Guarujá atende pleito de religiões de matriz africana e representa orixá negro
Um antigo sonho dos fiéis das
religiões de matrizes africanas de Guarujá, como candomblé e umbanda, será
realizado na:
9ª Festa de Iemanjá
Que acontece de sexta-feira (31/01) a domingo
(2/02), na Praia da Enseada.
A prefeita Maria Antonieta de Brito atendeu ao pleito
do segmento e este ano Iemanjá será representada com características de sua
origem negra, já que se trata de uma divindade africana.
A utilização de orixás
negros começou na Bahia em referência às raízes africanas das religiões. Em
Guarujá, a solicitação foi assinada este ano por 22 integrantes da Comissão
composta pelas Entidades Tradicionais de Povos de Matriz Africana.
Este ano a festa tem expectativa
de reunir mais de 10 mil pessoas, contará ainda com a realização de exposições,
palestras, culinária típica e apresentações numa grande tenda central que será
montada na Praça Horácio Lafer, s/n – Praia da Enseada, que poderá ser visitada
nos três dias, das 10 às 22h30.
De acordo com o secretário
adjunto de Cultura e coordenador da festa, Odair Dias Filho, o fato da
Prefeitura atender à solicitação dos grupos religiosos de matrizes africanas
vai além da questão religiosa porque reafirma a identidade do povo brasileiro.
“A nossa Administração, pouco a pouco, foi consolidando a festa. A decisão de
representar o orixá negro é simbólica porque sua origem está alicerçada na
cultura brasileira e representa um momento de transformação social e de
superação racial. Esta ação é importante instrumento de combate à intolerância
religiosa e racial”, salientou o secretário.
Para Odair, o conceito é mais
amplo porque o segmento entende que “Iemanjá é a mãe de todos, e vamos entender
esta referência de maternidade para alertar o povo sobre a mortalidade infantil,
um enfrentamento de nosso governo faz desde o começo, destacando a importância
de fazer o pré-natal em todas as Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Saúde
da Família da rede municipal”, pontuou.
Voz do povo
De acordo com o presidente do
Grupo Afro Ketu, Rafael Rodrigues, que integra o movimento negro do Município,
“ter a Iemanjá negra é uma reivindicação desde a primeira festa e a prefeita
abriu esta porta. Este sempre foi o desejo dos babalorixás (pai do orixá) e
yalorixás (mãe do orixá). A história do orixá no Brasil vem com a miscigenação
e, na época da escravidão, era proibido cultuar deuses africanos. Então ela foi
assimilada a uma santa católica e criaram a imagem branca, mas, estamos falando
de deuses africanos, que são negros. É um momento histórico”, relatou o
militante.
O ogan Luiz Carlos da Costa, do
Ilê Axé Messam Orom, conta que sua “casa” é a mais antiga da nação Ketu do
estado de São Paulo, fundada nos anos 50. O centro foi criado pelo Pai Bobó de
Oyá, falecido em 1993, e é responsável pela formação de uma série babalorixás
e yalorixás que atuam pelo Brasil e pelo mundo.
“O Pai Bobó sempre foi bem quisto e
hoje a prefeita está dando todas as possibilidades para formarmos o Museu do
Pai Bobó”, contou o ogan, que apresentou o acervo que integrará o futuro
equipamento cultural.
Luiz Carlos acrescentou que ter
Iemanjá negra era um anseio de todos, inclusive da falecida Mãe Catita. “É uma
luta de muitos anos e entendo que chegou a hora desta mudança. Vivemos numa
democracia e isso que o povo do axé quer. Acredito que é a vontade do orixá
também”, disse.
Para o pai Maurício Leal Inácio,
que é babalaxé do Ilê Axé Ijexa Omolu Jagun e presidente da Cooperativa Rainha
do Mar, Povos tradicionais de Guarujá e Região, argumenta que “colocar Iemanjá
negra é importante por atender à comunidade, mas Iemanjá é negra, é branca, é
uma energia, é o mar”, ilustra.
Ele pontua que todo o contexto da
festa, com sua programação ampla, será interessante por sua amplitude, levando
balé e teatro afro, mostra de culinária e de arte e gravura de terreiro ao
público.
“Sou um dos fundadores da festa e esta edição tem um formato que
atende nossos anseios. Vamos falar de meio ambiente, natalidade, infância e
juventude”.
História
Celebrada em 2 de fevereiro,
Iemanjá é uma divindade africana das religiões candomblé e umbanda. É
considerada a padroeira dos pescadores e seu nome vem de “Yèyé omo ejá”, do
idioma yorubá, e significa “mãe cujos filhos são como peixes”. Sua festa é
bastante popular e os fiéis costumam levar presentes e oferendas, como flores,
perfume, sabonete, espelho e bijuteria, que são lançados ao mar.
Confira a programação:
Sexta-feira (31)
19h30:
Ato
solene de abertura com participação e apresentação dos terreiros e seus
sacerdotes, com tradições de toques e cânticos. O evento continua com Grupo
Afroketu (21 horas), Palestra “Iemanjá” (21 horas) e Afoxé Motumbaxé (22
horas).
Sábado (1º)
16 horas:
Palestra
“Intolerância religiosa”
17 horas: Palestra “A mortalidade
infantil e o papel da comunidade” – Assim como Iemanjá, de braços abertos,
protege seus filhos, abra os braços para receber o seu. Faça o pré-natal em
todas as Usafas e UBSs da Cidade
17h30: Palestra “Afro-religioso e
o meio ambiente”
18 horas: Palestra “O candomblé e
a umbanda na juventude e infância”
18h30: Apresentação de teatro
infantil “Itan”
19 horas: Palestra “Direito
Civil/Previdenciário para afro-religiosos”
20 horas: Palestra “O segredo no
candomblé”
21 horas: Apresentação de
capoeira
Domingo (2)
17 horas:
Apresentação de capoeira
17 horas: Palestra “O negro e a
conjuntura socioeconômica”
19 horas: Palestra “Início dos
toques nas tendas e chegada das procissões”
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