Pesquisa do jornal em 1926 mostrou necessidade de criação da Universidade de São Paulo – Por Carlos Eduardo Entini
Estrutura de ensino desconexa,
onde as poucas universidades formavam apenas para o ofício, falta de
preparação de docentes e inexistência da prática da ciência.
Esse era
parte do panorama da educação do Brasil em meados da década de 1920. O
quadro inquietava o educador Fernando Azevedo e o jornalista Júlio de
Mesquita Filho. Para eles a mudança sócio-política do País só viria através da
educação.
Para concretizar a mudança
que idealizavam era preciso consultar professores, cientistas e escritores. Com
esse espírito o jornal 'O Estado de S. Paulo' iniciou em 1926
uma pesquisa sobre a situação da educação em São Paulo. Coube
a Fernando de Azevedo, a pedido de Mesquita Filho, que o coordenasse.
O inquérito investigou todos os
aspectos do ensino no Estado, o primário, secundário, profissionalizante e
superior. Para fazê-lo, foi enviado um questionário para dezenas de pessoas
envolvidas no ensino. Das doze perguntas, três era sobre o ensino superior.
Elas pediam opinião sobre a 'criação de uma universidade em São Paulo,
organizada dentro do espírito universitário moderno' e de que forma uma
universidade poderia se tornar uma "instituição orgânica e
viva"'. As respostas foram publicadas no jornal logo que eram
recebidas sob o título: “A Instrucção Publica em S.Paulo”. Foram 34
colunas publicadas entre os meses de junho e dezembro.
A partir das respostas, a
conclusão a que se chegou era de um ensino totalmente desconectado. No caso das
universidades, elas simplesmente formavam profissionais para exercer
a profissão. A resposta do escritor Amadeu Amaral sintetiza
aquela realidade. Para ele nas universidades havia "quase exclusivo
domínio dos objetivos imediatos e aparentes: o exame, a formatura, a colocação,
a carreira prática ou profissional. Corresponde ainda à concepção mais comum no
Brasil acerca das funções da escola; a primazia que se concede ao
"saber" (entendendo-se por "saber" aquilo que um escritor
estrangeiro definiu:
"uma pequena enciclopédia de conhecimentos
inúteis"); ao desprezo a que se relega a "cultura", que é
assimilação, conversão do aprendido em substância própria, formação do
espírito, aumento de capacidade e de atividade espontânea".
Criar, transmitir, divulgar. Nada
mais contrário ao projeto idealizado por Azevedo e Mesquita Filho de um
sistema orgânico entre todos os níveis de ensino onde a universidade teria que
exercer uma 'tríplice aliança'. Segundo Azevedo, em artigo publicado
em 1945 no 'Estado', a universidade deveria "elaborar ou
criar a ciência, pela pesquisa, de transmiti-la, pelo ensino de alto nível, e
de divulgá-la, por tôda a espécie de meios".
Parceria. O encontro entre Mesquita Filho (1892 – 1989) e Azevedo (1874 – 1974) começou em 1922 e foi fundamental para a criação da Universidade de São Paulo e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que completam 80 anos. Azevedo, mineiro de São Gonçalo do Sapucaí, já escrevia na imprensa paulistana desde 1918.
Parceria. O encontro entre Mesquita Filho (1892 – 1989) e Azevedo (1874 – 1974) começou em 1922 e foi fundamental para a criação da Universidade de São Paulo e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que completam 80 anos. Azevedo, mineiro de São Gonçalo do Sapucaí, já escrevia na imprensa paulistana desde 1918.
Em 1922 foi convidado, também por Mesquita
Filho, a escrever sobre o centenário da Independência. Aproveitando o convite,
sugeriu ao diretor do jornal uma matéria sobre sobre educação física, tema que
ele se dedicava juntamente com o latim. Desde 1916, ensinava literatura e
língua latina na Escola Normal de São Paulo.
No ano seguinte, também a
convite, entrou definitivamente para a redação do 'Estado' publicando
todos os sábados coluna sobre crítica literária. Foi assim até 1926, quando
deixou o posto para assumir o cargo de Diretor-Geral da Instrução Pública na
capital federal. Lá fez uma revolução no ensino instituindo, entre outras
coisas, o acesso ao magistério somente por concurso, criação de estrutura
física destinada à educação e valorização da Escola Normal para reforçar o
magistério.
Fonte: http://acervo.estadao.com.br
Comentários