Recifenses com ascendência judaica buscam reconhecimento dentro da religião – Por Rebeca Silva
Na casa do contador Nilton
Campelo e dos três filhos, Hugo, Olavo e Lucas, as regras são duras e a
disciplina é grande.
Eles não comem carne de porco nem alimentos fermentados e
de trigo durante a Páscoa. Toda sexta à noite rezam, cantam músicas em hebraico
e comem em família. No sábado, mais orações.
Com o aparecimento das três
primeiras estrelas no céu eles iniciam um ritual. Uma vela trançada é acesa e a
oração da havdalá é cantada. Ela serve para abençoar o restante da semana e
separar o sagrado (o sábado) do profano (os demais dias da semana).
Os costumes
praticados por eles são judaicos. Mas, oficialmente, eles não são considerados
judeus pelos mais tradicionais e ortodoxos membros da comunidade Judaica
organizada, embora seu filho Olavo tenha estudado o ensino médio na Yeshivá,
uma escola rabínica em Israel.
Chamados de b’nei anussim, em hebraico,
filhos dos “forçados”, eles fazem parte de uma parcela da população recifense
que, ao descobrir uma possível ancestralidade judaica, retornaram à Casa de Israel.
E agora tudo que querem, além de viver como manda a lei religiosa judaica, é
serem reconhecidos. Isso significa ter privilégios, como poder morar em Israel,
poder entrar em qualquer sinagoga e ser enterrado em cemitério judaico.
Para Nilton Campelo, “a sede de judaísmo do retornado é muito maior do que a do judeu que cresceu na religião.” Criado no catolicismo, mas tendo, estranhamente, aos oito anos de idade, se recusado a fazer primeira comunhão, sua inquietação espiritual levou-o a várias outras religiões. Mas nada o satisfazia até ser atraído pelo judaísmo há cerca de 13 anos.
“Procurei um conhecido judeu da cidade e fui parar em uma sinagoga. Na época,
nem desconfiava de minha ancestralidade judaica. Hoje, meus filhos também
seguem”, disse.
Pela lei judaica, o que define um judeu é a linhagem materna. Ou seja, para uma pessoa ser judia, a mãe também tem que ter nascido judia. Embora seja comprovado que houve uma grande contingente de judeus portugueses perseguidos pela inquisição e forçados a se converter ao catolicismo que aportou no Recife na época do descobrimento, a maior dificuldade dos marranos, como também são chamados, é comprovar sua ancestralidade.
Pela lei judaica, o que define um judeu é a linhagem materna. Ou seja, para uma pessoa ser judia, a mãe também tem que ter nascido judia. Embora seja comprovado que houve uma grande contingente de judeus portugueses perseguidos pela inquisição e forçados a se converter ao catolicismo que aportou no Recife na época do descobrimento, a maior dificuldade dos marranos, como também são chamados, é comprovar sua ancestralidade.
Alguns detalhes como o sobrenome
(nomes de árvores e animais, Oliveira e Carvalho, por exemplo, adotados para
despistar os inquisidores) e costumes, como a crença de que apontar estrelas dá
verrugas.
As estrelas servem para iniciar e encerrar o Shabat, contá-las era
perigoso no Século 17, são formas que ajudam a identificá-los. Mas, mesmo
seguindo a tradição e tendo esses sobrenomes, para ser considerado judeu é
preciso passar pela conversão liberal ou ortodoxa.
Ambas são feitas através de um tribunal em que cada caso é avaliado. A diferença entre elas é que o ortodoxo tem “regras mais duras”. Outro problema é que a conversão ortodoxa no Brasil é muito rara e boa parte das comunidades ortodoxas e algumas liberais não aceitam os marranos como judeus.
No início do ano, o rabino moré Gilberto Ventura, da comunidade tradicional e ortodoxa de São Paulo, visitou estados como Pernambuco, Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte e Paraíba, locais para onde migraram muitos judeus durante o Brasil colonial . O intuito foi levar ao conhecimento da comunidade paulista a existência dos marranos nordestinos e tentar diminuir a distância entre eles.
Ambas são feitas através de um tribunal em que cada caso é avaliado. A diferença entre elas é que o ortodoxo tem “regras mais duras”. Outro problema é que a conversão ortodoxa no Brasil é muito rara e boa parte das comunidades ortodoxas e algumas liberais não aceitam os marranos como judeus.
No início do ano, o rabino moré Gilberto Ventura, da comunidade tradicional e ortodoxa de São Paulo, visitou estados como Pernambuco, Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte e Paraíba, locais para onde migraram muitos judeus durante o Brasil colonial . O intuito foi levar ao conhecimento da comunidade paulista a existência dos marranos nordestinos e tentar diminuir a distância entre eles.
Em Pernambuco, acredita-se que há pelo menos 200 pessoas dispostas a viver nos
moldes da Lei Judaica. “Vim saber o nível de cumprimento de cada um e ajudá-los
a se articularem entre si. É muito bonito ver a luta deles de buscar sua raiz”,
afirmou Ventura.
Segundo a coordenadora do núcleo de pesquisa do museu sinagoga Kahal Zur Israel, Tania Kaufman, a comunidade judaica no Recife, em geral, é liberal. Ela destaca que é preciso questionar o conceito.
Segundo a coordenadora do núcleo de pesquisa do museu sinagoga Kahal Zur Israel, Tania Kaufman, a comunidade judaica no Recife, em geral, é liberal. Ela destaca que é preciso questionar o conceito.
“Nos tempos contemporâneos deve-se
continuar achando que judeu é aquele de origem biológica ou é aquele que se
sente judeu? Mas também é preciso viver de acordo com o Antigo Testamento, que
acredita que o messias ainda virá”, pontuou.
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