Patriarcas se preparam para Concílio Ecumênico Ortodoxo
Em Istambul começou uma reunião
de Patriarcas Cristãos Ortodoxos da qual participa o chefe da Igreja Ortodoxa
Russa, Kirill.
O fórum tem por objetivo definir
datas de convocação de um Concílio Ecumênico das Igrejas Orientais esperado já
há mil anos. Lembrando que o último Concílio de Patriarcas Ortodoxos se
realizou em 787 e entrou na histórica como o Segundo Concílio de Niceia.
A iniciativa de realizar o atual
encontro em Istambul foi do dirigente do Patriarcado de Constantinopla,
Bartolomeu. Foi ele que propôs não esperar mais e realizar o Concílio já no ano
que vem, ou seja, em 2015.
Nesta etapa, convém acelerar os preparativos deste
importantíssimo fórum, definir o seu regimento e a agenda, disse, em entrevista
à Voz da Rússia, o chefe do serviço de imprensa do Patriarcado de Moscou,
diácono, Alexander Volkov:
“As questões da eventual agenda
têm causado uma ampla ressonância. Na fase atual, cabe a nós sistematizar e
informar todos os temas e pontos de discussão. Um dos itens básicos, em face da
realidade que vivemos, se refere a ameaças que pairam sobre o Cristianismo no
Oriente Médio e, antes de tudo, na Síria. Serão igualmente examinados outros
assuntos importantes.”
Trata-se, pois, de calendário
Juliano, problemas de unificação de deliberações eclesiásticas e existência de
diásporas ortodoxas no território nos países com a cultura e as tradições
religiosas diferentes. Na maioria dos casos, já se conseguiu ultrapassar controvérsias
e chegar a um consenso.
Algumas outras questões, como, por exemplo, conceder
autonomia a uma ou a outra Igreja, continuam em aberto, sem solução, comenta o
chefe do Departamento de Relações Exteriores do Patriarcado de Moscou,
metropolita Illarion:
“A História da Igreja Ortodoxa
desconhece regras e procedimentos concretos relativos à concessão de autonomia.
Várias Igrejas se tornavam autocéfalas e, por vezes, só ao cabo de décadas tal
autonomia era reconhecida pelo Patriarcado de Constantinopla e outras Igrejas
locais. Além disso, existia uma noção de que uma Igreja poderia representar a
autocefalia de outra. A título de exemplo, se pode citar novamente o
Patriarcado de Constantinopla que, em tempos, concedeu a autonomia às Igrejas
da Grécia, Bulgária e Sérvia. Por outro lado, o Patriarcado de Moscou fez o
mesmo em relação às Igrejas da República Tcheca e da Eslovênia, bem como
relativamente a Igreja Ortodoxa na América. À Ortodoxia polonesa, a autocefalia
foi concedida duas vezes, pela primeira vez, isso foi feito por Constantinopla
e, pela segunda vez, por Moscou. Como se pode ver, havia uma certa confusão
nessa matéria.”
Agora já se chegou ao consenso de
que a autonomia tem de ser concedida por consentimento de todas as Igrejas
Ortodoxas. Resta definir formalidades e determinar quem será primeiro a assinar
o respectivo ato de concessão de autocefalia. Para resolver este problema será
preciso esclarecer as atitudes para com a lista hierárquica oficial de Igrejas,
prossegue o nosso interlocutor:
“Tem-se em vista a sequência
oficial das Igrejas nas listas oficiais. Todos reconhecem os cinco primeiros
lugares ocupados pelas Igrejas dos Patriarcados de Constantinopla, Alexandria,
Antioquia, Jerusalém e Moscou. Mas persistem ainda muitas discrepâncias e
diferenças. Na lista de Constantinopla seguem depois as Igrejas de Sérvia,
Romênia e Bulgária, cabendo a nona posição à Igreja Ortodoxa da Geórgia. Na
lista hierárquica do Patriarcado de Moscou a Igreja georgiana ocupa o sexto
lugar, seguida da Igreja da Sérvia. Nesse ponto, as divergências ainda
existem.”
A primazia eclesiástica também
tem sido objeto de discussões. Em dezembro de 2013, o Sínodo da Igreja Ortodoxa
Russa adotou um documento segundo o qual nenhuma Igreja poderia assumir ou
deter a primazia do poder sobre as outras.
Tal abordagem do problema tem
sido disputada por Istambul. Considera-se que o Patriarcado de Constantinopla,
após a separação da Igreja Católica Romana em 1054, sucedeu-a o primeiro lugar
da lista hierárquica, podendo e devendo, por essa razão, sugerir ou até impor a
sua política às demais Igrejas. Ao que tudo indica, se esta questão não for
resolvida nesse encontro de Patriarcas, o Concílio Ecumênico Ortodoxo será
novamente adiado.
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