Bispos indonésios preocupados com crescente islamização na ilha das Flores
Os bispos católicos indonésios
mostraram-se hoje preocupados com a islamização das Flores, a única ilha
indonésia maioritariamente cristã, queixando-se do envio de funcionários
públicos que professam o Islão e a edificação de escolas muçulmanas.
O bispo de Ruteng, Hubertus
Leteng, refere que o número de muçulmanos na ilha tem aumentado nos últimos
anos, devido à chegada de funcionários públicos e de homens de negócios que
professam o Islão e devido ao crescente número de escolas islâmicas.
O sistema de educação da
Indonésia, sob responsabilidade do Ministério da Educação e do Ministério dos
Assuntos Religiosos, exige que cada estudante tenha aulas de religião de acordo
com a fé que professa, mesmo que frequente uma escola de outro credo.
A crescente islamização constitui
"um desafio. Talvez seja também uma oportunidade para dar força à nossa
fé. Se não tivermos desafios, ficamos preguiçosos", realça. Questionado sobre se considera
que o governo não protege todas as religiões de igual modo, o bispo de Ruteng respondeu
que, "na prática", a situação "não é tão boa",
classificando de injusta "a distribuição do financiamento para as
escolas".
Já o bispo de Maumere, Gerulfus
Kherubim Pareira, recorda que os muçulmanos, "a maioria na
Indonésia", têm como "sua missão divulgar a religião".
Quanto à proteção das minorias
religiosas, Gerulfus Kherubim Pareira considera que ela existe apenas
"formalmente", até porque o sistema filosófico na base da criação da
Indonésia, a `Pancasila`, promove a tolerância religiosa. No entanto, na
prática, "a influência muçulmana é muito forte atualmente".
O bispo de Larantuca, Franciscus
Kopong Kung, prefere não falar em islamização, mas reconhece que "o número
de muçulmanos está a crescer cada vez mais" e que os grupos radicais
representam um problema para o governo.
"Eu não sei se há algo
escondido por trás", afirma, acrescentando que, ao abrigo do programa
governamental de distribuição de professores e tendo em conta a predominância
de muçulmanos na sociedade (cerca de 87 por cento), também "a
maioria" dos professores que chegam às Flores são muçulmanos.
Apesar da tolerância religiosa
predominante entre os cerca de 237 milhões de indonésios, o Instituto Setara,
de defesa dos direitos humanos, somou em 2012 371 atos de violência religiosa,
um aumento de 25 por cento em relação a 2011.
Segundo o Padre Philip Tule,
especialista em assuntos islâmicos, nas Flores "o diálogo inter-religioso
é baseado na cultura", que abarca "todos os valores e
elementos", e a organização social assenta na posse da terra e na
celebração de rituais, que normalmente unem católicos e muçulmanos.
Ainda que os conflitos nas Flores
sejam principalmente motivados por "disputas de terra", Philip Tule
reconhece que existe "islamofobia", sobretudo desde 1994, em que uma
pessoa foi morta pela população depois de ter partido a hóstia com a mão, um
incidente que tem sido atribuído a um muçulmano, embora o autor fosse
"protestante".
"Não podemos fechar os olhos
ao novo desenvolvimento, com a reforma islâmica em Java, nos países árabes e em
todo o mundo (...) Alguns reformistas islâmicos dizem: `os muçulmanos não
precisam de apreciar a cultura pagã. Tu não deves associar-te com a cultura
local, mas antes envolver-te com a lei islâmica`", diagnostica.
O sacerdote vinca que tem igualmente
proliferado a ideia de que os muçulmanos devem ter as escolas próprias, em vez
de estudarem em estabelecimentos de ensino católicos, mas há locais nas Flores
onde esta postura não agrada aos fiéis da Igreja Católica.
Vários representantes do Catolicismo
nas Flores sublinham que a ilha é um exemplo de diálogo inter-religioso e está
imune à entrada de radicais, mas o especialista lembra que alguns elementos do
grupo radical Frente de Defensores do Islão nasceram aqui.
Nos censos de 2010, na província
de Nusa Tenggara Timur (Ilhas do Sudeste Oriental), onde se incluem as Flores,
Sumba e a parte ocidental da ilha de Timor, entre outras de menor dimensão,
foram contabilizados 2.535.937 católicos, 1.627.157 protestantes e 423.925
muçulmanos, para além de outras minorias.
Fonte: http://www.rtp.pt
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