Amarrados ao púlpito – Por Hélio Schwartsman
O filósofo Daniel Dennett é
frequentemente citado, ao lado de Richard Dawkins, Sam Harris e Christopher
Hitchens, como um dos quatro cavaleiros do ateísmo, que ganharam a alcunha por
terem lançado, entre 2004 e 2007, best-sellers com críticas à religião.
Os quatro livros são
interessantes, mas nunca achei que Dennett se encaixasse bem na imagem. Enquanto
Dawkins, Harris e Hitchens adotam um tom francamente militante, até
panfletário, Dennett oferece uma obra muito mais nuançada.
Essa impressão foi reforçada
agora com o lançamento de "Caught in The Pulpit: Leaving Belief
Behind" (capturados no púlpito: deixando a crença para trás), em que
Dennett e Linda LaScola lançam luzes sobre o problema dos pastores, padres,
rabinos e outras lideranças religiosas que perdem a fé e se veem no dilema
entre manter a integridade intelectual, o que implicaria renunciar a seus
postos, ou ir torcendo as palavras e suas próprias crenças, para continuar
exercendo suas funções e, assim, preservar casamentos, amizades, posição social
e aposentadorias.
O livro surgiu a partir de um
estudo modesto em que cinco clérigos que viviam esse processo foram
entrevistados. A coisa logo evoluiu para um site onde ministros em vias de
perder a fé podem trocar experiências sob anonimato e daí para a obra.
Além de boas histórias humanas, o
texto de Dennett e LaScola mostra que a religiosidade vem nos mais diferentes
formatos e sabores. Há desde os ultraliberais, para os quais a Bíblia é um
conjunto de alegorias expostas em linguagem poética, que nunca devem ser
tomadas pelo valor de face, até aqueles mais conservadores que afirmam que cada
palavra das Escrituras deve ser interpretada literalmente.
Como observou um dos
entrevistados, nem todo religioso nega a evolução biológica. Esse abismo nas
fileiras dos que creem é algo que a nova literatura sobre a religião muitas
vezes deixa escapar.
Hélio Schwartsman é bacharel
em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma
Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve na versão impressa da Página A2
às terças, quartas, sextas, sábados e domingos e às quintas no site.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br
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