazônia, igreja de Nazaré quer atrair 2 milhões no Círio – Por Ingrid Bico e Natália Mello
A igreja de Nossa Senhora de
Nazaré, em Belém, é a única Basílica reconhecida pela Igreja Católica em
toda a Amazônia brasileira.
O local é o ponto central da devoção mariana no
estado do Pará: foi lá que, segundo a lenda, a imagem da Virgem Maria teria
sido encontrada pelo pescador Plácido há mais de 200 anos, dando início à
devoção cuja expressão máxima é a procissão do Círio de Nazaré, que acontece no
segundo domingo de outubro (13).
Helma Garcia diz que frequentar a
Basílica fortalece sua relação de fé com Maria. “Para mim, a Basílica é muito
especial, a começar pela própria arquitetura, cheia de detalhes. Sem contar
pelo lado espiritual. Dá para sentir a presença muito forte de Maria lá. Sempre
quando estou por perto, passo lá para fazer minhas orações, agradecer, e às
vezes rezar o terço. A sensação é de [estar no] colo de mãe”, revela.
Helma coordena um grupo de teatro
da Paróquia de São Miguel Arcanjo, na capital paraense, e acredita que a
energia que emana da Basílica é muito positiva. “Você vê muita gente indo
visitar a igreja, mas outras pessoas vão fazer orações, grupos se unem para
rezar. Essas pessoas carregam uma energia muito forte, você sente uma coisa
diferente lá dentro. É como se você sentisse Espírito Santo pousando ali
naquele santuário, principalmente nessa época do Círio”, afirma.
"O devoto vai a Basílica com o
mesmo sentimento de saudade de um filho que volta à casa de sua mãe", João
Carlos Pereira, pesquisador do Círio.
Segundo o professor e pesquisador
do Círio, João Carlos Pereira, a igreja ajuda os fiéis a terem uma sensação de
acolhimento e familiaridade. “O devoto vai à Basílica com o mesmo sentimento de
saudade de um filho que volta à casa de sua mãe. Ele vai reencontrar a mãe. A
relação do devoto com a Basílica tem a ver com o amor que nos aproxima de Nossa
Senhora de Nazaré. O templo é o espaço do sagrado e Nossa Senhora de Nazaré é o
próprio sagrado. Por ser a casa ‘dela’, os devotos se sentem mais próximos”,
comenta.
“A Basílica é ponto de
referência, espaço de acolhida e de oração. A Basílica Santuário é o ponto de
chegada de uma caminhada longa e, às vezes, sofrida. Todos desejam chegar à
Basílica, porque é lá que está a imagem da Senhora. É um símbolo da festividade
do Círio. Impossível pensar a festa do Círio sem a Basílica”, define Pereira.
Templo mariano
Segundo a Diretoria da Festa de
Nazaré, o Santuário foi a terceira basílica construída no Brasil, sendo
inaugurada depois da Sé, na Bahia, e da São Bento, em São Paulo.
Ainda de
acordo com a Diretoria, o a igreja foi construída para substituir o primeiro local
de adoração mariana do Pará, que tinha espaço muito mais reduzido: os padres
Barnabitas, uma ordem italiana que atuava em Belém na primeira década do século
XX, receberam a missão de aumentar o espaço da igreja para perpetuar a devoção
nazarena. Porém, mesmo quando a igreja ainda nem estava próxima da condição de
Basílica, já era considerada pelos devotos como um espaço de acolhida.
“O projeto arquitetônico da
Basílica data de 1909, mas o prédio só começou a ser construído em 1910. Em
meados de 1928, já estava parcialmente concluída; faltavam apenas algumas
decorações finais e elementos de revestimento”, esclarece a professora Cybelle
Miranda, doutora em Arquitetura e Urbanismo e especialista em Patrimônio
Cultural.
Em 2006, a Basílica foi promovida
a categoria de Santuário Mariano Arquidiocesano, por ser um centro de
referência para peregrinos católicos devotos da Virgem Maria.
Inspiração italiana
O projeto da Basílica foi feito
pelo arquiteto italiano Gino Coppedè, inspirado na Basílica de São Paulo
Extramuros, de Roma. De estilo predominantemente clássico, a Basílica de Nazaré
possui cinco naves divididas em 36 colunas de granito italiano, 53 vitrais
franceses, 65 ilustrações em mosaico italiano, quinze estátuas de mármore, três
grandiosas portas de bronze e nove sinos de bronze, que compõem o interior da
igreja, onde é possível ver diversos detalhes de mármore colorido, como nas igrejas
de Florença.
Um dos locais mais sagrados da
Basílica é o Glória, onde fica a imagem original de Nossa Senhora de Nazaré,
encontrada pelo caboclo Plácido às margens do Igarapé Murucutu. Para João
Carlos Pereira, é um das peças mais bonitas dentro do Santuário.
“É belíssima,
entalhada no mármore, que funciona não como um sacrário, mas como espaço único,
no contexto dos altares de Belém. É o lugar mais alto, de mais difícil acesso,
onde a Senhora reina soberanamente. É de lá que emana a grande energia que
envolve o romeiro ou o visitante”, afirma.
“A Basílica de Nazaré segue um
padrão basicamente clássico, mas tem muitos detalhes de origem bizantina,
gótica, românica, e vários outros estilos. Isso porque a construção dela se deu
dentro do período do ecletismo, e o ecletismo preconizava essa mistura: ou se
construía uma edificação seguindo um único estilo ou seguia uma mescla de
vários”, explica.
Um detalhe diferente na fachada
chama a atenção daqueles observadores mais atentos. “No meio da fachada tem uma
rosácea, característica da arquitetura gótica, e que é uma inspiração mariana.
Há uma rosácea similar a esta na Catedral de Notre Dame, em Paris, que também é
uma igreja mariana. Esta rosa simboliza Maria”, conclui a professora.
Fonte: http://g1.globo.com
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