O céu ao alcance de todos – Por Rafaela Toledo
Ciência e Religião sempre seguiram caminhos evolutivos distintos na
história da humanidade. Enquanto a precisão científica buscou suporte na
objetividade, a religião partiu para o lado subjetivo do ser humano, lidando
com o etéreo, o impalpável.
De acordo com Amit Goswami, Ph.D em Física
Quântica, pela Universidade de Calcutá, Índia, conferencista, pesquisador e
professor emérito do Departamento de Física da Universidade de Oregon, EUA,
este dualismo é um dos grandes problemas na avaliação materialista da realidade.
O cientista é referência mundial em estudos que buscam conciliar Ciência e
Espiritualidade e afirma em seu último documentário, O Ativista Quântico: “Há
evidências científicas bastante definitivas sobre a existência de Deus.”
Goswami é indiano e conta que, apesar de ter crescido numa casa
religiosa, isto teve um efeito contrário nele. De acordo com Joseph Campbell,
especialista norte-americano em Mitologia e Religião Comparada, as religiões
orientais não lidam tanto com o dualismo quanto as ocidentais. Talvez por isso,
Amit tenha encontrado mais facilidade de entender o que ele chamou de
“Consciência Não-Local”.
Materialismo questionável
Segundo Goswami, a Física Quântica (FQ) propõe uma ruptura drástica com
os conceitos de realidade por meio da “primazia da consciência”. O pesquisador
sugere a troca da base do ser, do corpo material para a consciência. Para ele,
esta realidade vivenciada pelos seres humanos no plano material é apenas uma
das possibilidades dentre as quais a consciência escolheu. Partindo do
pressuposto que em FQ um objeto não é algo determinado, mas apenas uma
possibilidade, Amit questiona o materialismo como base da compreensão humana.
“Nós criamos gerações e mais gerações de crianças ensinando eles a
acreditarem que tudo é material. E todas as nossas experiências emocionais,
espirituais? Elas aconteceram, mas num nível mais sutil de existência”,
explica. Para o cientista, a forma correta de avaliar as experiências humanas é
aliar de maneira indivisível as vivências internas e externas ao ser.
Para ele, as experiências internas provam a questionabilidade da teoria
materialista como base da Ciência. “Ao contrário do que todos os cientistas
pensavam, de que a Ciência deveria ser praticada objetivamente, eu sabia que
ela deveria ser feita de forma complementar entre a objetiva e a subjetividade.
Eu sabia que uma nova Ciência surgiria”, comenta Amit.
Criando Realidades
Dentro desta lógica, Amit acredita ser possível determinar a própria
realidade por meio das escolhas feitas pela consciência. “Se pudéssemos pensar
o contrário. Que a consciência é a base do ser, não a matéria. E que a matéria
consiste em uma das possibilidades que a consciência escolheu. Em outras
palavras estamos dizendo que a consciência não é feita de cérebro, mas o
cérebro é feito de consciência”, explica. O pesquisador esclarece que as
escolhas da consciência acontecem num nível mais sensível, como por exemplo, em
estado de sono.
Isto porque de maneira mais “rasa”, nossas escolhas são feitas no nível
do ego. Sendo assim, não se fazem num plano coletivo, mas dentro de uma lógica
individualista, talhada pela cultura materialista, como explica Goswami.
Morada do Sagrado
“Se você entende a mensagem da FQ, então tudo o que você tem que fazer
em prol de entender que há evidências de Deus na ciência que estamos fazendo
agora é reconhecer que o Bem é a forma como Deus está relacionado com a
consciência”, explica Goswami.
Ele acredita que enquanto seres energéticos,
compostos de consciências, estamos apenas experimentando o corpo material
dentre outras possibilidades de existência, e toda a humanidade é na realidade
parte de uma consciência externa, “onipresente, onisciente”, segundo outro
físico quântico, também pesquisador do assunto Michio Kaku.
“Estamos chegando à conclusão de que a escolha vem de uma consciência
não-local. Essa consciência, que você pode chamar de quântica, é equivalente ao
que os místicos chamam de Deus. Atrás de nossos olhares individuais, há uma
consciência cósmica, interconectada. Isso é o que realmente somos”, afirma
Goswami.
Ele pondera que esta é uma visão de Deus distante do ideológico
dualístico que separa o céu da terra e coloca Deus num plano distinto e
distante da humanidade. “Há uma unidade por traz de nós. Nós todos estamos
conectados de alguma forma”, alega Amit.
O físico contou em seu documentário que diversas pesquisas foram feitas
provando “que cérebros podem se comunicar não localmente”, ou seja, sem nenhum
sinal interconectando as partes.
Segundo o pesquisador, no México, pesquisas
foram feitas monitorando a atividade mental de duas pessoas isoladas, ambas com
intenção de se comunicarem. As respostas desta quanto de outras pesquisas da
mesma linha foram unânimes, de acordo com Goswami.
“A consciência não local colapsa
eventos similares em ambos os cérebros porque as duas intenções estavam
correlacionadas não localmente. Não há outro entendimento para este resultado”,
avalia.
“A consciência que cria a manifestação do universo é, de fato, uma
consciência não local. Você pode chamar de Deus, se quiser. Não é obrigado. Mas
isso é objetivo. Objetivo e científico”, pondera o cientista.
Ele também relaciona consciência com Deus em seu aspecto criacionista e
tem várias pesquisas relacionadas à criatividade. “Nós criamos nossa própria
realidade. As intenções funcionam. Mas não no nível do ego. Mas se nós pudermos
de alguma forma manifestar uma consciência coletiva, fazer nossas intenções com
base numa consciência não-local, se nossa vontade individual se dissipa numa
consciência geral, então intenções podem se tornar realidade”, esclarece.
Amit pondera que apenas Deus pode processar o novo. “Cada vez que
criamos novas possibilidades, estamos convidando Deus, então ele vem à nós nos
momentos em que não estamos processando conscientemente, em que não estamos
convertendo possibilidades em eventos. Nestes momentos nós literalmente nos
rendemos à Deus. Ele vem e processa, num criativo quântico processo de
insight”, explica.
Ele acrescenta que tendo consciência dos insights de Deus, o ser humano
pode promover mudanças na forma como se relaciona com as pessoas e propor um
comportamento que coincida com sua verdade interior.
Teoria Popular
O especialista tem livros publicados, em nove idiomas, mas ficou
bastante conhecido mundialmente após sua teoria se popularizar com o filme O
Segredo. Apesar de válida a mensagem, segundo Amit em entrevista ao programa
Roda Viva da TV Cultura, o documentário ‘sensacionalizou’ a ideia, exatamente
por não esclarecer que a escolha da consciência acontece em nível sensível,
acima do ego, que de acordo com o pesquisador é condicionado.
“As escolhas do ego são condicionadas. Dependem da sua vivência passada
e de suas experiências. O ego a gente não pode escolher. A escolha da
consciência é mais sutil”, esclarece acrescentando que o fator determinante do
sucesso da intenção é a busca do bem coletivo.
Ativista Quântico
Partindo deste princípio, o físico propõe em seu documentário o conceito
do Ativista Quântico. Para ele, este personagem é a pessoa que entende que a
lógica materialista é um conceito falido e que para mudar a realidade atual,
com mostras de esgotamento, é necessária uma revolução interior.
“Nós temos que
mudar primeiro. Temos que reconhecer que também temos o dualismo interiorizado.
Nós também escolhemos energias negativas ao invés de positivas. Se nós
estivermos com o coração aberto e nos aproximarmos de todas as coisas com amor,
a moda pega”, comenta com bom humor o autor.
“Jesus dizia: ame seu inimigo. Amar seu amigo não é suficiente. Ele sabia
que estamos conectados, então vamos estar nos matando se matarmos nosso
inimigo. É por isso que amar seu inimigo é o único caminho”, comenta. Amit
insiste que o bem é um conceito trazido por todas as linhas místicas, ou seja,
todos concordam na importância da busca por um bem comum.
De fato, na opinião do padre Rafael, da Paróquia São Nicolau de Goiânia,
o espírito se alimenta de boas obras. “Santo Agostinho disse: “Você escolhe o
que planta, mas colhe o que planta”, observa o pároco.
Ele acredita ser muito
válida a união entre Ciência e Religião principalmente no aspecto crítico ao
materialismo concreto. “Dizer que o corpo é simplesmente matéria, é errado na
minha opinião. O ser humano é um equilíbrio geral. Não podemos separar o corpo,
a mente e o espírito”, avalia.
Para o religioso, a busca da vida está exatamente na integração entre
corpo, mente e espírito. “O objetivo final da Doutrina Cristã é a deusificação,
ou seja, justamente encontrar o equilíbrio entre corpo e alma”, esclarece. Para
o padre, “a fé são as asas que nos levam aos céus”.
Ideia semelhante à teoria da intenção de Amit, na qual o cidadão é autor
de sua realidade partindo do princípio do bem comum e trazendo a criação de
Deus (consciência não-local) para a manifestação do universo como é conhecido
pela humanidade.
A presidenta da Federação Espírita do Estado de Goiás, Ivana Raisky,
observa que a aliança entre Ciência e Religião começou aproximadamente quando
Alan Kardec publicou: O Livro dos Espíritos.
“O espiritismo tem caráter
científico, mas boa parte da comunidade científica rejeita as provas de que
somos mais do que matéria. Vemos com bons olhos esta aproximação entre Ciência
e Religião. A FQ está despindo preconceitos, considerando a possibilidade de
existência de uma inteligência superior, que está além e sobrevive à morte do
corpo”, observa.
Para a religiosa, o conceito contribui muito com a evolução humana
porque atinge até mesmo os céticos e os que são, de alguma maneira, avessos à
religião.
“Nós temos que evoluir em nossas mentes de forma a adaptar os
ensinamentos da FQ em nossas vidas, a não localidade da consciência e a
descontinuidade da criatividade. Isso é ativismo quântico. Temos que mudar de
uma forma que acelere a evolução para que ela não possa mais ser ignorada. Isso
é muito próximo do que os místicos nos dizem sempre. Comece por você mesmo.
Somente se você mudar, o mundo poderá eventualmente mudar. Nós estamos apenas
indo um pouquinho além. Você só precisa começar consigo mesmo, mas sempre se
lembre dos outros, porque você e eu estamos conectados”, aconselha Goswami.
Para o físico, o contato com a consciência se dá por intermédio do meio
ambiente. Ele também não acredita haver divisão entre os seres humanos e a
ambiente. Sendo assim, se todos fazem parte da unidade, de um todo, o bem comum
é a única opção plausível.
“Estamos todos conectados. E todos nós queremos
mudar nossa sociedade. Não há dúvidas de que nestes moldes nossa sociedade não
está funcionando. Temos aquecimento global, terrorismo, e uma democracia muito
mais influenciada pela mídia e pelo dinheiro. Nossa economia produz enormes
diferenças entre as classes e é imperativo que precisamos mudar. Como mudar a
sociedade sem entender o que está causando sua degeneração? Temos que
reconhecer que é a visão de mundo materialista que comprometeu nossa conexão
com a consciêncvia como um todo. Se entendêssemos que o meio ambiente e nós
somos a mesma coisa, se víssemos unidade, veríamos a necessidade de proteger o
meio ambiente”, avalia propondo a reforma íntima como base de uma revolução
social.
Até o fechamento desta edição, nenhum representante da igreja evangélica
quis se manifestar.
Fonte: http://www.dm.com.br
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