O futuro das empresas segue rumo à espiritualidade? - Por Patrícia Bispo

Se levarmos em consideração que o homem não se resume apenas a um recurso capaz de gerar resultados às empresas, mas é um ser capaz de discernir aquilo que é melhor para ele, enquanto indivíduo, ao mesmo tempo em que se expressa através de emoções e de necessidades únicas, constataremos que não é por acaso que as empresas investem cada vez mais no campo da espiritualidade. E se faça aqui uma ressalva, para esse assunto não venha a ser confundido com religião. 

De acordo com Koji Sakamoto, especialista em espiritualidade no âmbito corporativo e autor de livro como: "Prazer em Viver, feliz em servir", lançado pela AçãoSet, didaticamente, podemos afirmar que uma organização que pratica a espiritualidade corporativa possui bem definidas a sua visão e a sua missão como nortes para a gestão, ao passo que procura seguir e praticar fielmente as leis da natureza.

"De maneira natural e imperceptível a algumas pessoas, as mudanças já estão ocorrendo. O mundo está em transição da cultura materialista e egoísta para a espiritualista e altruísta". 

Em entrevista concedida ao RH.com.br, ele assinala os principais benefícios que a espiritualidade gera ao ambiente corporativo e, consequentemente, aos profissionais que buscam um sentido nas atividades que abraçam em suas rotinas laborais. Se você é uma pessoa que está sempre à procura de algo, mas ainda não identificou o que realmente lhe falta, então, esta entrevista proporcionará uma agradável leitura!

RH.com.br - A maioria das pessoas vive uma constante busca por conquistas. Contudo, quando atingem seus objetivos, nem sempre encontram a satisfação que desejavam. Esse sentimento pode estar relacionado à questão da espiritualidade?

Koji Sakamoto - Sim, está relacionado à questão da espiritualidade. Esta questão ainda não está bem clara para a sociedade. Para compreendermos melhor precisamos aceitar que existe outro mundo, um mundo além do material que conhecemos. De acordo com o filósofo japonês Mokiti Okada, falta o mais importante: conhecimento do mundo espiritual. Por exemplo: em tudo existe a forma, a função e a missão. O médico quando termina o curso de graduação, já tem a forma que é a parte legal atendida. Quando ele concorre a uma vaga num hospital e é contratado, ganha a função. No desempenho da função é que poderá ou não cumprir a missão. Quando, na sua atividade profissional, a pessoa consegue cumprir plenamente os três quesitos pode-se dizer que ela conseguiu cumprir a verdadeira missão. Quando cumprimos apenas a forma e a função, mesmo que alcançando um resultado material, isso não gera a autossatisfação porque falta o cumprimento da missão.

RH - Vemos que as empresas demonstram uma preocupação em considerar o indivíduo mais do que um recurso que gere resultados, mas sim um ser singular que precisa de outras necessidades não somente físicas. Em seu entendimento, a espiritualidade deve ser trabalhada nas empresas a partir de que ponto?

Koji Sakamoto - Precisamos, antes de qualquer coisa, partir do pressuposto de que a empresa em várias missões para cumprir e essa missão é concedida por um ser superior, em relação aos pares, aos colaboradores, aos fornecedores, ao governo e principalmente com os parceiros finais. É preciso entender que o ser humano tem espírito e sentimento. Objetivamente esta missão é gerar felicidade para as pessoas, participando da construção de um mundo melhor.

RH - A espiritualidade, no âmbito corporativo, depara-se com obstáculos expressivos? 

Koji Sakamoto - Sim, existem aqueles que podemos considerar como sendo os mais expressivos obstáculos no âmbito corporativo que são: falta de uma definição clara da visão e da missão, por não acreditar ainda que as palavras têm poder e espirito; deficiência em cumprir e acreditar na proposta da visão e da missão, fazendo com que estas cheguem a todos os escalões organizacionais - dos colaboradores até às lideranças; dificuldade de estabelecer um alinhamento dos valores pessoais dos colaboradores com os da empresa; ausência de mais desenvolvimentos e manutenções no próprio cumprimento da missão organizacional.

RH - Esses obstáculos são oriundos da cultura corporativa do Brasil ou se apresenta em outros países, principalmente nos latino-americanos?

Koji Sakamoto - Os mesmos obstáculos que mencionei anteriormente, nós encontramos em países da América Latina, da Europa, da Ásia, ou seja, em todo o mundo. É bom explicar que isso ocorre porque vivemos a cultura materialista e egoísta que se encontra em transição para a cultura espiritualista e altruísta.

RH - Como agir frente a esses mesmos obstáculos, a fim de que a espiritualidade organizacional ganhe raízes cada vez mais fortes?

Koji Sakamoto - De maneira natural e imperceptível as mudanças já estão ocorrendo. O mundo está em transição da cultura materialista e egoísta para a espiritualista e altruísta. Podemos perceber isso nos relacionamentos humanos que ultimamente têm aumentado muito o incentivo para a prática do altruísmo - servir ao próximo sem esperar nada em troca. Nos Estados Unidos, por exemplo, foi lançado um livro inusitado e intitulado "Empresas feitas para servir", de autoria de Dan J. Sander. Este trabalho está totalmente voltado para a prática do servir. A felicidade nunca foi tão divulgada como nos últimos tempos, inclusive fazendo parte de inúmeras campanhas publicitárias como: "Vem ser feliz", "Abra a felicidade", "Lugar de gente feliz" e o "O que você faz para ser feliz?"

RH - Em sua opinião, quais os equívocos mais graves que as empresas cometem quando decidem investir na espiritualidade organizacional?

Koji Sakamoto - O processo de implantação da espiritualidade na empresa é uma conscientização de longo prazo, pois muda profundamente o comportamento do ser humano nos seus relacionamentos. É uma nova fase que está aflorando no seio das empresas, porém a maior dificuldade é a falta de literatura sobre o assunto. Muitos profissionais começaram a escrever sobre o assunto baseados nas teorias de diversas correntes, mas são poucos os livros que conseguem transmitir o verdadeiro sentido da espiritualidade e, principalmente, os resultados obtidos com a prática.

RH - Já que o senhor mencionou que a espiritualidade gera resultados às empresas, quais aqueles que podem ser destacados?

Koji Sakamoto - Com a presença da espiritualidade, o que mais se evidencia no ambiente organizacional é a existência da harmonia, da criatividade, da espontaneidade, da iniciativa e da vontade do ser humano em realizar as suas atribuições como missão e não por obrigação. É importante lembrarmos que o ambiente que gera energia positiva, influência diretamente a qualidade e a produtividade da equipe.

RH - A atuação da área de RH na espiritualidade corporativa é relevante?

Koji Sakamoto - Não só relevante como de suma importância, pois nunca se deu tanta ênfase à formação e ao desenvolvimento do ser humano. Só que nesta fase é importantíssimo considerar não apenas a formação racional e emocional, mas principalmente a espiritual. As empresas que saírem na frente, dentro de mais alguns anos estarão revolucionando a verdadeira missão da área de Recursos Humanos na construção de uma sociedade mais justa, harmônica, saudável e, principalmente, feliz. Hoje as empresas estão buscando melhorar a qualidade e a produtividade de maneira natural, gerando felicidade aos colaboradores e aos seus familiares.

RH - Neste contexto, qual o papel das lideranças frente à espiritualidade?

Koji Sakamoto - O papel da liderança é fundamental para a implantação dessa filosofia nas empresas, através dos seus exemplos. Hoje, a característica do líder é servidora, não impositiva. Os líderes, sem dúvida alguma, serão os multiplicadores das práticas da espiritualidade nas organizações.

RH - Em anos de experiência profissional, qual o fato que mais o marcou e que envolve a espiritualidade nas empresas?

Koji Sakamoto - Destacaria um trabalho especial que foi desenvolvido em uma empresa de economia mista onde a pesquisa do clima revelava os piores indicadores da organização, com um índice em torno de 4.7 pontos e um índice de 4.2 para as lideranças. Após o desenvolvimento da espiritualidade junto à gerência e seus colaboradores, esses números mudaram para 7.2 e 9.4 respectivamente. O resultado continuou positivo nas duas avaliações posteriores, que passaram a ser feitas bienalmente.

RH - Que recado o senhor deixaria aos leitores do RH.com.br, no tocante à questão da espiritualidade organizacional?

Koji Sakamoto - Procurem conhecer e se aprofundar nos assuntos relacionados à espiritualidade na empresa, pois este é o futuro do mundo. Tudo se voltará para o ser humano espiritual.





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