Alemanha oferece aulas a crianças sobre o Islã e tenta diminuir preconceito contra população muçulmana – Por Alison Smale
Pela primeira vez, as escolas
públicas alemãs estão oferecendo aulas sobre o Islã para alunos do ensino
fundamental usando professores preparados pelo estado e livros didáticos
escritos com essa finalidade, conforme autoridades tentam integrar melhor a grande
minoria muçulmana do país e combater a crescente influência do pensamento
religioso radical.
As aulas oferecidas no estado de Hesse são parte de um consenso cada vez maior de que a Alemanha, após décadas de negligência, deveria fazer mais para reconhecer e servir sua população muçulmana, visando promover a harmonia social, superar sua demografia envelhecida e evitar uma potencial ameaça à segurança doméstica.
A necessidade, muitos daqui dizem, é cada vez mais urgente. De acordo com autoridades alemãs de segurança e relatos generalizados na imprensa do país, nos últimos seis meses pelo menos dois jovens alemães de Hesse, um de apenas 16 anos, foram mortos na Síria após atenderem ao chamado para a jihad (guerra santa). Aparentemente, eles teriam sido recrutados por pastores salafistas de linha-dura em Frankfurt.
Tais casos mostraram não só que alguns jovens alemães estão se sentindo mais alienados e vulneráveis ao recrutamento, mas também que eles podem eventualmente trazer sua luta para casa, junto a novas habilidades no uso de armas e explosivos obtidas em campos de batalha distantes. Outras partes da Europa com grandes minorias muçulmanas, incluindo França, Inglaterra, Espanha e países escandinavos, vêm enfrentando desafios similares de integração e radicalização.
O currículo de Hesse coloca a educação islâmica efetivamente em pé de igualdade com aulas de ética sancionadas pelo Estado nas religiões católica e protestante. Ao oferecer uma introdução básica ao Islã a jovens muçulmanos desde a primeira série, enfatizando seus ensinos sobre tolerância e aceitação, as autoridades esperam inocular as crianças contra visões religiosas mais extremas, ao mesmo tempo em que sinalizam a aceitação de sua fé pelo Estado.
Os pais possuem a opção de matricular seus filhos nas aulas de educação religiosa oferecidas no distrito. Nurguel Altuntas, que ajudou a desenvolver o programa de Hesse no Ministério da Educação do estado, declarou que a procura pelas 29 aulas em distritos com muitos imigrantes foi muito bem recebida.
Cada vez mais, a atenção está se voltando à educação e a formas de criar maior inclusão para os cerca de 4 milhões de muçulmanos na Alemanha, um número que vem aumentando continuamente desde que a indústria alemã recrutou os primeiros turcos como "trabalhadores convidados", na década de 1960.
A integração dessa minoria sempre foi fonte de tensão em um país de mais de 80 milhões de habitantes que também lutaram para absorver estrangeiros cristãos e europeus à cultura alemã.
Uma saída, esperam as autoridades de Hesse, está sendo implementada em aulas onde crianças pequenas são orientadas utilizando um currículo de sua aprovação.
Em uma aula, Timur Kumlu recentemente pediu a cada um de seus 19 alunos (com média de seis anos) que tirassem um fio de uma grande bola de lã. Então ele instruiu as crianças, cujos pais vieram de países muçulmanos como Afeganistão, Albânia, Marrocos e Turquia, a examinar como os fios também estavam entrelaçados.
Era uma simples lição contendo uma mensagem gentil, repleta de simbolismo, que eles estavam conectados por sua fé islâmica, práticas de oração.
"Agora estamos todos unidos. Vocês vêm de países diferentes, assim como seus pais", explicou Kumlu, que lembrou as crianças de que embora seus pais tivessem vindo de outros países, eles nasceram na Alemanha.
Seus pupilos geralmente bem-comportados se contorceram um pouco, mas ouviram atentamente.
"Eles chegam aqui com origens tão diferentes. Precisamos educar de forma que eles desenvolvam uma personalidade com raízes comuns, na Alemanha e no Islã", disse Kumlu depois da aula.
Suspeitas de um Islã radical surgiu quando uma célula de árabes baseada em Hamburgo foi envolvida nos ataques de 11 de setembro. A célula chamada Sauerland que visou alemães em 2007, e o ataque à bomba fracassado na estação de trens de Bonn, em dezembro de 2012, ambos envolveram cidadãos alemães.
Batalhas frequentes sobre se qualquer servidor público pode usar lenços na cabeça também destacam a persistente lacuna entre alemães não muçulmanos e muçulmanos que, mesmo assim, ganham destaque cada vez maior nas vidas uns dos outros.
Para muitos professores, autoridades alemãs e muçulmanos alemães, uma maior educação sobre o Islã é uma iniciativa tardia para reparar décadas de exclusão da elite dominante.
Aqueles anos de marginalização, dizem eles, fizeram com que
muitos dos muçulmanos alemães aprendessem sua fé com aulas burocráticas em
escolas do Corão, dos devaneios linha-dura pela internet ou nos pátios de
mesquitas em bairros imigrantes de grandes cidades como Hamburgo ou Berlim.
“Agora está claro que, durante anos, cometemos o erro de alienar as pessoas”, firmou Nicola Beer, que como ministro da Educação em Hesse foi um dos diversos políticos, professores e acadêmicos que impulsionaram a instrução islâmica.
Hoje, disse ele, os alemães reconhecem que "estamos aqui juntos, trabalhamos juntos e educamos nossos filhos juntos".
Em termos mais amplos, o currículo em Hesse tenta combater o estridente proselitismo de linhas mais conservadoras do Islã. No entanto, embora oferecer a instrução do Islã faça parte do tratamento igualitário desejado por muitos muçulmanos alemães, isso também não é uma tarefa simples na Alemanha federal e legalista.
Cada um dos 16 estados determina seu próprio sistema educacional e como é oferecida a aula de religião, ou ética, não obrigatórias. A instrução islâmica está disponível de alguma forma em todos os estados da antiga Alemanha Ocidental e nenhum da Oriental, onde historicamente existem menos imigrantes muçulmanos.
O que torna Hesse especial é que o estado desenvolveu um programa universitário e se encarregou de educar professores.
Em outros lugares, como Berlim, as aulas de Islã já são oferecidas há vários anos, mas os professores foram são oriundos de organizações como a Federação Islâmica, um grupo comunitário que também ajuda a decidir o currículo.
Fazil Altin, advogado de 34 anos que é presidente da Federação Islâmica, declarou que os muçulmanos e as autoridades municipais em Berlim desperdiçaram 20 anos enquanto brigavam nos tribunais para o Islã poder ser ensinado. Então, argumentou ele, a federação teve de superar suspeitas de doutrinação e tudo por 40 minutos de aulas por semana, algo que ele classificou como "deveras insignificante".
Em sua opinião, será preciso mais do que uma instrução formal do governo para preencher a lacuna entre muçulmanos praticantes e uma sociedade alemã altamente secular.
“É difícil ser um muçulmano na Alemanha. O fato é que somos vistos como um perigo”, afirmou Altin, que disse ter tido negado o acesso a clientes em prisões devido à sua religião. A escola Jens Nydahl, uma instituição no distrito de Kreuzberg, repleto de imigrantes turcos e árabes, é um excelente exemplo do desafio da integração.
Durante um dia de "casa aberta", voltado a atrair novos pais, os únicos visitantes, um homem nativo alemão e sua esposa, receberam uma proposta complexa do diretor adjunto. Ele lhes garantiu que, se eles conseguissem recrutar quatro ou cinco outros pais, a escola nunca dividiria o núcleo resultante de crianças que falavam alemão.
Segundo Sabine Achour, uma palestrante e educadora alemã que é casada com um advogado marroquino, mesmo os pais alemães que moram em distritos multiculturais como Kreuzberg impunham limites ao número de imigrantes nas escolas de seus filhos.
“Agora está claro que, durante anos, cometemos o erro de alienar as pessoas”, firmou Nicola Beer, que como ministro da Educação em Hesse foi um dos diversos políticos, professores e acadêmicos que impulsionaram a instrução islâmica.
Hoje, disse ele, os alemães reconhecem que "estamos aqui juntos, trabalhamos juntos e educamos nossos filhos juntos".
Em termos mais amplos, o currículo em Hesse tenta combater o estridente proselitismo de linhas mais conservadoras do Islã. No entanto, embora oferecer a instrução do Islã faça parte do tratamento igualitário desejado por muitos muçulmanos alemães, isso também não é uma tarefa simples na Alemanha federal e legalista.
Cada um dos 16 estados determina seu próprio sistema educacional e como é oferecida a aula de religião, ou ética, não obrigatórias. A instrução islâmica está disponível de alguma forma em todos os estados da antiga Alemanha Ocidental e nenhum da Oriental, onde historicamente existem menos imigrantes muçulmanos.
O que torna Hesse especial é que o estado desenvolveu um programa universitário e se encarregou de educar professores.
Em outros lugares, como Berlim, as aulas de Islã já são oferecidas há vários anos, mas os professores foram são oriundos de organizações como a Federação Islâmica, um grupo comunitário que também ajuda a decidir o currículo.
Fazil Altin, advogado de 34 anos que é presidente da Federação Islâmica, declarou que os muçulmanos e as autoridades municipais em Berlim desperdiçaram 20 anos enquanto brigavam nos tribunais para o Islã poder ser ensinado. Então, argumentou ele, a federação teve de superar suspeitas de doutrinação e tudo por 40 minutos de aulas por semana, algo que ele classificou como "deveras insignificante".
Em sua opinião, será preciso mais do que uma instrução formal do governo para preencher a lacuna entre muçulmanos praticantes e uma sociedade alemã altamente secular.
“É difícil ser um muçulmano na Alemanha. O fato é que somos vistos como um perigo”, afirmou Altin, que disse ter tido negado o acesso a clientes em prisões devido à sua religião. A escola Jens Nydahl, uma instituição no distrito de Kreuzberg, repleto de imigrantes turcos e árabes, é um excelente exemplo do desafio da integração.
Durante um dia de "casa aberta", voltado a atrair novos pais, os únicos visitantes, um homem nativo alemão e sua esposa, receberam uma proposta complexa do diretor adjunto. Ele lhes garantiu que, se eles conseguissem recrutar quatro ou cinco outros pais, a escola nunca dividiria o núcleo resultante de crianças que falavam alemão.
Segundo Sabine Achour, uma palestrante e educadora alemã que é casada com um advogado marroquino, mesmo os pais alemães que moram em distritos multiculturais como Kreuzberg impunham limites ao número de imigrantes nas escolas de seus filhos.
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