Como seria o Oriente Médio sem cristãos
Os bancos da Primeira Igreja
Batista de Belém enchem-se rapidamente de fiéis numa noite de domingo, alguns
com bolsas enfeitadas, outros com sapatos gastos e sacolas de papel da KFC.
No transcorrer da cerimônia, mãos
balançam no ar enquanto os fiéis cantam e dão graças a Deus por um renascimento
recente que atraiu mais de 1.300 pessoas para ouvir a mensagem da Bíblia.
Numa cidade alardeada como o
lugar onde Jesus Cristo nasceu da Virgem Maria, a igreja é uma espécie de
milagre moderno. Fundada há três décadas num apartamento de dois quartos pelo
reverendo Naim Khoury, a Primeira Batista foi bombardeada 14 vezes durante a
primeira intifada, enfrentou dificuldades financeiras, e agora trava uma
batalha legal com a Autoridade Palestina, que não a reconhece.
Milhares de cristãos em Belém
tiveram problemas políticos e religiosos similares nas últimas décadas, o que
levou muitos deles a fugir da cidade onde nasceu a figura central da
cristandade numa manjedoura.
Os cristãos, que já constituíram
80% da população, hoje representam 20% a 25%. Dois mil anos após o nascimento
de Jesus, a cristandade está sob um ataque maior do que em qualquer outro
período do último século, levando alguns a especular que uma das três maiores
religiões do mundo pode desaparecer completamente da região em uma ou duas
gerações.
Do Iraque, que perdeu pelo menos
metade de seus cristãos na última década, ao Egito, que assistiu à pior
violência anticristã em 700 anos neste verão, à Síria, onde jihadistas estão
matando cristãos e os enterrando em valas comuns, os seguidores de Jesus
enfrentam violência e perseguição além de um declínio das igrejas.
Os cristãos
constituem hoje somente 5% da população do Oriente Médio, ante 20% um século
atrás. Muitos cristãos árabes estão contrariados porque o Ocidente não fez mais
para ajudá-los.
Embora muitos muçulmanos tenham
crescido com amigos e colegas cristãos, política e forças sociais tornaram a
coexistência mais difícil. À medida que o islamismo político cresce, cristãos
já não conseguem encontrar refúgio numa identidade árabe compartilhada com seus
irmãos muçulmanos.
Os apelos à cidadania com
direitos iguais são pontuados por histórias de extremistas islâmicos exigindo a
conversão de cristãos ao islamismo ou que eles paguem um imposto exorbitante. E
muitos muçulmanos enfrentam perseguições eles próprios na medida em que os
levantes árabes de 2011 continuam a repercutir por toda a região e nações
tentam encontrar um equilíbrio entre liberdade e estabilidade.
Os cristãos já enfrentaram tempos
difíceis antes, da matança dos seguidores imediatos de Jesus à opressão dos
cristãos pelos mamelucos no início do século 13 à ascensão da atividade
militante islâmica no Egito nos anos 1970.
Os guerreiros que vieram em nome de
Cristo também foram responsáveis por violências inter-religiosas, como na
Primeira Cruzada em 1099, quando cristãos tomaram Jerusalém e massacraram os
moradores.
Permanece incerto se os tempos
atuais se mostrarão mais um refluxo da história cristã ou algo mais
fundamental. Mas o que está evidente é que tanto muçulmanos como cristãos, além
das outras minorias da região, provavelmente serão afetados de maneira
significativa por uma deterioração contínua.
Uma exceção ao declínio é Israel,
onde a população cristã quase quintuplicou, para 158 mil, desde a fundação do
país em 1948. Mesmo assim, sua parcela na população caiu cerca de 3% a 2%, e
críticos observaram que as famílias cristãs palestinas que fugiram ou foram
obrigadas a sair pouco antes da fundação de Israel deram ao país uma base
artificialmente baixa.
Mas ainda há comunidades cristãs
fortes de cristãos árabes israelenses, embora elas também tenham problemas. Em
Nazaré, por exemplo, islamistas tentaram erguer uma mesquita bloqueando a
Igreja da Anunciação.
Quando impedidos por Israel, eles aceitaram colocar uma
bandeira proclamando o verso corânico: "E todo aquele que busca uma
religião que não seja o Islã, jamais será aceito por ele, e no futuro será um
dos perdedores".
Fonte: http://www.estadao.com.br
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