Pedra sob pedra – Por Alice Melo
Rondônia ganha seu segundo museu
de arqueologia, cujo acervo pode ajudar a entender o povoamento da Amazônia.
Palco do primeiro ciclo de
extração da borracha no norte do país, Ariquemes, cidade de Rondônia, guarda
também no subsolo resquícios de populações que viveram à margem do rio Jamari
entre os séculos XII e XVI.
Até o fim deste ano, 5 mil peças retiradas de 28
sítios arqueológicos e históricos da região, capazes de explicar um pouco
deste passado, ganharão uma nova casa: o Museu de Arqueologia de Ariquemes,
que será abrigado no campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Rondônia (Ifro), custeado pela Canaã Geração de Energia, empresa
que toca as obras da Pequena Central Hidrelétrica Santa Cruz.
Em agosto
passado, funcionários da Canaã desobedeceram a legislação federal de proteção
ambiental e destruíram 5% de um dos sítios enquanto faziam escavações no
terreno. Após firmar acordo compensatório com o Iphan, a empresa tem até
dezembro para entregar o prédio.
“O museu pode ser um dos
polos de arqueologia da Amazônia”, antecipa Danilo Curado, superintendente
substituto do Iphan/RO. Além da construção do prédio e compra de equipamentos e
móveis, o acordo prevê a produção de mil unidades de livro sobre a arqueologia
da região, um guia didático sobre educação patrimonial, assim como a realização
de cursos de Formação Inicial e Continuada para funcionários.
“É obrigação do
empreendedor construir ou dar guarda ao acervo arqueológico retirado de sítios
antes das obras. Como houve danos, há um ônus estipulado pelo Iphan”, explica
Curado. Segundo ele, a estrutura do museu possibilita que a reserva técnica
aumente ao longo dos anos, caso novos sítios sejam descobertos.
O arqueólogo Valdir Schwengber,
que realizou a pesquisa de campo para avaliar a importância dos sítios
encontrados, afirma que “compensar um dano é difícil, pois a perda é
irreversível”, mas acredita que “promover a preservação do patrimônio através
da qualificação de pessoal, bem como formar uma nova geração com consciência
patrimonial” são opções viáveis depois que o estrago já foi feito.
Ele relata
que ainda não se sabe muitos detalhes sobre a vida e os hábitos dos povos
pré-colombianos que viveram nesta parte da Floresta Amazônica no passado, mas
que, a partir da análise do material encontrado, já se pode perceber que “havia
um movimento ocupacional diferente daquele identificado no baixo curso do
Jamari e nas margens do rio Madeira”.
Portanto, a pesquisa deste acervo pode
trazer à tona novas informações sobre as rotas de ocupação da Amazônia.
Se o projeto seguir o calendário
estabelecido, o museu de Ariquemes será o segundo de arqueologia do estado, já
que o da Universidade Federal de Rondônia, em Porto Velho, ainda não saiu do
papel por problemas administrativos da instituição federal. Até o fechamento
desta edição, a Electra Power, a administradora da Canaã Geração de Energia,
não se manifestou sobre os danos ao sítio Jamari.
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