Dom Helder Câmara: ele enfrentou a ditadura com fé e palavra – Por João Paulo Martins
Conheça a história do religioso
brasileiro que foi contra o autoritarismo e viajou pelo mundo para discutir e
expor o regime militar aos estudantes universitários
Dom Helder Câmara pregou sua
crença nas minorias e discutiu o autoritarismo da ditadura militar com
estudantes de diversas universidades pelo mundo.
Enquanto o país iniciava seu mais
controverso e sombrio período da história, naquele fatídico 31 de março de
1964, uma voz que vinha de Pernambuco, do alto escalão da igreja católica, se
fez ouvir pelos quatro cantos do mundo: a do arcebispo de Olinda e Recife, Dom
Helder Pessoa Câmara. Enquanto estudantes, trabalhadores e profissionais da
imprensa, no Brasil, enfrentaram a ditadura militar com armas e sangue, o
religioso, natural de Fortaleza, usou as palavras e a fé na juventude para
confrontar o autoritarismo.
“Se dou pão aos pobres, todos me chamam de santo. Se mostro por que os pobres não têm pão, me chamam de comunista e subversivo”, costumava dizer Dom Helder, que teve diversos pensamentos associados a movimentos partidários. Como um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, ele ajudou a dar visibilidade, organização e estrutura à instituição, que teve importante papel de enfrentamento durante a ditadura militar brasileira.
“Se dou pão aos pobres, todos me chamam de santo. Se mostro por que os pobres não têm pão, me chamam de comunista e subversivo”, costumava dizer Dom Helder, que teve diversos pensamentos associados a movimentos partidários. Como um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, ele ajudou a dar visibilidade, organização e estrutura à instituição, que teve importante papel de enfrentamento durante a ditadura militar brasileira.
“Todo o agir de Dom Helder
tinha por trás um valor maior, que era a promoção da dignidade humana. Num
cenário político controverso, ele defendeu a cidadania”, explica Adenilson
Ferreira de Souza, ex-jesuíta e doutorando em Ciências Políticas na UFMG. Seu
objeto de estudo, claro, é o religioso brasileiro, um dos principais nomes do
país, quando se fala em direitos humanos no século XX.
Com a restrição do espaço político brasileiro após a implantação do Ato Institucional nº 5, o AI-5, em 1968, Dom Helder, por incomodar muito os militares, é considerado pelos agentes do governo um ‘morto-vivo’. Os meios de comunicação não podiam falar sobre ele, nem publicar nada que mencionasse seu nome.
Com a restrição do espaço político brasileiro após a implantação do Ato Institucional nº 5, o AI-5, em 1968, Dom Helder, por incomodar muito os militares, é considerado pelos agentes do governo um ‘morto-vivo’. Os meios de comunicação não podiam falar sobre ele, nem publicar nada que mencionasse seu nome.
O
arcebispo estava proibido até de frequentar as universidades do país. Nesse
momento, ele se volta para o exterior. “Como não podia circular pelo âmbito
acadêmico no Brasil, entre os estudantes, de quem tanto gostava, tomou a sábia
decisão de viajar pelo mundo, para discutir com jovens de grandes
universidades, especialmente em Paris, Alemanha, Estados Unidos, Canadá e
Itália”, diz Adenilson Souza.
Para Dom Helder, os cidadãos menos favorecidos deviam se unir, formando o que chamava de “minorias abraâmicas”, com clara referência bíblica a Abraão, e que tem como preceito a ideia de que em qualquer conjunto de pessoas, ao menos duas são sedentas por justiça e paz.
Para Dom Helder, os cidadãos menos favorecidos deviam se unir, formando o que chamava de “minorias abraâmicas”, com clara referência bíblica a Abraão, e que tem como preceito a ideia de que em qualquer conjunto de pessoas, ao menos duas são sedentas por justiça e paz.
“Ele apostava muito na juventude como
engrenagem primordial da sociedade, e na força dos grupos abraâmicos, capazes
de pensar soluções e enfrentar as arbitrariedades, com uma força parecida com a
da bomba atômica”, completa o doutorando da UFMG.
Foram tantas viagens ao exterior, que o próprio papa Paulo VI, que era amigo de Dom Helder, solicitou que o arcebispo diminuísse o número de palestras internacionais.
Foram tantas viagens ao exterior, que o próprio papa Paulo VI, que era amigo de Dom Helder, solicitou que o arcebispo diminuísse o número de palestras internacionais.
“O sumo pontífice alegou que o representante da cristandade era
o papa e não o colega brasileiro”. Sua forte atuação para divulgar a repressão
política no Brasil lhe rendeu nada menos que quatro indicações ao prêmio Nobel
da paz, nenhum outro brasileiro teve tantas indicações. Além disso, recebeu o
prêmio Martin Luther King, nos Estados Unidos, e se tornou doutor honoris causa
em 32 universidades nacionais e estrangeiras.
Com tamanho reconhecimento, não é à toa que a Companhia de Jesus, ao criar, em 1998, uma escola de direito em Belo Horizonte, a chamou de Escola Superior Dom Helder Câmara.
Com tamanho reconhecimento, não é à toa que a Companhia de Jesus, ao criar, em 1998, uma escola de direito em Belo Horizonte, a chamou de Escola Superior Dom Helder Câmara.
Como consta no site da instituição, no texto que trata de sua
fundação, o ideal da escola “é dar continuidade à prática ético-social, através
de atividades de promoção humana, de defesa dos direitos fundamentais, de
construção feliz e esperançosa da cultura da paz e da justiça”.
O pensamento humanitário de Dom Helder Câmara, tão divulgado mundo afora, é reconhecido também pelas autoridades eclesiásticas. “Ele deixou um legado de coragem, de proximidade e de ajuda aos pobres e sofredores. Seu exemplo ensina que todo cristão deve se comprometer com o exercício da cidadania, buscando sempre o bem comum”, diz Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte. Ele lembra também que, além de advogado do povo, o arcebispo de Olinda e Recife também era um exímio poeta.
Se Dom Helder Câmara estivesse vivo, faleceu em 1999, ele teria apoiado as manifestações populares, que se espalharam pelas ruas do país em 2013, e que são demonstrações práticas de sua ideia de minoria abraâmica. Isso é o que o ex-jesuíta Adenilson Souza também acredita:
O pensamento humanitário de Dom Helder Câmara, tão divulgado mundo afora, é reconhecido também pelas autoridades eclesiásticas. “Ele deixou um legado de coragem, de proximidade e de ajuda aos pobres e sofredores. Seu exemplo ensina que todo cristão deve se comprometer com o exercício da cidadania, buscando sempre o bem comum”, diz Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte. Ele lembra também que, além de advogado do povo, o arcebispo de Olinda e Recife também era um exímio poeta.
Se Dom Helder Câmara estivesse vivo, faleceu em 1999, ele teria apoiado as manifestações populares, que se espalharam pelas ruas do país em 2013, e que são demonstrações práticas de sua ideia de minoria abraâmica. Isso é o que o ex-jesuíta Adenilson Souza também acredita:
“A sua utopia, de aposta nas
minorias, permanece viva. Os grupos organizados, em todas as regiões do mundo,
são capazes de gerar uma força de pressão moral sem precedentes”.
A trajetória do religioso brasileiro no período da ditadura militar não foi tranquila, e, além de enfrentar o poder instituído, também teve de ouvir duras críticas de pensadores e escritores da época, como Nélson Rodrigues e Gilberto Freyre.
A trajetória do religioso brasileiro no período da ditadura militar não foi tranquila, e, além de enfrentar o poder instituído, também teve de ouvir duras críticas de pensadores e escritores da época, como Nélson Rodrigues e Gilberto Freyre.
Eles achavam que o arcebispo estaria deixando de lado a religião e
partindo para uma atuação voltada à propaganda política, e, neste caso, a do
comunismo. A resposta de Dom Helder a todos que lhe combatiam era simples,
porém humana:
“Com todo respeito que merecem os santos, não sou homem de
autoflagelações. Não há penitência melhor do que aquelas que Deus coloca em
nosso caminho".
Fonte: http://sites.uai.com.br
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