Muito além do zodíaco – Por Paloma Oliveto
Séculos depois de banida das
universidades, a astrologia ganha curso superior em Brasília: mitologia grega,
ética, filosofia de vida, espiritualidade e matemática são algumas das
disciplinas estudadas.
Os alunos começam a chegar por
volta das 19h45. Apesar da aparência cansada, a maioria vem direto do trabalho,
eles exibem um brilho de curiosidade no olhar. Vão se ajeitando nas carteiras,
enquanto o professor entrega os trabalhos corrigidos. Na lousa branca, o mestre
projeta o conteúdo da aula: um círculo dividido em quadrantes, marcados por
números e símbolos. Trata-se de um mapa astral.
Quatro séculos depois de banida das universidades e relegada à seara do ocultismo, a astrologia volta ao meio acadêmico. Desde o ano passado, uma universidade particular de Brasília, o Uniceub, acolheu a disciplina em sua lista de ofertas. É a única do mundo a ter um curso superior nesse campo. A Federação de Astrologia dos Estados Unidos, a Sociedade Internacional de Pesquisa Astrológica e a Sociedade Astrológica Mundial confirmaram a Encontro Brasília que desconhecem iniciativa semelhante.
Em 2007, a Universidade de Brasília chegou a oferecer, no programa de extensão, uma cadeira de astrologia. Teve o mesmo destino do também finado curso voltado à formação de astrólogos da Universidade Estadual de São Paulo: por pressão dos membros da academia, fechou as portas. Atualmente, a Universidade Candido Mendes, no Rio de Janeiro, ministra um curso de astrologia, com duração de três anos. Contudo, o nível é técnico.
Para entrar no curso de formação oferecido em Brasília, os postulantes a astrólogos precisam ter superior completo ou em andamento, frequentar 360 horas de aulas em quatro semestres, estar dispostos a estudar matemática, fazer pesquisas e pagar 24 parcelas de R$ 495. Por enquanto, são 18 alunos.
O coordenador, Francisco Seabra, astrólogo há 30 anos, acredita que, com o tempo, mais pessoas se interessem. “Estamos fazendo um trabalho de formiga”, diz. Seabra reconhece que o preconceito com a astrologia é grande. Ele chama de hipócritas os que, sem estudá-la, negam a veracidade de uma área que já foi considerada ciência e praticada por médicos, matemáticos, navegadores e astrônomos (hoje, esses últimos entram em desespero quando confundidos com astrólogos). Para Seabra, parte da descrença é culpa de maus profissionais, que denigrem o ofício, seja por charlatanismo, seja por desconhecimento.
Formado em engenharia, o servidor público Alberto de Carvalho Friedman pretende ser um astrólogo de primeira grandeza (o trocadilho é inevitável). No segundo semestre de curso, já faz mapas. “Tenho tido um bom feedback”, garante.
Na
universidade, empenha-se em uma pesquisa de sinastria amorosa. Um dos objetivos
do curso coordenado por Francisco Seabra é realizar estudos que,
estatisticamente, consigam comprovar o potencial dos astros em prever o futuro.
Além da compatibilidade de casais, será investigada a influência astrológica
nas profissões e até na homoafetividade. “Os alunos do curso vão ajudar a
sistematizar a astrologia”, orgulha-se o professor.
São eles que estão realizando as
pesquisas estatísticas cujos resultados Seabra espera poder apresentar como
prova da eficácia da astrologia. “O resultado empírico já temos. O que precisa
é provar estatisticamente.”
Apesar de o mapa ser elaborado por um software, cabe ao astrólogo saber interpretar os cálculos. O aspecto matemático da astrologia fascinou a professora e bióloga Cássia Neves, que é fã de ciências exatas e ocultas.
“Já fiz várias
vezes meu mapa astral como curiosa”, conta. Hoje, a professora afirma que já
consegue entender alguns pontos de sua personalidade e de sua vida, graças ao
estudo dos astros. “Se a lua interfere nas marés e somos 70% de água, como não
interferiria na gente?”, questiona Cássia, que dá aulas de biologia,
matemática, física e química.
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