Com criação de comitê, representantes querem respeito a religiões; Ateus pregam quebra de monopólio – Por Nayara Rodrigues
Esta semana adeptos de vários
segmentos religiosos participaram no dia, 21/01, juntamente com representantes do
Governo do Estado do Tocantins por meio da equipe da Diretoria de Proteção dos Direitos
Humanos e Sociais da Secretaria de Defesa Social (Seds), de uma reunião onde
foi discutida a criação de um Comitê de Diversidade Religiosa no Estado do Tocantins.
Ao
todo participaram 33 pessoas e o Conexão Tocantins ouviu a opinião de
alguns epresentantes sobre a criação deste comitê religioso.
Ao ser questionado quanto à
criação do comitê, o Padre Fábio, representando os católicos, afirmou ser
positiva a iniciativa e espera maturidade de todos os lados, “Acho que é feito
com fins de assegurar os direitos das pessoas manifestarem sua fé, positivo,
mas espero que todos tenham maturidade” afirmou.
Padre Fábio disse ainda
acreditar na paz entre todos os credos e religiões, mas pontua que cada
religião deve ser respeitada com suas especificidades, “ter a paz como
plataforma da vida pressupõe respeito daquele que é diferente de mim, todos
somos iguais, mas cada credo tem suas especificidades, que devem ser
respeitadas”, concluiu.
O número de brasileiros que se
declaram católicos caiu de 64% em 2007, quando houve a última visita de um papa
ao País, para 57% em 2013, segundo pesquisa Datafolha.
Tiw Brás, representante dos
pagãos, afirmou ao Conexão Tocantins se surpreender com essa
iniciativa por parte do governo, “Não esperava que o governo fosse se
preocupar com essa questão, achei surpreendente a autonomia dada a cada Estado
para que tenham sua comissão religiosa própria”, pontuou.
Brás disse ainda que
os pagãos são vítimas de muita violência por parte da sociedade, “Nos Pagãos
temos um histórico muito longo e cruel de pessoas mortas e queimadas, não se
pode dizer que vamos nos reunir em lugares públicos, etc. que chamam a polícia,
pedi segurança na reunião, necessitamos de proteção”, concluiu.
Pagão trata-se de todos aqueles
que cultivam uma espiritualidade holística, xamânica e muitas vezes politeísta.
O movimento ainda é fraco, pelo menos na América Latina, mas a vários adeptos
no Tocantins. Cultuam a natureza e são isentos das leis religiosas.
Mãe Magda, 60 anos, assim conhecida
por representar o Candomblé de Angola, Terreiro de Oxum, também foi
entrevistada pelo Conexão Tocantins, e disse ter achado maravilhoso
tanto a reunião com os diversos adeptos de variadas religiões quanto a ideia de
criação do comitê religioso, “Acho maravilhoso, só assim as pessoas passam a
respeitar a gente, tá muito bagunçado”, afirmou.
“Argumentei na reunião
sobre termos um canto, para que quando houver uma agressão sabermos onde
procurar e tomar as providências, o afrodescendente é muito descriminado, moro
há 22 anos no Tocantins e já passei por muitas coisas aqui”, pontuou Magna
salientando pela necessidade de um local onde não só os seguintes do Candomblé,
mas também de todas as outras religiões possam procurar ajuda, em casos de
agressões ou direitos violados.
Mãe Magda finalizou dizendo;
“Respeito todas as religiões e gostaria que todos também respeitassem ninguém é
melhor do que ninguém”, afirmou.
O Candomblé é uma religião derivada
do animismo africano onde se cultuam os orixás, voduns ou nkisis, dependendo da
nação. É uma das religiões de matriz africana mais praticada, tendo dois
milhões de seguidores em todo o mundo, principalmente no Brasil.
Sem monopólio
Edy Cesar, um dos organizadores
do 3º Encontro Nacional dos Ateus (ENA) que será realizado em Palmas, e membro
da Sociedade Racionalista do Tocantins, representando o ateísmo, disse ao Conexão
Tocantins ser muito importante debater a diversidade religiosa, pois tira
o monopólio de uma religião específica:
“No momento em que o governo tira o
monopólio de uma religião, e começa a debater diversidade religiosa é muito
importante, pois, as religiões de matriz africana, por exemplo, acabam sofrendo
um certo preconceito de uma parte da sociedade”, Afirmou Cesar.
“Acredito na
existência de preconceito contra os ateus ou talvez receio dentro da sociedade
no Estado, uma vez que a influência católica e evangélica é muito forte no
Tocantins, assim, pessoas não atreladas a essas religiões sofrem”, salientou.
Cesar ainda argumentou que a
organização do ateísmo no Estado é com o sentido de não parecer uma religião, e
que poderia ter ateus na reunião como defensores dos direitos humanos:
“O
ateísmo no Tocantins e no Brasil, não é organizado de forma sistêmica, até para
não parecer uma religião em si, e numa comissão como essa, poderia ter ateus
não enquanto religião, mas defensores dos direitos humanos” disse Cesar, que
perguntado sobre o porquê de não ter um representante ateu na reunião,
salientou: “na realidade não fomos convidados por parte do governo para
participar dessa reunião, agora seria interessante a participação, exatamente
para pautar a importância do Estado laico”, pontuou.
O Ateísmo, no sentido amplo, é a
rejeição ou ausência de crença na existência de divindades. É difícil
determinar quantos ateus existem no mundo atualmente com precisão, mas segundo
o censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
em 2010,os ateus ainda são uma minoria de cerca de 615 mil pessoas no País.
A Constituição da República
Federativa do Brasil, em seu art. 5º, inciso VI, dispõe que é inviolável a
liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto
e a suas liturgias.
Fonte: http://conexaoto.com.br
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