Sinais de unidade religiosa no conflito da Ucrânia
Um episódio da revolta
ucraniana que envolveu um judeu que quer manter o anonimato mereceu a atenção
de todo o mundo.
Com uma população de cerca de 45 milhões de
habitantes, a Ucrânia tem como religião predominante o cristianismo
ortodoxo oriental, que se divide em três grupos: a Igreja Ortodoxa Ucraniana,
ligada ao Patriarcado de Moscovo, que é o maior; a Igreja Ortodoxa Ucraniana do
Patriarcado de Kiev e a Igreja Ortodoxa Autocéfala Ucraniana.
Há ainda a Igreja
Greco-Católica Ucraniana de rito oriental, que mantém uma tradição espiritual e
litúrgica semelhante à da ortodoxia oriental, mas está em comunhão com a Igreja
Católica Apostólica Romana e reconhece a primazia do Papa. Há ainda grupos
menores: católicos romanos, protestantes, judeus e muçulmanos.
Na actual crise
ucraniana veio ao de cima o ressentimento com a Rússia que de há muito está
generalizado e a vontade de uma aproximação com a União Europeia. Na presente
emergência que está a criar grandes interrogações quanto ao seu desfecho,
aconteceu a revolução de Maidan que foi executada por um exército organizado à
maneira dos cossacos, uma espécie de cowboys do século XV no imaginário
ucraniano, como escreveu alguém.
O nacionalismo, a democracia directa, o poder
emanado de baixo para cima, o sentido da honra e da seriedade, mas também o
amor pela violência e o ódio ao estrangeiro, tudo isso vem dessa fronteira dos
tempos míticos e define hoje o movimento de Maidan.
Correram o mundo nos últimos dias
algumas fotos de religiosos ortodoxos que em Maidan, na praça da Independência
de Kiev, se apresentavam com as cruzes na mão entre os manifestantes. A Igreja
Greco-Católica da Ucrânia tem-se manifestado a favor dos direitos do povo
contra um regime ditatorial e criminoso.
A unidade religiosa que se
constituiu na praça respeita desta vez aqueles que João Paulo II definiu os
“nossos irmãos maiores” que são os hebreus. Um líder judeu na auto-defesa de
Maidan disse: “no fim do dia, viver neste país valeu a pena, porque vivemos
para ver Maidan”. Com um barrete em vez do Kippah, o jovem podia passar por um
docente de uma “Yeshivah” (uma escola religiosa hebraica). Mas afinal era um
dos líderes da defesa dos manifestantes na rua Hrushevsky (Hrushevskoho).
O religioso que fez o exercício
militar no exército israelita, concluiu que não era possível combater
directamente a iniciativa contra os Berkut em Maidan. Decidiu, pois, a tomar
uma posição defensiva por meio de barricadas. E assim com 200 soldados e
polícias derrubou a “Casa Ucraniana”, onde se encontravam cerca de 1500
manifestantes, resolvendo-se tudo sem a mínima violência.
O interlocutor
explicou a “Vozes da Ucrânia” que teve o apoio de quatro israelitas com uma
experiência de combate como a minha na minha unidade. Como eu, vim para Maidan
para ajudar a evitar que haja perdas humanas não necessárias. À pergunta se
naqueles dias viu elementos de antissemitismo entre os manifestantes, respondeu:
“Não houve nem sequer um exemplo a esta espécie de comportamento. Apresentei-me
sempre como um judeu, e religioso, além de mais. Tenho dezenas de guardas da
resistência georgianos, azérios, arménios e russos que procuram não falar
ucraniano e não fomos intolerantes uns com os outros. Todos foram respeitosos
para com a minha fé, sabem já o que posso e não posso comer, e não há qualquer
hostilidade”.
Cristãos ortodoxos e católicos, hebreus e outros uniram-se na
defesa de uma causa comum, a do patriotismo e da defesa dos direitos humanos.
Fonte: http://www.asbeiras.pt
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