Retrospectiva 2013: os principais fatos que cercaram a comunidade cristã no último ano - Por Tiago Chagas
O ano que se encerra à meia-noite
de hoje, 31 de dezembro, foi marcante para o público evangélico por conta de
intensas discussões a respeito da liberdade de crença e expressão, embates com
ativistas gays, polêmicas sobre racismo e homofobia que cercaram o pastor Marco
Feliciano (PSC-SP), novela com personagem evangélica, entre outros.
Talvez o evento mais chocante do
ano tenha sido a prisão do pastor Marcos Pereira, líder da igreja Assembleia de
Deus dos Últimos Dias (ADUD), acusado de estuprar fiéis de sua denominação.
Mesmo com pontos obscuros na investigação, como as denúncias de depoimentos
forjados contra Pereira, o pastor foi condenado em primeira instância e está
preso no complexo penitenciário de Bangu, no Rio de Janeiro.
Os holofotes sobre Marco
Feliciano também foram intensos e acusatórios. O pastor da Assembleia de Deus
Catedral do Avivamento e deputado federal virou o centro das atenções políticas
quando foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM)
da Câmara dos Deputados.
Feliciano já era velho adversário
dos ativistas gays, que com sua exposição, passaram a atacá-lo de forma mais
acentuada, repercutindo antigas declarações do pastor sobre homossexualidade, e
acusando-o de racismo, por ter dito certa vez que, na teologia, há uma linha de
pensamento que defende a teoria de que descendentes de Noé, amaldiçoados por
seu patriarca, tinham ido habitar a África.
As declarações, inoportunas para
o canal que Feliciano usou, o Twitter, foram propagadas fora de contexto e se
tornaram combustível para a maior pressão política e social que se tem notícia
de que um único deputado tenha sofrido. Firme, o pastor resistiu ao cargo e ainda
desafiou, em troca de sua renúncia, o Partido dos Trabalhadores, legenda esta
que foi sua maior adversária na CDHM, a retirar os parlamentares João Paulo
Cunha e José Genoíno, condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no
processo do mensalão, da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados.
O mandato de Feliciano à frente
da CDHM terminou com o pastor sendo portador de alto capital político,
convidado por diversos partidos para sair candidato nas eleições de 2014. No
entanto, Marco Feliciano optou por permanecer em sua legenda, o PSC, e tentar a
reeleição na Câmara dos Deputados. Há quem acredite que as urnas reservam aproximadamente 1
milhão de votos para o pastor. A conferir.
As eleições 2014, quando a
presidente Dilma Rousseff (PT) tenta a reeleição, também foi fator importante
para a derrubada do polêmico PLC 122, projeto que tramita há mais de uma década
no Congresso Nacional e que previa, segundo a maioria dos líderes evangélicos
do país, “privilégios para ativistas gays” em detrimento de direitos constitucionais
universais a todos os brasileiros.
Preocupada em manter o apoio de
correntes dentro do meio evangélico, Dilma pediu aos senadores que votassem o
PLC 122 apenas após as eleições. O pedido, acatado pela bancada governista, foi
logo esquecido após a decisão dos senadores de apensar o projeto ao texto do
novo Código Penal, que vem sendo costurado no Senado com a ajuda de renomados
juristas.
Dessa forma, o PLC 122, proposto
pela ex-deputada Iara Bernardi, foi enterrado politicamente. A derrota irritou
um dos principais ativistas gays do Brasil, o deputado federal Jean Wyllys
(PSOL-RJ). Há a possibilidade de que suas propostas retornem em forma de
artigos no novo Código Penal, mas a discussão em torno do tema será extensa e
demorada.
Um dos que mais comemoraram o fim
do PLC 122 foi o pastor Silas Malafaia. Conhecido por seu empenho contra o
projeto, o pastor organizou uma manifestação pacífica em Brasília no dia 05 de
junho, reunindo inúmeros artistas gospel e milhares de fiéis em frente ao
Congresso Nacional, para pedir a preservação da liberdade de expressão,
religiosa, defesa da família e da vida.
Na política, o pastor deu o tom
de sua postura ao expressar-se publicamente contra o PT na esfera federal, e
zombar do partido após o anúncio de Marina Silva como integrante da candidatura
de Eduardo Campos (PSB) ao Palácio do Planalto. À época, o pastor usou o
Twitter para provocar a legenda: “Chora PT”.
No cenário cristão, Malafaia se
viu estampado como um dos cinco líderes religiosos mais ricos do Brasil pela
edição nacional da revista Forbes. O pastor da Assembleia de Deus Vitória em
Cristo (ADVEC) foi apontado como proprietário de uma fortuna de US$ 150
milhões, logo atrás do apóstolo Valdemiro Santiago, que teria patrimônio
equivalente a US$ 220 milhões e do bispo Edir Macedo, proprietário da TV Record
e supostamente de valores que chegariam a US$ 950 milhões.
Completavam a lista
da Forbes o empresário e missionário R. R. Soares, líder da Igreja
Internacional da Graça de Deus e “dono” de US$ 125 milhões; e o casal
Hernandes, da Igreja Renascer em Cristo. Juntos, Estevam e Sonia seriam donos
de aproximadamente US$ 65 milhões.
A fortuna atribuída a Valdemiro
Santiago teria chamado a atenção de outros integrantes da Igreja Mundial do
Poder de Deus e virado protagonista de um escândalo interno na denominação.
Desvios de dízimos e ofertas teriam aberto um rombo nas contas da igreja e
resultado no afastamento do bispo Josival Batista, braço direito do apóstolo e
responsável pelas contas da igreja. Batista foi transferido para Portugal,
enquanto que outros 100 pastores, subordinados a ele, foram afastados de suas
funções.
As dívidas da Igreja Mundial do Poder de Deus teriam
chegado a R$ 21 milhões, e a maior parte do valor seria de aluguéis das programações de emissoras do Grupo Bandeirantes, como o Canal 21 e a própria
Bandeirantes Rede de Televisão. Com a falta de pagamento, a denominação neopentecostal perdeu os horários
que ocupava para sua maior concorrente, a Igreja Universal do Reino de Deus, do
bispo Edir Macedo.
Sem espaço nas principais
emissoras em que veiculava seus cultos, Valdemiro apostou na exposição de sua
imagem, e encontrou guarida no SBT, emissora que há tempos ele sonda para
ocupar a grade de programação nas madrugadas. Embora suas tentativas venham
sendo rechaçadas, Valdemiro ajudou o SBT a derrubar a TV Record, emissora de
seu adversário, bispo Macedo, durante um domingo, quando participou do programa
Domingo Legal. A boa performance rendeu outros dois convites: uma entrevista ao
apresentador Ratinho, seu antigo desafeto, e uma participação no Programa
Silvio Santos, ao lado do homem do baú, que ainda não foi levada ao ar.
O público evangélico viu, em
2013, a Globo mergulhar de cabeça na sua estratégia de buscar aproximação com o
público evangélico. Os executivos da emissora da família Marinho não sabiam, no
entanto, que a piscina era rasa. As empreitadas com o Festival e Troféu
Promessas foram fracassadas. O primeiro, registrou a menor audiência desde que
foi lançado, e o segundo, teve sua festa de premiação cancelada por causa dos
custos.
A maior ambição das Organizações
Globo era substituir a falida Expocristã com sua Feira Internacional Cristã
(FIC), porém a iniciativa também não saiu como esperado, e provavelmente a FIC
não tenha uma segunda edição. A estratégia mais bem sucedida até o momento é a
criação de um núcleo evangélico na novela Amor à Vida, escrita por Walcyr
Carrasco. O sucesso, se o critério de avaliação for a audiência, da personagem
Gina, convertida ao Evangelho, resultou no retorno à trama do personagem
Efigênio, como pastor de uma igreja apresentada pela novela sem caricaturas. As
redes sociais, que antes eram palco de críticas à emissora por conta das
personagens evangélicas caricatas, não registraram protestos contra o folhetim.
No âmbito internacional, temas
como perseguição e intolerância religiosa tem sido manchete nos principais
veículos de informação voltados ao público cristão. Um dos ícones cristãos do
século XX, o evangelista Billy Graham (conhecido por superar barreiras de
perseguição religiosa mundo afora e anunciar o Evangelho), pregou seu último
sermão aos 95 anos em novembro, numa edição da Cruzada Minha Esperança que foi
planejada durante meses por seus auxiliares. Com a saúde debilitada, Graham
esteve internado duas vezes esse ano por conta de problemas respiratórios, e
seu filho caçula, o pastor Franklin, pediu oração por seu pai.
A Igreja Católica assistiu a
eventos inéditos em sua história recente, como a renúncia do papa Bento XVI e a
eleição a pontífice do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, que já havia
sido cotado para o cargo em 2005, durante o conclave que definiu Joseph
Ratzinger como sucessor de João Paulo II.
Carismático, Bergoglio escolheu
ser chamado Francisco, em referência ao religioso que inspira os integrantes
das organizações franciscanas dentro da Igreja Católica, e conquistou a
simpatia do mundo com seu jeito simples e sua mensagem de humildade. A primeira
viagem do novo papa foi ao Brasil, durante a Jornada Mundial da Juventude
(JMJ), que reuniu milhões de católicos no Rio de Janeiro.
Para 2014, as eleições e a
realização da Copa do Mundo no Brasil deverão atrair as atenções para o nosso
país. Movimentos sociais, que entre junho e julho deste ano tomaram as ruas,
com apoio de diversas lideranças cristãs, em protestos contra a corrupção e a
favor de reforma política, prometem voltar à carga durante a realização dos
jogos entre seleções organizados pela Federação Internacional de Futebol
Associado (FIFA) e durante a campanha eleitoral.
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